Ana Júlia Machado ESCRITORA POETISA E CRITICA LITERÁRIA ENSAIA ORPHEISTICA E FILOSOFICAMENTE O CAPÍTULO XVI DA NOVELA TESTEMUNHOS INTEMPESTIVOS DA LOUCURA @@@@


No texto do escritor, Manoel Ferreira Neto “REFLEXÕES SÃO TESTEMUNHOS DA MATURIDADE, verbalizou que apoiou-se num escrito meu, a discípula para o Mestre. Para a análise que solicitou-me ao seu texto refiro que fui induzida por artistas de diferentes âmbitos, com peculiar realce para a literatura e as artes plásticas.

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O modernismo, assim, acabou por auxiliar o começo de vanguardas que desenharam o seu oportuno caminho, fomentando um afastamento aterrador com o pretérito e a tradição, perante a tentação do presente e a inquietação do porvir, desfechando trilho, inclusivamente, para a asseveração de novas formas de arte, com notoriedade para o cinema.

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Em Portugal, falar de modernismo é quase o mesmo que falar da Geração de Orpheu e dos irreverentes artistas que abanaram a plácida vida cultural de um país paralisado, sem rota. A locução “É a hora!” com que Fernando Pessoa fecha a obra Mensagem é a advertência categórica para a transformação de protótipo, tanto social, como político ou cultural. De facto, conseguiram-no. Não somente Mário de Sá-Carneiro e Santa Rita Pintor, que viveram pouco tempo, mas particularmente Fernando Pessoa e Almada Negreiros. Basta pensar na linhagem artística destes seres desinquietos e irreverentes, uma vez que a arte em Portugal nunca mais foi a mesma. De todos, porém, o heterónimo pessoano, Álvaro de Campos, foi aquele que deixou uma herança mais magnificente na literatura, pelo seu carácter, pela múltipla despersonalização que preceituou ao seu inventor. Eduardo Lourenço fala mesmo em filhos de Álvaro de Campos quando se refere a uma geração de escritores que determinaram o cenário literário nas décadas seguintes à morte de Fernando Pessoa. Na obra de Álvaro de Campos a sua poética vai tentar delinear um mapa fundamental do ilusório da poesia de Álvaro de Campos, permitindo os seus primordiais aspectos e enredos com o mundo metafórico das imagens, tão benéfico ao delírio, mas igualmente à solidez de um mapa que trilha sendas à indagação de sentidos ecuménicos. Compreender a obra de Campos, através do rasgo das suas imagens, será, logo, uma forma de garantirmos uma postura, ao mesmo tempo, de fantasiador de vocábulos e indagador de termos, associando à procura o inestimável contributo das teorias do ilusório que, como sabemos, compreendem áreas tão diversas como a antropologia, a filosofia ou a psicologia, o que nos engrandecerá muito a nível de erudição, abrindo perspectiva de descoberta, quem sabe, insólitos. Aliás, é a tentativa de indagar novos caminhos à volta da poesia deste poeta modernista, que faz a todos que interessam-se pelas artes, seguir as pisadas da mitocrítica e da mitoanálise, arriscando, assim, entender as várias facetas do poeta-engenheiro, desde o decadente ao transcendente, passando, inevitavelmente, pelo sensacionista. É o tentar entender – se qual o contributo da imaginação alegórica, da vida das imagens, das disposições antropológicas do imaginário, enfim, de um corpus ampliado de contributos científicos na área do ilusório, para a análise da poesia, decifrando, aquilo que poderá ser importante para uma abordagem sistemática da poesia deste heterónimo, tendo em conta, justamente, a mitocrítica , ou seja os fundamentos metodológicos do imaginário, o lado oculto, impenetrável e plurissignificante - palavras ou expressões que possuem mais de um significado ou sentido . A poesia de Álvaro de Campos é muito mais intrincada do que seria de aguardar, porque igualmente aqui se fez sentir o resultado deste heterónimo ter resistido a todos os outros, cultivando, a opostos, a sua despersonalização e simulação. Uma vez que há um fundo ecuménico na simulação deste heterónimo, tornando a sua poesia ainda mais relevante e relevante no cenário de toda a literatura, poder-se-á deduzir, que, com certeza, eram norteadas para uma conspecção íntegra da própria poesia, como indagação ontológica para o sentido da própria palavra, feita ferramenta de pulcritude e de elevação. Pode-se resumir quase tudo, como a descobrir refutações que legitimem os termos oriundos com a reprovação impressa no próprio físico. Avelhentar não poderá jamais cingir-se a isto. Álvaro de Campos soube-o bem, por isso anuiu de um torpor que o fazia dessaber a Realidade e apregoou, com arrogância e pessoalidade, o domínio sublime das Sensações. Facultou realce aos portentos da Humanidade na literatura portuguesa e deixou-se tombar do alto aonde acercou, mas não se estilhaçou. Acertou somente um subterfúgio para resumir a instabilidade humana que forja instrumentos, mas não consegue interpretar o lado sombrio da vida. Amargou para nos dar um sinal do que está por vir. Deu-nos a linguagem, mitificada, do antigamente e do agora, para pronunciarmos ao Fenecimento e pronunciarmos que, afinal, o que interessa é saber que a Vida não é simplesmente um palpitar morfológico, é igualmente uma alma que resplendece como as estrelas, mesmo que ela espedace-se em fragmentos. Aliás, por vezes, é imprescindível sabermos britar para descortinar o sentido das coisas, mesmo que os criadores gracejam de nós.

