MOÇAS-MEMÓRIAS NA POÇA DOS OLHOS# GRAÇA FONTIS: PINTURA Manoel Ferreira Neto: PROSA



Há tanta leveza na palavra! No breve ato de sonolência, gesto pleno de calor e arte o humano desejo esculpe. Desfeita a fronteira do real, no sono dentro da pupila, visão noturna do inefável neste olhar feito de sonho, no con-templar feito de querências, na in-sônia perscrutando a noite.
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Ainda que os passos sejam vacilantes nessa tentativa de entrelaçar linhas e entre-linhas, imagens e perspectivas, a pintura, nesta trilha, escrevo rastros da história, passos da memória, marcas do ser à busca de outros uni-versos gerados no ventre do desafio, no peito, no seio de precursoras idéias e sentimentos, nos interstícios primevos dos desejos e querências dos valores eternos, das virtudes imortais, e mesmo entre-vejo dimensões transcendentes que me não são dadas descrever, transcendem a razão e a sensibilidade.
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Nada mais resta quando vemos um genial mestre esvoaçar como borboleta diante de qualquer indivíduo "de propósito deliberado vestir mal", mais deliberadamente mal vestido que Rousseau quem se despiu da parte debaixo para poder se vestir na parte de cima, enquanto que Goethe se teria vestido embaixo e desnudado em cima. Desígnios do nada vazio de perspectivas e sombras convidam, convite solene e nobre, a pensar e perquirir os instantes-já do verbo e dos ventos, quando os verbos do conhecimento conjugam os preâmbulos aquém das esperanças de sonhos faiscantes, indícios da ausência de cor-agem e ideais, que alucinante contra-dicção!
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Quanta força existe no ideal de sonhar! Seria ou não seria que alguém pudesse estabelecer ou instituir esta força no dinâmico percurso de cada época, da História?
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Ritmo de músicas transcende a vida e a morte, prospectivando antíteses e antinomias
da verdade e da in-verdade,
regendo linguagens do dito,
estilo do intuído,
interdito estilo da saudade e melancolia,
querência e ilusões do ter sido
no ambíguo ato de jogar sobre a mesa,
na dubiedade dos lances,
de tripúdio e engenho da arte,
as leis naturais do sentido e significado,
na paradoxa idéia de fazer ouvir uma voz,
não importando de que boca proviesse,
contando que evidenciasse todos os caracteres
da espécie sábia,
e que saísse desses templos
onde tem a infalibilidade tradicional do gosto...
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Magnífico retrato dos sentimentos comungados à poiésis da metafísica, às idéias re-colhidas e a-colhidas nos horizontes pretéritos das experiências, nas errâncias dos projectos, aos sonhos e utopias do belo contingente, da beleza transcendente, no silêncio eloquente da floresta silvestre, na solidão deslumbrante do bosque perdido, con-templar as águas brancas do Infinito no seio des-encarnado de senso, contra-senso, comungar linhas e entre-linhas nas além-linhas do orgasmo, da magia.
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Houvesse versar as miríades das intuições, percepções, sensibilidade que per-cursam a luz, de-cursam o brilho das imagens semânticas do ipsis da prosa ao litteris da alma, do verbis do engenho ao ipsis do espírito, desejando o rosto das infini-itudes dos desejos e vontades, ser a efígie de um rosto de contingências da alma e nelas habitando a expressão do verbo do espírito, hoje estivera dobrareando as páginas ensimesmadas, en-si mesmadas, pálidos crepúsculos no alvorecer da ilha, ouvindo um trinar de pássaro lindo, tecendo de letras o tapete silvestre em direção ao infinito, ao que trans-cende o esplendor da liberdade de ser quem faço de mim, a mim possa gerar.
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Sentimento lúdico do ontem,
do hoje, e,
trazendo o amanhã a participar
desse jogo de idéias do tempo
que ora se apresenta no eu-poético,
despreocupadamente,
a impor-me estado ímpar de felicidade.
Dessa forma,
minh´alma sente a leveza da liberdade
daqueles que não levam considerar o
Tempo com tanto rigor,
História com tanta solidariedade e compaixão.
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Seria que ou não seria que fora da terra, longe dos olhos, perto do coração, dentro da língua a jorrar livremente as melancolias da bandeira da loucura, e da pirataria, o que zanza no céu é uma lua tonta com tantas lembranças dobrando esquinas, nos becos, nas alamedas, avenidas e ruas, “no fundo azul na noite da floresta/a lua iluminou a dança, a roda, a festa...”, recordações contornando curvas, entornando soluços nas encruzilhadas, saudades perpassando as redes no seu balanço nas varandas da carência de encontro com a palavra do verbo de compl-etudes.
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Fora da terra,
ausente de mim,
o que tropeça no
céu é uma lua atônita
com íntimos passos em
volta da pracinha de
fonte luminosa e moças-memórias
na poça dos olhos,
jogando côdeas de pão aos pombos.
Por que esta paixão de amor
tomou-me por inteiro?
Fora da terra,
explodindo em mim,
o que desmorona no céu
é uma lua em pane
cavando meu peito com seus clarões.
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Sossegado e bem tranqüilo, entre a dispersão e evasão, o silêncio auscultativo da alma escuta o silêncio eloquente da alma, ouve a algazarra da solidão e carência, ouve o burburinho das palavras, re-velando ingenuidades e fantasias, regendo as linguagens do dito e inter-dito, a geração do incognoscível, no belo encarnado de poesia, no feio des-encarnado de senso e contra-senso.


#riodejaneiro#, 27 de setembro de 2019#

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