ALEGRIA DO INSTANTE GRAÇA FONTIS: PINTURA Manoel Ferreira Neto: POEMA @@@@


Numa noite de estrelas mais que cintilantes,

Lua cheia,

Calor infernal, verão de final de janeiro,

Sem quê nem porquê

Veio-me à alma forte e presente

Uma imagem d´A Alegria que Dura um Instante

E lá fui eu pelas estradas da Ilha de Itaoca

Procurar por diamantes,

Só podia pensar em diamantes.

Idéia sem nexto: “Diamantes à beira-mar!”

Só por milagre ou magia

Poderia realizar este delírio.

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Todos os diamantes do mundo

Haviam desaparecido,

Nem existiam em lugar algum da terra,

Foram proibidos

Por riscarem e cortarem o vidro do espelho

Onde os homens refletiam suas faces,

Exceto pelo diamante

Da imagem d´A Dor que é para Sempre,´

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Esta imagem eu próprio

Havia traçado o croqui e pintado,

Tendo-a colocado na tumba

De uma coisa por que nutrira

Sentimentos de amor os mais ternos e carinhosos,

A coisa era uma medalha de bronze,

Cuja imagem era o Templo de Delfos,

Coloquei a imagem suspensa na tumba

Para servir de símbolo do homem

Que sentirá dores irrevogáveis para sempre

Por não mais ser-lhe concedida

A dádiva de saber os mistérios de seu destino.

Tempos imemoriais depois,

Peguei a imagem que havia criado,

Coloquei-a na fornalha da cozinha

De fora – havia a de dentro da casa também –

De minha residência,

Onde minha mãe, aos sábados,

Preparava as quitandas para toda a semana vindoura,

Dei-a ao fogo, tomando uma taça de vinho do Porto.

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Lembrava-me disto,

Enquanto palmilhava o chão de areia,

Curvando-me a todo momento,

Enchendo a mão esquerda de areia,

Investigando se havia diamante.

Noite de muitas labutas

Por realizar o desejo.

Terminei sentado na amurada que circunda

A igrejinha frente ao mar,

Ao alvorecer, nascendo o sol.

A mão vazia, sem uma pedrinha de diamante.

RIO DE JANEIRO(RJ), 31 DE JANEIRO DE 2021

 


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