INERENTE À CRIATIVIDADE É O VERBO DOS SENTIDOS GRAÇA FONTIS: PINTURA Manoel Ferreira Neto: POEMA @@@@



A exuberante realidade das coisas
Das coisas do mundo, das coisas da vida,
Se mudar o adjetivo “exuberante”
Por “indizível”, mudaria muito
O que desejo expressar?
Ambos os adjetivos são peculiares
À idéia de que a realidade delas
Encanta.
@@@
A descoberta que faço
Todos os dias no alvorecer
Por volta das cinco horas da manhã,
Aquando contemplo a natureza,
Ouço os pássaros cantando,
Cada coisa é o que é,
A palmeira na amurada encostada
É a palmeira encostada na amurada,
A fresta entre as galhas de duas árvores
Abrindo espaço para a visão do infinito
É a fresta de galhas de duas árvores,
Eu, no alpendre de minha residência na Ilha,
Sou eu na Ilha, no alpendre de minha residência.
Não é tão simples assim
Dizer a alguém o quanto
Isto me encanta,
Quanto isso me dá prazeres,
Basta para seguir
A jornada diuturna, vespertina, noctívaga.
@@@
Basta existir para o vazio abrir-se ao múltiplo,
Recolher e acolher a multiplicidade das coisas.
Basta existir para ser inteiro.
@@@
Tenho escrito muitos poemas
A pena não se cansa de deslizar
Nas linhas das páginas,
Só a tinta é gasta,
Hei-de escrever mais poemas ainda
Mais e mais... mais e mais...
Desfrutar do fluxo poético
Por que fui inspirado.
@@@
Cada poema de minha autoria
Diz de sentimentos diferentes
A perpassarem-me
São advindos dos interstícios da alma,
Diz ainda dos sonhos do verbo
Criar para revelar o Ser
Todos os poemas possuem
Características diferentes
Porque não sou o mesmo
Passados dois átimos de segundos
Porque cada coisa que há
A amplitude da língua
Revela linguagem e estilo outros.
@@@
Por vezes, ponho-me a contemplar
O cinzeiro sobre a escrivaninha,
Não me ponho a pensar
Se ele sente a qualquer momento
Pode ser objeto de inspiração
Estimo contemplá-lo
Por ser uma coisa
Faço dela lugar para colocar
Tocos de cigarros e cinzas
Gosto dela porque não me pensa,
Porque não me sente,
Não a sou, não me é.
Por vezes, sinto o cheiro agradável da maresia
E penso que só de sentir-lhe
Vale a pena estar no mundo.
Se o que poetiso do cheiro da maresia
Tem algum valor sensorial ou sensitivo
Não sou quem lhe concede este valor,
O valor está nos versos, está na maresia
Tudo isto é independente de meus desejos,
Independente dos sonhos de compor poesia,
Inerente à criatividade é o Verbo dos Sentidos.
RIO DE JANEIRO(RJ), 27 DE JANEIRO DE 2021, 08:55 a.m.

 

Comentários