CAPÍTULO XVI - REFLEXÕES SÃO TESTEMUNHOS DA MATURIDADE GRAÇA FONTIS: PINTURA Manoel Ferreira Neto: NOVELA


EPÍGRAFE

 

“Adotar reflexões é o superior testemunho de maturidade,

e existe algumas resoluções que decepam-nos...” (In: EXISTÊNCIA IMÉRITA, Ana Júlia Machado)

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Convenhamos, senhores, por vezes faz-se mister a pujança das ponderações, intempestividades dos pontos de vista para identificar os propósitos, intenções, o que mesmo está em jogo esclarecer. A razão e eu jamais enlaçamos nossas condutas, somos inimigas congênitas, Não espero aplausos, não almejo reconhecimentos, consinto que me atirem pedras. Seria de mim inconseqüência esperar desde hoje ouvidos e mãos para as minhas cogitações: que hoje não se lhes dê ouvidos, que hoje não se queira haurir nada de mim, não é somente compreensível, parece-me justo. Dia virá em que se vai sentir necessidade de ensinar como entendo ser mister viver e ensinar.

 Sine qua non é chafurdar-se nas cogitações que teço, investigá-las, avaliá-las, munido de senso, não subjetivamente, apenas por impulso dos instintos, julgar-me radical. Bem não se ouviu uma fala, desembesta-se por todos os cantos a comentá-la de modo arbitrário, adulterando-lhe todo o sentido real que havia em seu bojo. Para entender é preciso antes elaborar o conhecimento, e isto sei com perfeição é exigir muito nestes tempos engolfados no caos, na alienação, ninguém pensa, ninguém sente, vocifera despautérios, rumina nonsenses. Mesmo assim, sigo de cabeça erguida as críticas à razão, a este mundo de trevas, aos homens sem princípios, às artes perdidas nas ideologias e interesses espúrios, ciências sem responsabilidade com a vida humana, religiões gratuitas.

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Os oradores pertencem à minha seita. Não são súditos mais fiéis, assemelham-se aos filósofos prepotentes de outrora, os modernos inda possuem o senso de que o conhecimento se faz na continuidade do tempo, estão sempre se refazendo, isto após Nietzsche, quem disse “em mim o espírito paira sobre as águas”

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O autor, quem dedicara a Herênio a arte de dizer, inclui-me entre as várias espécies de facécias. Quintiliano, o príncipe dos retóricos, compôs sobre o riso capítulo mais volumoso que a Ilíada de Homero. Conforme estes céleres escritores, tenho eu força maior que a razão, porque, e isto é inconteste, aquilo que não se pode alcançar com nenhum argumento, mesmo que ainda só plausível, se obtém com uma chacota das mais veneráveis. Não desejaria eu, em nome do que quer que fosse, ser quem sou, se a arte de provocar o riso, sobretudo o gênero sátira, com gostosas e amalucadas idéias não fossem exclusivamente minhas.

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Quanto aos escritores que só escrevem para poucos e para ninguém, são de minha parte merecedores de estima inigualável, pois que imersos em profunda reflexão, pensam, tornam a pensar, acrescentam, emendam, cortam, tornam a pôr, burilam, artificiam, refazem, refundam, riscam, consultam, investigam. Tomando de estima excerto de versos da escritora portuguesa Ana Júlia Machado, versos escritos que são luvas perfeitas para os meus testemunhos dos valores da existência:

“Adotar reflexões é o superior testemunho de maturidade,

e existe algumas resoluções que decepam-nos...

Mas nesses instantes somos como boninas, que carecem

ser desbastadas para arrancar fora o que as coíbem de prosperar.

Penaliza, mas é imprescindível. Vai magoar,

mas a existência perfilha.

Pois de um facto o ser possui erudição,

a existência é imerecida e a quem incumbiria

permanecer constantemente ausenta-se.”, digo que estes escritores exultante de prazer, interessa-lhes a sabedoria, o conhecimento, e não a razão que obscurece todos os caminhos, são resoluções que decepam as hipocrisias de quaisquer tempos hodiernos.

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Baixei à terra, e sendo de proba importância para os homens, não posso mais fazer outra coisa senão ser louca; nesse tempo de pusilanimidade sou uma virtude.

RIO DE JANEIRO(RJ), 18 DE JANEIRO DE 2021, 17:52 a.m.  

 

 

 

  

 

 


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