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O que enuncia no seu texto com teor crítico, sua peculiaridade, o escritor Manoel Ferreira Neto, encaixa perfeitamente neste heterónimo de Fernando Pessoa...o autor termina e que diz tudo com...” digo que estes escritores exultantes de prazer, interessa-lhes a sabedoria, o conhecimento, e não a razão que obscurece todos os caminhos, são resoluções que decepam as hipocrisias de quaisquer tempos hodiernos.

Arriei à terra, e sendo de íntegra ponderação para os homens, não posso mais fazer outra coisa senão ser irracional; nesse tempo de cobardia sou uma virtude."

Ana Júlia Machado

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RESPOSTA À CRÍTICA SUPRA

Afianço, sendo sincero e verdadeiro, verti lágrimas de felicidade e orgulho ao término de sua análise crítica, inestimável Amiga e Companheira das Letras, Aninha Júlia, Ana Júlia Machado. O orgulho não é vão nem mesmo fruto de vaidade, pois se funda na sinceridade da amplitude de sua visão acerca de minha obra em uníssono. Unir-me, aderir-me, comungar-me à LITERATURA PORTUGUESA, ao MODERNISMO PORTUGUÊS, especialmente aos poetas da GERAÇÃO DE ORPHEU, isto engrandece sobremodo, isto eleva aos auspícios, ser eu um escritor e poeta crítico brasileiro, trazendo em seu bojo ligação com os ORPHEÍSTAS, que alegria inominável isto me traz - confesso: é indizível. Jamais pensara ou imaginara que um dia isto me aconteceria. Nestes termos, "from now on", para me utilizar de um expressão inglesa, considero-me um escritor hodierno brasileiro-português.

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Quanto a este Capítulo XVI de minha inédita novela TESTEMUNHOS INTEMPESTIVOS DA LOUCURA, cujo eidos é uma crítica à Razão, ao Racionalismo - aliás, conforme você mesma o afirma, endossando eu, a minha força literária, poética e filosófica assenta-se na visão crítica do mundo, da vida hodierna sustentada na hipocrisia, falsidade, farsa, desrespeito aos valores essenciais, à ética, à moral, à consciência-estética-ética, sobretudo nas mãos de quem se diz poeta e escritor, não o sendo, apenas vaidade e pernosticismo.

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Aquando lera o seu poema EXISTÊNCIA IMÉRITA, sobretudo nos versos que registro como Epígrafe, senti um fogo no peito, era o de que necessitava para imergir mais inda na minha crítica à Razão, os versos eram a voz da Loucura sussurando-me ao pé dos ouvidos. Sem este contributo seu haveria um Vazio indizível no Corpus da Novela. Nada mais conseguiu-me segurar as rédeas, tomei da pena - verdade: em primeira instância, manuscrevo na agenda, depois digito e publico - dando-lhe asas para o voo crítico. Vale frisar, as nossas relações de intercâmbio literário, poético e literário, através das críticas, são responsáveis diretas por me haver tornado escritor brasileiro-português, sobretudo no concernente ao conhecimento de minha obra que você trouxe à tona.

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A obra reunida, a Loucura e eu somos muitíssimos gratos a você, minha querida por tudo. Esta sua crítica está "dos deuses", uma luva nas intenções eidéticas e fundamentais da novela. PARABÉNS.

