INÉDITO - "PARTITURAS DO ESPÍRITO" - Manoel Ferreira



Este texto é dedicado aos 150 anos de nascimento de Machado de Assis
Agradecimento especial ao amigo: Paulo Ursine Krettli
Belo Horizonte, agosto1989



Retrato de homem e intelectual



Por todos estes séculos e milênios, buscamos sempre uma definição de homem, o sentido de sê-lo, o significado de intelectual, a história de sê-lo. Se somos perspicazes e inteligentes, iremos perceber que, a cada dia, estamos definindo um homem a partir de sua consciência, de sua postura, de suas atitudes. Se somos sensíveis, a cada instante, estamos a significar um intelectual a partir de suas preocupações, de seus ideais, de seus engajamentos, de sua obra. Uma empresa indubitavelmente de longo fôlego, um jamais cessa de significar, de atribuir sentidos. Estamos dizendo de um dia-a-dia de instantes. É de pensar, sincera e automaticamente, nos séculos e milênios. Quantas definições, quantos significados? Imensuráveis! O sentido de um homem, o significado de um intelectual ainda estão por serem sentidos e emocionados na História. Ao pensarmos, então, em nada ainda temos uma visão desta atitude “homem”, deste gesto “intelectual”. Emoções encafuadas no tempo, sentimentos engurujados na História. Perpetua a indagação: “O que é ser Homem”? Pereniza a indagação: “O que é ser intelectual”?
Talvez os homens ainda não tenham percebido que, no instante em que amamos, a preocupação de definição é bem mais angustiante. Temos esta necessidade de definir, afim de não nos sentirmos inseguros com esta linda emoção no seio de nós, afim de não nos sentirmos indecisos com esta verdade no espírito de nós; esta verdade que só é nossa, a nossa individualidade. Um imbecil pode muito dizer: “Não sentimos a necessidade de definir quando amamos. Deixamos o amor fluir”. Sem dúvida, nascido o amor, o seu itinerário é o fluir, estar a seguir indefinidamente à margem do rio. Aliás, nem nos é dado perceber e sentir a inteireza desta emoção: escapa-se à nossa inteligência, à nossa subjetividade. Daí, afirmar não estamos preocupados com sua definição; o definir do homem que ama é pura imbecibilidade. A cada passo dado, encontramos sempre indagações: “Quem sou eu quem ama?” ou “Quem é este homem que ama e sofre com a presença deste amor?”; e não indagar significa tão unicamente outro estilo de indagar, outro amor que necessita ser indagado.
A todo instante sentimo-nos indecisos, uma dúvida enorme no peito, inseguros, angustiados. A verdadeira indagação nasce no instante de nosso amor, de seu surgimento, de seu prosseguimento no mundo. E, assim, seguimos questionando o sentido do amor, do homem que ama, do homem que deseja, incólume, a esperança, a paz, a compreensão, o entendimento, a felicidade. O amor põe-nos à frente, joga-nos à longitude, coloca-nos em presença de um desejo de construirmos a existência, instituirmos a vida, buscarmos a nossa realização. E, assim, a todo instante estamos buscando interagir este amor no nosso quotidiano, no nosso presente; que se escapa de nós! E vamos nós, outra vez, à procura da verdade, do autêntico, do sentido, do significado. Um caminho sem retorno. Seguimos – escolhemos seguir, buscar quem somos, autenticar o amor com a nossa individualidade, nossa identidade.
Recentemente, tive a oportunidade de sonhar que o “Rio Arrudas” havia secado. A terra estava trincada pela luz do sol. Fui seguindo as suas nuances. Num local, reconheci homens trabalhando, fazendo uma linha dobrada, alguns buraquinhos em que introduzir parafusos. Fui seguindo o itinerário do extinto “Rio Arrudas”. Num determinado instante, interrompi a minha caminhada. Acordei. O amor está extinto – é necessário um momento de reflexão, de meditação, de consciência, pensar o itinerário seguido, instituir o nosso amor no peito, seguir esta longa viagem mundo adentro. É de nossa responsabilidade a construção de um novo amor. É fundamental a água, suja ou não, do “Rio Arrudas”. A terra já não estará mais cortada pelos raios de sol. Podemos seguir rumo ao pleno, ao absoluto.
