**BURGUESIA** - IN "DIVÃ EXISTENCIAL" - 29 DE JUNHO A 03 DE JULHO DE 1989** - PINTURA: Graça Fontis/POEMA: Manoel Ferreira Neto


A carne fresca e destoante
não identifica o calor humano,
resvala o instinto na linha da iniquidade.
Lamentável uma beleza sem essência
(apenas a máscara a encobrir o nauseabundo).
A natureza a servir de apoio
do tempo
(medo da velhice mais substancial).



Miríades ondulantes de sêmen
sem vida, sem essência,
a molhar o entrepernas.
Rumina a voz esganiçada
da falsidade,
da farsa.
Entreabre-se a emoção mascarada
da superficialidade.
Ilumina a escuridão mais profunda
nos olhos do requinte.
Refestela o sentimento mentiroso
nas bordas das palavras
em gozo, em clímax.



Adultera a verdade
no simples toque dos olhos.
Morre a esperança,
anula-se a felicidade;
rui a paz,
elimina-se a alegria;
resvala o consentimento,
angustia-se o bem-estar.



No mundo,
a vida lega à luz a seres tão vulgares.



(**RIO DE JANEIRO**, 21 DE FEVEREIRO DE 2017)


Comentários