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Beijos nossos a você, à nossa amada netinha Aninha Ricardo, à nossa família. E mais uma vez, a minha gratidão eterna.

Manoel Ferreira Neto

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CAPÍTULO XVI - REFLEXÕES SÃO TESTEMUNHOS DA MATURIDADE

GRAÇA FONTIS: PINTURA

Manoel Ferreira Neto: NOVELA

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EPÍGRAFE

“Adotar reflexões é o superior testemunho de maturidade,

e existe algumas resoluções que decepam-nos...” (In: EXISTÊNCIA IMÉRITA, Ana Júlia Machado)

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Convenhamos, senhores, por vezes faz-se mister a pujança das ponderações, intempestividades dos pontos de vista para identificar os propósitos, intenções, o que mesmo está em jogo esclarecer. A razão e eu jamais enlaçamos nossas condutas, somos inimigas congênitas, Não espero aplausos, não almejo reconhecimentos, consinto que me atirem pedras. Seria de mim inconseqüência esperar desde hoje ouvidos e mãos para as minhas cogitações: que hoje não se lhes dê ouvidos, que hoje não se queira haurir nada de mim, não é somente compreensível, parece-me justo. Dia virá em que se vai sentir necessidade de ensinar como entendo ser mister viver e ensinar.

Sine qua non é chafurdar-se nas cogitações que teço, investigá-las, avaliá-las, munido de senso, não subjetivamente, apenas por impulso dos instintos, julgar-me radical. Bem não se ouviu uma fala, desembesta-se por todos os cantos a comentá-la de modo arbitrário, adulterando-lhe todo o sentido real que havia em seu bojo. Para entender é preciso antes elaborar o conhecimento, e isto sei com perfeição é exigir muito nestes tempos engolfados no caos, na alienação, ninguém pensa, ninguém sente, vocifera despautérios, rumina nonsenses. Mesmo assim, sigo de cabeça erguida as críticas à razão, a este mundo de trevas, aos homens sem princípios, às artes perdidas nas ideologias e interesses espúrios, ciências sem responsabilidade com a vida humana, religiões gratuitas.

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Os oradores pertencem à minha seita. Não são súditos mais fiéis, assemelham-se aos filósofos prepotentes de outrora, os modernos inda possuem o senso de que o conhecimento se faz na continuidade do tempo, estão sempre se refazendo, isto após Nietzsche, quem disse “em mim o espírito paira sobre as águas”

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O autor, quem dedicara a Herênio a arte de dizer, inclui-me entre as várias espécies de facécias. Quintiliano, o príncipe dos retóricos, compôs sobre o riso capítulo mais volumoso que a Ilíada de Homero. Conforme estes céleres escritores, tenho eu força maior que a razão, porque, e isto é inconteste, aquilo que não se pode alcançar com nenhum argumento, mesmo que ainda só plausível, se obtém com uma chacota das mais veneráveis. Não desejaria eu, em nome do que quer que fosse, ser quem sou, se a arte de provocar o riso, sobretudo o gênero sátira, com gostosas e amalucadas idéias não fossem exclusivamente minhas.

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Quanto aos escritores que só escrevem para poucos e para ninguém, são de minha parte merecedores de estima inigualável, pois que imersos em profunda reflexão, pensam, tornam a pensar, acrescentam, emendam, cortam, tornam a pôr, burilam, artificiam, refazem, refundam, riscam, consultam, investigam. Tomando de estima excerto de versos da escritora portuguesa Ana Júlia Machado, versos escritos que são luvas perfeitas para os meus testemunhos dos valores da existência:

“Adotar reflexões é o superior testemunho de maturidade,

e existe algumas resoluções que decepam-nos...

Mas nesses instantes somos como boninas, que carecem

ser desbastadas para arrancar fora o que as coíbem de prosperar.

Penaliza, mas é imprescindível. Vai magoar,

mas a existência perfilha.

Pois de um facto o ser possui erudição,

a existência é imerecida e a quem incumbiria

permanecer constantemente ausenta-se.”, digo que estes escritores exultante de prazer, interessa-lhes a sabedoria, o conhecimento, e não a razão que obscurece todos os caminhos, são resoluções que decepam as hipocrisias de quaisquer tempos hodiernos.

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Baixei à terra, e sendo de proba importância para os homens, não posso mais fazer outra coisa senão ser louca; nesse tempo de pusilanimidade sou uma virtude.

RIO DE JANEIRO(RJ), 18 DE JANEIRO DE 2021, 17:52 a.m.

 

 


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