Neste instante, de pequena e ínfima significação do sonho, lembrei de um amigo, este escritor, homem acima de tudo e este me lembrou-me, com uma alegria e satisfação no peito, um amor incomensurável. Um homem deu à luz a sua obra no instante de meditação e reflexão de nossa existência, de nossa vida, de nossas atitudes, de nosso amor. É o seu filho, é o presente de seu útero, é o resultado de seus longos anos de amor e indagação acerca do sentido do homem. Não é o seu filho querido, o mais querido; há os filhos que somente ele pode criar, ensinar o seu amor, ensinar-lhes uma cultura, uma educação. Nós, os seus amigos mais íntimos, os seus amigos na estrada mundo, nada podemos lhes ensinar. O que nos ensinaríamos nós? Nada. Ao contrário, a obra deste homem, que também é filho, deste indivíduo, deste amor que jamais cessou de se aperfeiçoar, de se delinear, de se burilar, de questionar, buscar a autenticidade do amor, o sentido. Os seus verdadeiros pais somos nós os seus amigos, seus leitores. É de nossa responsabilidade estar sempre desejando sua sensibilidade, sua cultura, sua educação. Como? Simplesmente, buscando em sua obra, a nossa responsabilidade, o nosso dever com os homens. O autor deu à luz a sua obra. Suas obras. Nós é que vamos criar-lhe, aperfeiçoar-lhe. Vamos amar a todo instante os homens. Vamos ajudar-lhes nesta empresa de longo fôlego, amar com dignidade, com virtude, com valores. Estaremos, a todo instante, de mãos dadas com o autor e sua obra, com os homens que sofrem e amam em si e seus escritos.
Estamos a perambular nossas angústias em nossas noites brancas, desejando as emoções interagidas, sentimentos inteirados – que nosso coração não sinta tantas dores, que nossa alma se desvencilhe de suas tristezas, mágoas, descontentamentos! Estamos a deambular nossos desesperos em nossos dias ingurgitados no mortal de todas as insatisfações, desejando a consciência, o íntimo lúcido, a alma translúcida, o espírito nítido – que nossa consciência não se esvaneça, que nosso peito se desvencilhe dos desamores, incompreensões, desentendimentos, agressividades, desumanidades. Estamos a saltitar de alegria por assistirmos ao nosso amigo contente, tranquilo com o seu amor, com suas doações, bem com suas responsabilidades. Caminhos de braços dados, todos nós, em um campo de algodão, rumo ao infinito. Que beleza de união, que beleza de participação, que beleza de integração: autor e sua obra; suas obras! Todos os homens de braços dados, fluindo de alegria incomensurável. Talvez o amigo e eu jamais iremos desfrutar deste instante de união, integração, mas estaremos felizes e contentes em saber que estivemos os dois preocupados com o destino dos homens, com o amor dos homens, com a realização dos homens. É de nosso mais ínfimo amor saber todos os homens caminham em campos de algodão, rumo ao pleno, ao absoluto, à eternidade. Seguem todos à margem do rio. Os que sabem nadar, fá-lo lenta e paulatinamente, afim de que ninguém fique para trás. Estaremos felizes os dois, a todo instante, em todo o itinerário de nossa caminhada no mundo. Nada pedimos de ninguém. O que estamos a desejar é o amor dos homens, a compreensão, o entendimento. Que os homens jamais necessitem de perdoar! Não necessitemos de perdão. Somos todos humanos e a nossa maior alegria é saber todos são merecedores do maior amor.
A obra está para sempre em nossos corações, não como uma obra escrita, impressa, publicada, pois não é apenas uma obra; ela é, acima de tudo, o amor dos questionamentos humanos: “Quem sou eu quem ama? ” ou “o que é isto o meu amor”? A obra é a nossa existência, nossa essência, nossa vida neste pequeno e estrito mundo em que nosso desejo maior é a presença do amor, do carinho, da compreensão, do entendimento; acima de tudo, do questionamento de nossas atitudes, de nossos gestos, de nossos comportamentos.
No momento em que escrevo, emoções afloram de meu íntimo. Relendo as laudas escritas, sinto lágrimas verdadeiras jorrarem de meus olhos. Choro nítido e límpido. Emociona-me esta verdadeira sensibilidade, este autêntico amor, que possui a autenticidade e dignidade de estar, a todo instante, se questionando, perquirindo-se, indagando-se sobre sua essência, sua substancia. Sensibiliza-me este homem que ama, dedica suas emoções aos homens, seus sentimentos ao mundo. É-lhe carinhoso, terno, meigo, amante, amigo. Sensibiliza-me esta individualidade que sofre, angustia-se, desespera-se, deseja a paz, ama a alegria, possui momentos de indecisão, de tristeza, de mágoa, de amargura. Sensibiliza-me esta identidade que deseja o mais fundo penetrar em seu inconsciente, retirar de lá a sua autêntica vida, a sua verdade. Choro límpido e nítido. Não possuo nenhum pejo em aqui afirmar jamais amei a um homem como faço a este amigo. Um exemplo dos mais nítidos de um carinho, afeição, ternura. Um exemplo dos mais nítidos de uma inteligência, subjetividade, sensibilidade em prol dos homens, de sua verdade, de sua autenticidade. Um exemplo dos mais nítidos de um amor, de uma consideração aos homens, ao destino do mundo. É ele um testemunho de sua obra a todos os valores, a todas as virtudes, que, infelizmente, os caminhos do mundo estiveram a tergiversar, estiveram a anular, estiveram a aniquilar, a destruir, a negligenciar, a desconsiderar. Os caminhos do mundo foram buscando secar a água do rio, extinguir os desejos do mar, vontades da plenitude, da eternidade. O mundo esteve a brincar com a nossa integridade, com a nossa inteireza. O mundo esteve a chincalhar com o nosso amor, nossa intimidade. Não, meus amigos, não tenho nenhum pejo em afirmar jamais haver amado um homem como o faço com este amigo de todos os momentos. Por estes longos anos, onde, em meio a outros longos anos, estivemos lado a lado, com nossas preocupações, com nossas alegrias, nossas angústias. Antes de sermos escritores, sempre fomos amigos indissolúveis, amigos verdadeiros. E, por todos estes anos, dediquei-lhe o meu mais profundo amor, a minha mais funda consideração e amizade.
