Sonia Gonçalves ESCRITORA POETISA E CRÍTICA LITERÁRIA COMENTA O AFORISMO Crianças Outra Vez @@@@


Olá Manu... Realmente tudo lindo...Um excelente texto, maravilhosa sua reflexão, acho que é bem isso mesmo... Depois de uma certa idade todos voltam a ser crianças novamente, se o Magnânimo permitir com saúde mental e sabedoria, senão igual criança de fato, inclusive precisando de cuidados dos mais jovens.É a lei da vida, é nossa sina e não adianta espernear.Acho eu que deve ter algo de muito grandioso nisso tudo, é preciso olhar com atenção e ler com a alma acesa e o coração na mão com a inocência duma criança e a sabedoria dum monge ancião.Parabéns meu querido poeta.Se cuida ❤

Sonia Gonçalves

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RESPOSTA AO COMENTÁRIO SUPRA

Mui simples, Soninha Son!... Estou envelhecendo, e a velhice está me fazendo pensar-sentir a vida. Escritores são os primeiros a envelhecer, desde os 60 para nós são reflexões, meditações sobre o tempo que nos resta, e aí nascem outras obras bem diferentes. Beijos nossos, querida!

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CRIANÇAS OUTRA VEZ

GRAÇA FONTIS: PINTURA

Manoel Ferreira Neto: AFORISMO

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A idade...

Há um tempo em que a idade é o centro sine qua non dos pensamentos, reflexões, meditações in totum introspectivas, das preocupações sobre os equívocos e culpas das atitudes obtusas, com o além, se existem ou não o inferno e o reino paradisíaco, o que é compreensível e saudável, alfim é o reconhecimento e o amor à vida, e muito se transforma até a consumação inevitável do fim, este se torna leve e sereno.

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Qual é a idade mais alegre, feliz, agradável? Aquela idade em que a vida são prazeres, ilusões, fantasias, tudo são maravilhas e magias? Nem a língua necessita mover-se, produzir o som da palavra para responder, o pensamento não precisa pensar. É a infância. O que torna as crianças tão especiais, tão alegres, contentes, sobretudo tão amadas, queridas pelos adultos, idosos, pelas pessoas? O que nelas leva a afagá-las no peito, carregá-las no colo, beijá-las com todo afeto? Ao ver estes pequenos ingênuos, até o insensível, o bruto se enternecem e os amparam.

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Qual é a causa? Não diria o ponto de vista ser ausência de senso, reverso, inverso à sensibilidade, outro nível sim de visão, interessante até. A natureza concedeu às crianças certo ar de loucura, por inter-médio do qual obtêm a redução dos castigos por suas pentelhices tolas, por suas mazelas inocentes, dos seus responsáveis e educadores, de seus pais, e se tornam merecedoras de afeição sem fronteiras, do coração dos familiares.

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Existe outra indagação de suma importância: de quem a criança recebe os seus atrativos, quem lhe oferece esta dádiva tão primordial, com tanta benevolência? De mim que sou despirocada, amalucada, sem qualquer senso, de mim que lhe concedo a graça de brincar, divertir, gozar livremente. Desejo com todo ardor que os homens me conceituem, definam, tachem-me de mentirosa, se não for verdade, se for fruto de imaginação fértil que os pubescentes, adolescentes mudam por inteiro de personalidade, caráter logo que principiam a ficarem homens e, orientados pelas contingências e experiências do mundo, entram no infeliz destino da sede de conhecimento, da fome de sabedoria, da carência de espiritualidade. Esvaece-se, esfuma-se aos poucochitos a sua beleza simples, diminui a viveza, as energias, some de vez a candura, acaba por anular-se o natural frescor.

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Ah, sim... Não há duvidar se a reflexão é sincera, arrancada dos recônditos da alma. Quanto mais o homem se distancia, afasta-se de mim, tanto menos desfruta dos bens, das felícias, investindo de tal modo neste sentido específico que logo atingem a fastidiosa, intragável velhice, tão indesejável para si como para todos de quaisquer crenças. Os homens seriam lastimáveis, dignos de dó e pena sem mim na consumação de seus dias. Quando a zopa velhice põe os homens à soleira do túmulo, faço-os de novo meninos, crianças, pentelhos. Os velhos retornam às criancices, voltam a ser crianças outra vez.

RIO DE JANEIRO(RJ), 09 DE JANEIRO DE 2021, 20:32 p.m.

 

 


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