E O VENTO LEVOU# GRAÇA FONTIS: PINTURA Manoel Ferreira Neto: POEMA



Versos versados de re-versas razões
Estrofes in-versadas do tempo de sublimes etern-itudes
Rimas re-versadas das esperanças do absoluto
Luzes da ribalta incidindo nos horizontes além dos sonhos
O vazio de ideais tecido e composto de pretéritos
O nada inscrevendo dialéticas no Mausoléu das Utopias...
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Levou-me o vento...
Levou-me as eternidades
Levou-me as etern-itudes
Levou-me as sublim-itudes
Levou-me as náuseas
Levou-me os verbos de sonhos
Levou-me as fin-itudes
Levou-me as esperanças
Levou-me as nostalgias
Levou-me as melancolias
Levou-me as saudades
Levou-me a vida
Levou-me a ec-sistência...
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Versados de re-versas razões, não componho poemas
De sublimes etern-itudes, as palavras mais não cor-respondem, as vozes mais não dizem, expressam, comunicam
Levou-me as metáforas o vento,
Re-versas das esperanças do eterno o vento levou-me as rimas
As linguísticas das paixões desenfreadas o vento levou-me
O estilo carinhoso, terno do amor o vento levou-me.
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Fogo das desilusões,
Fagulhas dos dissabores
Chamas das quimeras...
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De onde pensares a pena do ser
Flutua livre, suave ventinho fá-la baloiçar,
De onde in-vestigar razões, origens,
Preâmbulos das coisas do mundo,
A profundidade é o que se oculta,
É o que se cala,
Esparso nada de tempo,
Tagarelices a partir do gosto interior,
Pelo barulho e o turbilhão das percepções...
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De onde elencar as circunstâncias
Das contradições, contravenções dos princípios,
Nada de vazios pensamentos corroborando
Dúvidas, medos,
De nada as respostas adquiridas
Servem ao desejo inda mais intenso de sentir
A paixão que inunda o espírito...
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Eis-me aqui
Vazio, perscrutando de soslaio com os olhos sem brilho algum
O longínquo de todas as coisas levadas pelo vento
O coração pulsa comedido - o vento levou-me sentimentos, emoções
Minh´alma jornadeia perdida pelos bosques inóspitos
Sem desejos, sem vontades, sem quaisquer fantasias.
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O vento levou-me os filhos, trilham seus destinos livres,
Por que iríamos precisar um do outro?
O vento levou-me a liberdade, levou-me a escravidão
Ainda não levou-me o corpo
O crepúsculo está chegando, entregarei o corpo à terra,
Havia um pé de jabuticaba ao lado de uma sepultura,
Quem chupava o fruto delicioso?,
Serviu-lhe de húmus os restos mortais
Não haverá mais vento para levar-me as coisas.
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O vento me não levou as metafísicas do belo
As psicanálises da fuga e da liberdade, e da beleza,
As exegeses da cáritas, de Kairos,
Que, por vezes, devaneiam entre as con-tingências e a criatividade,
Não é o devaneio a potência afetiva onde
Se encontra o segredo, o mistério, o enigma
Onde a arte se encontra eivada de todas as dimensões
Sensíveis, intelectuais, espirituais,
O leitmotiv dos poetas?,
Imagino sejam sendas da floresta,
Levo-as ao fim do arco-íris,
Onde se eivam, alimentam-se, nutrem-se de mais inspirações
Para tecerem o sublime.
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O vento me não levou as erudições da liberdade de ser Criação
Com elas delineio as tessituras e tecituras da vontade da Arte
Exalar o perfume inebriante das verdades imperfeitas
Abrindo os leques para outros mergulhos e in-vestig-ações.
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O vento me não levou o Amor
Nas suas asas aforismo sentimentos, emoções, cáritas,
Visualizo as imagens, panoramas, paisagens do infinito
Tornadas pinturas, esculturas, caricaturas,
Que extasiam a alma de mais sonhos e esperanças.
O crepúsculo chegou, o sol com seus raios amenos
Presenteia de beleza e esplendor o mar, os morros,
Metafísicas, erudições o vento não leva
Criam-se, re-criam-se, inventam-se, reinventam-se.
Tempo de curtir o entardecer, o anoitecer...
A lareira, o fogo, a observação das chamas,
As achas de madeira tornando-se cinzas,
Cotovelos sobre os joelhos, mãos amparando o queixo,
Observando...
Observando...
Observando...
Eterno...


#riodejaneiro#, 01 de setembro de 2019#

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