CAPÍTULO XVIII PRESENTE GENUÍNO DE ALÉM-MAR GRAÇA FONTIS: PINTURA Manoel Ferreira Neto: NOVELA @@@


EPÍGRAFE:

“Sustive os astros

e eram vastíssimos

e eram astros de aparência brumosa

infinidades e portentos

e sua luminosidade era o genuíno

espaço celeste e o imenso misterioso.” (Ana Júlia Machado, In: SUSTIVE)

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Olvidar os astrólogos diria ser falta eminente de consideração a criaturas tão exímias no poder de anunciar o futuro, pois que a elas  o céu serve de biblioteca e os astros servem de livros. São excelentes no entendimento de tudo e revelam o que há-de ser, predizendo maiores prodígios  do que os magos. O mais maravilhoso, a pirâmede de Queóps não o seria tanto, é que tem inda a fortuna de encontrar crédulos de carteirinhas.

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Pensara, elucubrara, espremera a loucura em todos os níveis inteligíveis e ininteligíveis, arrancara devaneios, desvarios, a fim de vociferar, ruminar algo a respeito de seres tão sui generis quanto os astrólogos. Foram tempos longos e difíceis, quase me entreguei à impossibilidade de fazê-lo, assumir o meu limite, mas isto iria ipsis litteris contrariar, contradizer o fato inconteste de que não existe limite para mim, mesmo aquele que professa o meu limite é o inferno, lá os desvarios e devaneios que me são próprios são queimados pelas chamas eternas. Teria de inventar um modo de fazê-lo.

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Diz o ditado popular que quem procura acha. Fora num sonho que a luz acendera. Encontrava-me à beira de uma lagoa – o meu alazão pastava num matagal próximo -, perdida no universo das coisas, aquando vislumbrei na água, através do raio solar que nela incidia, versos de poema e voz que os recitava com tanta sensibilidade, sentimentos profusos arrancados da alma, que senti perpassar-me o corpo calafrio indizível. Senti-me no mais elevado grau da sandice. Aquilo só poderia ser uma dádiva dos horizontes distantes, presente genuíno de além-mar, “das Europa”, como se tem o costume de dizer nestas circunstâncias.

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Lia e ouvi em uníssono a voz recitando, era voz de mulher:

“Sustive os astros

e eram vastíssimos

e eram astros de aparência brumosa

infinidades e portentos

e sua luminosidade era o genuíno

espaço celeste e o imenso misterioso.”

Os versos imergiram na água da lagoa, a voz se calara. O sonho esvaecera.

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O que interpretariam os astrólogos, que mensagem leriam, o que haveria de futurístico? De imaginações férteis como são encontrariam milhares de previsões e outras mais deixariam suspensas para os tempos decifrarem. Mas, o importante mesmo, o que eu interpretei, que mensagem entendi, a astróloga que habita em mim o que compreendera? Predizia a “fonte de minha energia”, ser ela translúcida, converter-se diáfana, minha natureza era “polvilho de sistema estelar”, “círculo descomunal movediço e insano era todos os meus devaneios.”

RIO DE JANEIRO(RJ), 19 DE JANEIRO DE 2021, 23:08 P.M.   

 


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