NA FLORAÇÃO DOS SONHOS MAIS ÍNTIMOS# GRAÇA FONTIS: PINTURA Manoel Ferreira Neto: PROSA SATÍRICA



E a Companheira das Artes, Esposa, Graça Fontis, perguntou-me o que é isto - "por fogo na magia da vida"?
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Fonte de um nasc-ente misticismo. Aceitar a vastidão do que não conhecia eu, chamas e devaneios - para mim, aceitar requeria conhecer inda que poucochinho uma coisa. Eu que sempre temi o escuro, medo inestimável, indescritível, não me embrenharia no desconhecido. E nada conhecia dessa vastidão, ultrapassava a intuição, a percepção. A vastidão me confiava toda, com segredos de confessionário.
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A verdade se torna, ou deveria dizer conforme os silêncios e sombras de minha instintiv-idade, cujos silêncios íntimos nada são senão algo que impulsiona, relinchando no ser ásnico de mim, a verdade se mostra e se torna...
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Estava permanentemente ocupado em querer e não querer ser o que era, não me decidia por qual de mim, todo eu por inteiro é que não podia. Ter nascido era cheio de erros a corrigir, de equívocos a desfazer, de enganos a restaurar, de pitis a re-considerar a contradição entre a dor sentida e a imagem sentida da dor, re-considerar e re-levar, conforme os sentimentos que no fundo deles mesmos são. Mais fácil não ter nascido - por que a vida e não o nada? Tomava intuitivo cuidado com o que eu era, que não sabia o que era, com vaidade e muito orgulho cultivava a integridade da ignorância.
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Quando, mais tarde, isto de querer e não querer ser o que era reverteu-se em memória e deflagrou sentimentos metafísicos no que me habitava, saber o que era e o que não era era imprescindível, era parte do sujeito, pois as aparências tem sua necessária contraparte de realidade, muitas metafísicas teriam necessidade de um douto ou sábio para serem entendidas plenamente. Houvera pensado com percuciência ser mister #acender o fogo das quimeras#, fazer a tentativa de apreender, de excelência a finesse, acender o valor da vida, as chamas revelarem as trilhas a serem pensadas e realizadas Quem o douto? quem o sábio para mas tornar inteligíveis, para mas tornar compreensíveis? O douto e/ou o sábio seriam/seria os caminhos do campo, mesclados de desejos, sonhos, esperanças, utopias - e pensava que não se decifra as metafísicas, não se lhes torna inteligíveis e racionais, vive-se-lhes, patenteia a vida com elas, diria ser a bússola para o encontro do Ser.
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Outras anunciações de luzes, sons e palavras, traços, imagens, pintura, e toda u´a luz e sombra a ser vista e sentida no âmago, o alimento que clamo, rogo e arrogo aos deuses mais profundos de meus instintos e olhares de esguelha para as coisas antes e enquanto acontecendo, depois de acontecidas e as perquirições do sentido e significado, símbolos, e dentro destes a id-ent-idade de outras, digamos, tonalidades de toques e mãos, estrelas e o universo a cobri-lhes de luz e raios, os sons criados e inventados, ouvidos, auscultados, escutados sob as palavras que enfeitam e deslumbram esta metáfora, para não dizerem os humanos que não acendera eu o pavio com a chama do escárnio minuto sequer na questão de minhas criações e relinchos sobre o nada que me habita. Sem o jegue, o homem seria um erro à esquerda. Tão simples assim.
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O que é isto - deixar de lado, desconhecer os caminhos da roça, caminhos que todos trilham, seguir o próprio caminho. Abrem-se todas as palavras do ser: todo o ser quer tornar-se palavra, todo o devir quer que lhe ensine a falar. Na jornada que desferem, silentes e melancólicas, rumo da eternidade, eles apenas res-pondem (se acaso é res-ponder a mistérios, enigmas, segredos), "somar-lhes um mistério mais alto: amar, depois de perder". Perdeu-se-me a integridade da ignorância, mister querer ser o que era, o amor pelos caminhos do campo iluminou as sendas e veredas. Amor é rir a um título de livro que brilha.
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O que seduz para além da estesia é fonte de misticismo, os prazeres criam raízes, o que é obscuro no olhar encontra explicação, o espírito floresce na floração dos sonhos mais íntimos.


#riodejaneiro#, 04 de setembro de 2019#

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