SABEDORIAS E LACUNAS DA NATUREZA E CIÊNCIAS GRAÇA FONTIS: PINTURA Manoel Ferreira Neto: SÁTIRA @@@@


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Inicio rindo poucochito, pois que nas linhas parece que abaixo o nível, entro na piada sem tempero e sal; se o for, afianço que é profunda nas entrelinhas, nas suas intenções fundamentais.

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Rogo aos homens que considerem o fato realíssimo de não terem asas para voar como os pássaros, ou quatro patas como os quadrúpedes, ou fronte armada como os bovinos de chifres; compreendo a cobra não as ter, tendo-as, não sobraria ninguém no mundo, voando , picaria, envenenar-lhes-a a todos no mundo. Agora, longe está de minha ciência a razão de os homens e quadrúpedes não as ter. Sei que lastimam muito a sorte de um equus asinus não terem aprendido a gramática, a linguística, semântica, especialmente as figuras de linguagem e estilo ou de não comerem bem. Não sei se também eu lamento isto. Não me perguntem o motivo. Assim como o equus asinus não é infeliz por ignorar tudo isso, assim também não o é o louco, pois sou mui natural no homem, tanto que se persigna e agradece: "Agradeço cordialmente à loucura por me habitar. De médico e louco temos todos um pouco."

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Dentre todos os animais, sejam quadrúpedes ou bípedes, de qualquer espécie, só o homem aprazera-se, goza do privilégio, dádiva de apreender as artes e as ciências, a fim de fornir com os seus conhecimentos e sabedorias as lacunas da natureza. Como se existisse de verdade sombra em que a natureza previdente e vigilante quanto aos maruís e até quanto as ervas medicinais e daninhas ou aos lírios e orquídeas do campo, fosse olvidar-se apenas do homem, deixando-lhe de doar, oferecer tudo aquilo de que necessita. Oh, que estapafúrdia!

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A ciência e a indústria se chafurdaram no mundo com todas as doenças e pestes da existência humana, tendo sido arquitectada pelos mesmos espíritos que conceberam, deram origem a todos os males, ou seja, pelos demônios, que por sinal tiraram da ciência seu nome. No século de ouro - remontemos aos tempos -, os homens viviam alegres e saltitantes, esbanjavam felicidade por todos os poros, guiados, orientados pela natureza e pelo próprio instinto.. Que serventia teriam naquele tempo a gramática, a linguística, a semântica e as figuras de linguagem e estilo. Havia apenas a linguagem, e, ainda assim, só falava para expressar o pensamento. Não havia qualquer mister de lógica, porque, tendo todos os mesmos raciocínios, as divergências de pontos de vista não provocavam quiproquó, polêmica, discussão. Os mortais eram leais e fiéis religiosos, cantavam aos ventos nada mais crível que a fé na redenção dos pecados, na ressurreição, habitando o reino paradisíaco, desfrutando de suas belezas, razão pela qual não ansiavam por investigar com ímpia curiosidade os enigmas da natureza. Também não lhes passava pela imaginação, fértil ou simples, a arrogante ideia de querer saber o que se acha além dos céus.

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Perfeitamente felizes os homens que, sem terem qualquer relação com as ciências especulativas ou práticas, tem como guia a natureza.

RIO DE JANEIRO(RJ), 11 DE JANEIRO DE 2021, 15:38 p.m.

 

 


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