#SOUBESSE A SABEDORIA DE SABER# GRAÇA FONTIS: PINTURA Manoel Ferreira Neto: POEMA



Epígrafe:
"... a paz de espírito é apenas um mal entendido..."(Nietzsche)
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Soubesse o nada das virtudes
Elencaria as dimensões do prazer
De sentir o efêmero esvair-se no tempo
De con-#templ#-orar o passageiro dissolver-se nos segundos,
De pensar o eterno sob o vento suave das verdades,
Verdades dos sentimentos que tecem as teias do sublime,
Verdades das idéias que artificiam o destino,
Verdades dos desejos que artificiam, fabricam sonhos...
Assim, sento-me à orla radiante, mas também sombria,
Circunspecta, tentando arrancar palavras do coração,
Quem sabe do destino longe das ladeiras
Mal calçadas onde os pés sentem as dores da vida
Na totalização evidente de minhas fraquezas
Num rogo alegre por alguma sorte que sacoleje
O Ego
Estreito e tão sombrio.
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Soubesse o sabor de nada
Degustar-lhe-ia o não-existir
De sentimentos inconscientes,
De emoções inexpressíveis,
De sensações latentes...
Saboreio do nada os pensamentos, idéias
Que delineiam as contingências com a sabedoria
Da solidão, do silêncio
Que são húmus e sêmens da verdade
Inda que efêmera;
Saboreio do nada o paladar de fantasias
E das quimeras que nelas residem
Artificio com perspicácia e uma gotícula de ilusão
A continuidade do tempo...
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Soubesse as travessias do não-ser às nonadas
Trilharia os caminhos de ziguezague do bosque
Isento ipsis litteris de perquirições do além,
Questionamentos do belo habitando os interstícios
Da alma nos instantes de desolação e tristezas,
Ao escapar-me de olhares vários ou do pavor
Contido de mistérios, quiçá apenas apetrechos simbólicos
Ou aleijões desenhados pela visão distorcida dos fatos,
Quando muito registro mal feito da realidade
Espesso véu a encobrir o rosto pasmo de medo,
Medo in-inteligível de ilusões fáceis de alumbrar
Medo in-explicável de certezas que anestesiam as dúvidas,
Que angustiam, desesperam, entristecem,
Medo in-audito do jamais à soleira da eternidade;
Palmilharia a grama viçosa da terra-mãe,
Passos comedidos, sentindo-lhe as energias
E sentindo o sentido em mim vindos de longos anos
A sorte desordenada e verdades que se ajustam
Às coisas e prioridades...
Ah!... Quê audaz aventura!
Até os gestos inquietos e desconcertantes nesses olhos
De enigmas opacos,
Porém lúcidos e agudos ao revelarem o clamor desse corpo
Em instantes de arrepios ao sensibilizarem
Precariamente glórias por alguns instantes
Neste espaço em que as palmeiras ocupam
Nesta vida assimétrica, corrida contra o tempo
No abstrato cego sentido
Porém trépido já neste momento.
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Soubesse as delícias do vazio
Alimentar-lhes-ia com a volúpia e prazer
De quem satisfaz ipsis verbis as carências,
Ausência de ser...
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Soubesse a sabedoria de saber que nada sei
Saberia verbalizar as sombras das ausências
As brumas das faltas e falhas, verbos defectivos
De princípios que pro-jectam regências indiretas
A transparecerem as atitudes conjugadas à ética,
Espírito da Vida,
Alma das Contingências...
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Nada sei do nada,
Nada sei do vazio,
Nada sei da travessia,
Nada sei da sabedoria,
O que é isto - saber?
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Olho a cintilância dos raios sobre as águas do mar,
Sob o sopro do vento, ondas deslizando livres,
Vislumbro à distância montanhas
Porventura não seja este estado almático
O re-colhimento e a-colhimento do sentido
Cego das metafísicas
Do som ritmado de ondas
Da luz melodiada de espectros
Da palavra musicalizada de verdades intemporais?
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E nessas efusivantes palavras
Numa longitude em que o passado e o futuro
Bebem da flor primitiva o néctar da sabedoria
Empatizando aí um deslumbre verdadeiro
Complementando a sombra que em mim existe
De imperfeições, mas que na sublimidade alcança
O superego, ao visionar barcos a trafegarem na
Sinuosidade das tímidas ondas do mar primitivo
De muitas constelações testemunharem pretéritos,
Presentes que ainda testificarão no silêncio
Todas as coisas na mudez dos tempos remotos.
#riodejaneiro#, 11 de setembro de 2019#

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