**PEREGRINO DAS PALAVRAS** - PINTURA: Graça Fontis/POEMA: Manoel Ferreira Neto


“...Uma pedra na calçada./Um mendigo sem ponto./O pão na bandeja./Um andarilho no muro...” poderá ser trocada por Uma folha cai da árvore./Um urubu faz acrobacias no espaço./As gotas de água tic taqueiam com o relógio./Um passarinho alegre chora sua cantiga."
Assim, escreve o professor Custódio José de Oliveira no Prefácio, Primeira Edição, de Grito Antigo.
Poderia ser sentida;
O cigarro entre os dedos,
Boêmio sem destino,
Um noctívago inscreve
No tronco da palmeira,
Palavras à solta,
Ventos espalham as águas
À luz do sol que nasce
Atrás da montanha...
Pintassilgo entoa seu trino
Pousado na galha de uma árvore..."
A elasticidade das palavras, com que o poeta Paulo Ursine Krettli tece as linguísticas, semânticas, metáforas, sin-estesias, na memória de vivências, experiências, fazendo-nos os seus leitores viajarem/viajarmos nos próprios sonhos, re-cordações de instantes distantes, mas bem próximas as suas luzes, o leitor sente a sensibilidade das lembranças, viaja nos seus desejos, vontades, utopias, o poeta não o disse ainda, mas vagabundeou pelas alamedas e becos, criando outras ilusões, expressando-as tão livremente.
Assim o poeta toca o íntimo de seus leitores, faz-lhes lembrar instantes vividos na vida, sentir-lhes profundo, recorda-me dizendo ele "o leitor tem de sentir o silêncio das palavras tocando-lhes..." Todas as trocas poderiam ser realizadas, realizadas por quem lê versos de águas límpidas que perpetuam, eternizam... Ursinianas imagens da infância, do poeta que nasce nas margens do rio de Araçuai, um peregrino das palavras feitas sentimentos, emoções, feitas luzes e vozes, que goteja pingos de orvalhos, o viajante da poesia que verbaliza a sensibilidade, a subjetividade das utopias.
Nas linhas ursinianas, a espiritualidade que se faz na poesia da vida.
GRITO ANTIGO



(**RIO DE JANEIRO**, 26 DE FEVEREIRO DE 2017)


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