ÍNTIMO DO MUNDO GRAÇA FONTIS: PINTURA Manoel Ferreira Neto: POEMA @@@@


Eco límpido, nítido,

Folha de sombra

Que no vagar ondeia

Entre minúsculas luzes de néon.

Estar só

É estar no íntimo do mundo.

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Impetuosos os desígnios que se enovelam

Na neve de branco que escorre nos telhados,

No quarto desnudo

Onde se afundam nevadas azuis,

Nos espelhos esquecidos dos amantes,

No perfume da orquídea no alvorecer

Chorando lágrimas

O vento noctívago.

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Quebrou-se o fio branco e delicado

Dos sonhos de minh´alma desditosa,

Dos ideais de minha vida inquieta

Quebraram-se as contas do terço

Onde tecia as orações,

Rogando misericórdia pelos equívocos

E caíram como pétalas secas

De uma rosa lilás

No fim de uma tarde sombria.

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Se tudo esvaece-se,

Se tudo desaparece,

Se tudo queda ao vento dos Infortúnios,

Se o existir é o sopro

Que nos lábios passa

Celando a ardência das veras preces,

Se a água do rio para o oceano corre,

Se a quimera chora e geme e desfalece,

A vida é assim:

Nada permanece

Na indômita refrega

Que as montanhas abalam,

Os troncos desterram,

O temporal passa,

Ecoando serra a serra.

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Alma! fecunda enfim

Nas lágrimas ardentes que verto,

Possa germinar e florescer

Em versos de um Poema

Entre sons minuciosos

Que inclinam para um recanto

A suma atenção,

E assim estar tão breve,

Tão profundo,

Como no silêncio de uma palmeira

É estar no abismo do tempo

Ou na caverna do ser,

Ou no ápice do sonho,

Ou na alvura de um sono

Que dá a cintilante substância do sítio.

RIO DE JANEIRO(RJ), 30 DE JANEIRO de 2021, 07:34 a.m.

 

 


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