**ÓPERA DA CON-TING-ÊNCIA - NADA E NINGUÉM** - PINTURA: Graça Fontis/POÉTICA-ESTÉTICA FILOSÓFICA: Manoel Ferreira Neto


Re-cônditos inter-stícios do nada re-fletem de con-ting-ências ab-surdos que semeiam grãos de ipseidades no limiar da razão, jamais o nonsense será pensado à luz do sensível, será visto como labirinto de vazios, vazio da subjetividade, vazio da sensibilidade, nunca as nonadas da hipocrisia e falsidade serão julgadas à mercê dos sensos de virtudes, serão sempre incólumes princípios da mauvaise-foi que garantem os interesses e ideologias do estar no mundo desfrutando da deliciosa ração dos rebanhos.
Re-fletir tais con-ting-ências? Pres-ent-ificam-se a todo instante, são "inte-grantes" dos valores in-sofismáveis que sustentam a sobrevivência, não sendo mais necessário qualquer inteligência e juízo para projetar a vida.
Nada disso. Re-fletir o óbvio é brincar com a passagem do tempo, tripudiar com a sua demora em mostrar o re-verso das ruminâncias do desprazer, da infelicidade, das angústias, o sibilo de vento entre as montanhas.
Os sinos da igreja ressoam, convidam os fiéis para a fé, colocarem Jesus no coração, serem a efígie do bem. Poucos assistirão à missa, noite de chuva, nada mais delicioso que o sono, mesmo sob as intempéries do pesadelo.
Nada a refletir, nada a meditar, nada a pensar, ser o nada, nada solitário, nada silencioso, nada introspectivo, nada sorumbático e macambúzio, nada circunspecto, pervagar nas trilhas do efêmero. As verdades estão escritas no In-finito e desenhadas nas estrelas, tudo o mais são falácias e verborréias no tempo das con-ting-ências, a heresia muleta do não-ser, bengala dos desvalidos, a fé complemento do vazio, o nada esperança dos peregrinos, sendeiros, sábios e gênios.
Por ser isento de pecados, Jesus viu os pecados humanos, artificiou os caminhos do bem e do amor como redenção. A consciência do nada e as suas benesses não seriam a liberdade, não seriam o reino no mundo? As ovelhas perdidas des-velaram, des-vendaram o nada, a cada passo novas esperanças, novos desejos.
São dois, são cem, é o mundo chegando e ninguém. Os mortos não voltam para dizerem da ressurreição, se houve o Juízo Final, se o paraíso existe, se o inferno existe, se lá as almas penam nas chamas, para os russos o inferno é gelado.
A chuva continua caindo fininha e lenta. O nada que sou sei que estiará, o sol brilhará amanhã, brilhará forte. O mundo e ninguém. Todos... Ninguém. Se o Ninguém não existisse, seria necessário inventá-lo. O interessante é que o Ninguém corre do Nada como Deus de Mefistófeles. Diga com quem anda, direi quem é. É Nada Ninguém. Se Ninguém, no regaço da alma habitam as hipocrisias e falsidades de todos os naipes, imagino as mesmas no Nada Ninguém, divinas e absolutas. Antes Ninguém do que Nada. Antes Ninguém do que Nada Ninguém. No seio do Nada não há leito de flores para as hipocrisias.



(**RIO DE JANEIRO**, 28 DE FEVEREIRO DE 2017)


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