SUBLIME LOUVOR ÀS CLÁUSULAS DE MEUS DIAS# GRAÇA FONTIS: PINTURA Manoel Ferreira Neto: AFORISMO
Aforismos regentes regenciando de a-temporais
verbos lacunas de idéias, hiatos de pensamentos, noctívagos instantes
dispersos, sentimentos de solidão e silêncio pre-figurando verdades efêmeras, a
lua é o único brilho con-templado - amor, sinta o romantismo da música
perpassar-lhe o íntimo, pro-jecte idílios ao in-finito.
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Regências aforísticas de in-temporais infinitivos
subjetivando desejos do que há-de embargar das ruínas e dos tempos as falas
baixas dos homens - todavia, é verdade que se me esvai a consciência, a chuva
tamborila nas folhas de tinhorão da chácara. Costumo pensar e sentir nestas
horas de dor crua e má que me rói à natureza as mais íntimas entranhas que é
sublime louvor às cláusulas de meus dias sem as ânsias nem as dúvidas, como
quem se retira tarde de um sarau.
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Cumpre ad-vertir que a verdade só rege a vida por
átimos de segundos, as con-tingências são grandes caprichosas e a história uma
eterna loureira, direi que são elas as que fazem o poeta e o sábio fortes e
doudos, o amor da glória é a coisa mais verdadeiramente humana que há no homem,
e, conseguintemente, a sua mais genuína afeição. Importa mais do que passatempo
e menos do que apostolado: o êxtase aforístico é obra supinamente filosófica,
de uma filosofia desigual, austera, logo sarcástica e cínica , coisa que não
edifica nem destrói, não inflama nem regela... Creio que aprecio mais a
anedota. Vejo-me, ao longe, ascender do chão das turbas, e remontar ao céu,
como uma águia imortal, e não é diante de tão excelso espetáculo que posso
sentir a dor que me punge.
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Que me conste, ainda ninguém relatou o seu próprio
delírio aforístico além da imensa brancura da neblina, fitando a vastidão das
formas selváticas, e tudo escapando à compreensão do olhar, o que parece
espesso é muita vez diáfano. Já agora não se me dá de confessar que sinto umas
tais ou quais cócegas de curiosidade, por saber onde fica a origem dos séculos,
se é tão misteriosa e enigmática como a origem do deserto do Saara.
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Ah trapézio dos meus pecados, trapézios das
concepções abstrusas... Os dias passam, e as águas, e os versos, e os
aforismos, e com eles vai passando também a vida. O mais singular é que, se o
relógio pára, dou-lhe corda, para que não deixe de bater nunca, e eu possa
contar todos os meus instantes perdidos na madrugada, deitado na rede, minha
cadela Paloma dormindo entre as minhas pernas, a cabeça no meu ventre. As
fantasias tumultuam-se dentro em mim, vem umas sobre outras, à semelhança de
beatas evangélicas que se abalroam para ver o pastor ao piano tocando a Nona
Sinfonia de Beethoven.
#riodejaneiro#, 08 de setembro de 2019#
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