#CURVAS DE NADA NO SILÊNCIO DOS VENTOS# GRAÇA FONTIS: PINTURA Manoel Ferreira Neto: PROSA POÉTICA



Retornarei mais tarde, quando este imenso céu for aberto para que desçam os espíritos da existência nova. A descrição da vida não vale a sensação da vida, tê-la-ei prodigiosa? O seio de Abraão das Velhas Escrituras não é senão esse mundo ulterior e perfeito.
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Se amanhã houvesse de recitar versos e estrofes das utopias do belo e eterno que extasiam, impulsionam a caminhada na metafísica de poeiras da estrada, entrelaçada aos quiproquós do sujeito e do objeto, incentivam a re-criar e criar outros horizontes em cujos cernes esplendem desejos e vontades das perfect-itudes, verdades,
inspiram a in-ventar e re-in-ventar
as esperanças das sublim-itudes
do perpétuo, sin-cronia, sin-tonia,
harmonia do efêmero e nada,
correspondência entre náuseas e
vazios,
o peito em estado de glória,
euforia com a alegria de as
nonadas intersticiarem os recônditos
baldios da alma,
absurdos e absolutos,
instantes-limites perpassando as
ausências e faltas do ser,
sem quaisquer dogmas, preceitos,
valores e virtudes,
simplesmente a jornada de estar no
mundo circundado,
circunvagado de manque d´êtres,
florclusions...
abismo e solidão plenos...
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.... hoje não comporia poema para tudo
isso re-velar,
alfim são merecedoras de ternura,
carinho, em suma, amor em todas
as suas dimensões,
e serem registradas para re-velarem
esta condição do homem no mundo é
des-respeitá-las, a vida sem sentido
e significado isto é com quem a vive,
com quem blefa, tripudia com as
circunstâncias e situações,
trafulha com as moléstias psíquicas,
mauvaises-foi, fugas, covardias,
incapacidades de debulhar o terço
das buscas e desejos do eterno
apesar do efêmero que vai acompanhar
por sempre,
a metáfora do século XXI será cacófato do XXII,
e este, o vício de linguagem do XXIII,
mas eterno porque nas trevas
a luz se a-nuncia, vice-versa,
inicialmente deixaria aproximarem-se,
coisas desconhecidas, estranhas, esquisitas,
novas de todo tipo,
com hostil tranquilidade,
manteria as portas abertas,
servilmente prostrar-me-ia ante
cada pequenino fato,
estar sempre disposto a mergulhar
nos outros e em outras coisas,
em suma,
a "objetividade moderna"...
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Se amanhã houvesse de acender
vela na janela, do lado de fora,
começando, assim,
ritual para o alvorecer ser feliz,
para a felicidade ser plena
no espírito do verbo sonhar...
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... hoje com todas as letras em riste
diria ter estado louco, varrido, doido de pedra, pois que homem algum é vocacionado à plen-itude de felicidade, não saberia con-viver com ela, vomitaria os bofes, náusea absoluta, dores e sofrimentos lhes são inerentes. Aí o incólume e insofismável questionamento : "Por que a busca desatada da verdade, se as in-verdades são eidos de minh´alma? Não seria de bom tom viver as in-verdades com grande amor e paixão?" Quê tristeza: impossível para a felicidade plena, impossível para as in-verdades perenes.
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Se amanhã houvesse de estar sentado nas profundezas do oceano do mundo revisando contas sem parar, embora pouco visse dos oceanos, a não ser de relance quando subia rapidamente no topo da serra, deveria ser
hoje momento tranquilo,
pouco antes do fim
e tendo repassado a
última conta,
teria tempo para fazer
rápida excursão pelos mares.
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Simplesmente com este devaneio - ou seria melhor "desvario", há um quê de moléstia psíquica nestas considerações circunspectas- de amanhã houvesse de acender vela no canto da janela, princípio de ritual para a felicidade ser perene, cobrir-me-ia de nostalgias, melancolias, saudades de pretéritos e passados, idílios, quimeras, fantasias de gerúndios e infinitivos do vazio, mas não me trans-portaria, trans-elevaria, trans-cenderia ao amanhã, alfim o amanhã é elucubração, rima pobre de soneto saudando o vira-a-ser, o ser-a-vir só se me re-vela no instante-limite de aqui-e-agora, só me vejo sendo o outro de mim na consciência e sabedoria do que estou sendo.
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O verbo do presente ilumina-me, numina-me para outros efêmeros que re-velarão eidos, essência, cerne do vazio, e só este pode re-colher, a-colher o múltiplo, absoluto, divino, que nada mais são que húmus para outras contemplações do há-de ser.
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Se amanhã houvesse de me redimir dos pecados capitais da carne e ossos, por haverem interferido nas sorrelfas do bem e do mal, tergi-versado de prazeres e gozos, fazendo de mim unicamente instinto, jogando-me no beco sem saídas das coisas fúteis e fortuitas,
na madrugada de ontem para hoje,
ter-se-ia sido angustiante,
não teria dormido um instante sequer,
pesar-me-ia a consciência,
sentir-me-ia o mais vil da laia humana.
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Se em consequência de amanhã houvesse de,
haveria de hoje enfiar o rabo entre as pernas,
seguir o meu itinerário de cabeça baixa,
preferiria o passado de ontem,
ontem de quaisquer ontens,
pois que nada disso se me re-velou,
se me a-nunciou.
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Era livre e não sabia, a liberdade estava nas minhas mãos e não a conhecia.


#riodejaneiro#, 29 de setembro de 2019#

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