Escritores apenas, seríamos uma farsa, uma falsidade – estaríamos apenas lutando por nosso reconhecimento, a todo instante com a mais pernóstica e imbecil concorrência, como muitas vezes podemos presenciar na história dos homens. Não. Antes de sermos escritores, somos amigos. Não fosse eu um escritor, já estaria realizado, satisfeito, por ser um escritor; estaria dizendo o que eu sempre pensei e senti. Sou também um escritor, mas nossos caminhos e preocupações têm outras arestas – e sou, em essência, amigo deste homem; e somos, em essência, uma sensibilidade no mundo, nossas diferenças residem apenas em nossa caminhada no mundo.
Não amo ao escritor por seu livro, por sua obra. Não amo a obra, o livro por este escritor. Amo a ambos. E, reconheço, de corpo e alma, uma de minhas fundas angústias é a de ser merecedor da amizade desse amigo e dos espasmos de sua obra. Eu que sofro e, muitas vezes, não encontro respostas para o sofrimento, tento me curar. Eu que angustio e, muitas vezes, não encontro esperanças para um passo adiante, reflito. Eu que me desespero e recuso qualquer presença, renego a qualquer amizade, a tenho. Eu que me entristeço e não encontro qualquer motivo de alegria deste mundo, me alegro agora. Eu que, desde sempre, jamais quis acreditar numa esperança, acreditando a esperança ser o meu dia a dia, minhas lutas e empreendimentos, luto agora. Eu que, desde sempre, acreditei na existência de um Deus, busco ainda qualquer indício de fé (que nunca tive!), de esperança. Minha fé reside em mim, no que faço, nos homens, em que eles fazem. Eu que, em alguns momentos, tenho a ousadia de negar a todas as amizades, de não acreditar nelas. Quem sou diante deste amigo? Quem sou eu nos interstícios de sua obra?
Recentemente, conversando com alguém de minhas relações, ouvi nitidamente não há qualquer possibilidade de no mundo um único homem viver a si mesmo, mostrar-se, ser quem é. Haveria tantas incompreensões, tantos desentendimentos. Não, meus amigos, não sou cúmplice desta afirmação. Não acredito nesses dizeres. Mostramo-nos, sim, no instante em que confessamos nosso amor, revelamos nossos sentimentos e emoções. Revelo e confesso o meu mais profundo amor a este homem e sua obra. O reconhecimento do amor, da felicidade, o sentimento da paz, da ternura, a emoção do bem-estar. Desejo isso em todos os homens, em toda a humanidade. E, felizmente, agora temos uma nova vida no mundo, a obra que me é inconfundível, que já é a nossa companheira, nossa amiga. Já não sentimos mais o sentido da palavra “solidão”. Somos alegres e felizes por esquecer o tempo de nossas angústias mais profundas ou dos nossos desesperos mais claudicantes. Temos uma amiga, uma amante, um amor, e ela é essa obra, nossa mais profunda esperança nos homens, na humanidade. Morrendo, despedimos do mundo com a maior das felicidades: conhecemos um homem, conhecemos uma obra. E, a partir dos meus vinte e dois anos, estivemos sempre ao lado deles, em todos os instantes. Realizamos nosso maior projeto, nosso objetivo, nossos desejos, nossas fantasias: desfrutamos de momentos e instantes felizes ao lado do autor e sua obra.
Não haja fronteiras no mundo. Nascido em interior de Minas, vivido à beira de um rio - de onde retirou toda a sua sensibilidade, sua subjetividade, sua alma e seu espírito -, tornou-se escritor das emoções, tornou-se indivíduo. E segue o seu caminho de reflexões e meditações, de amor e felicidade, de verbo amar e de substantivo amor a todos os homens, a toda a humanidade. Não, meus amigos, não haja fronteiras no mundo! Um dia, esse menino, já tendo em si a emoção de escrever, o escrever em emoções, retirados do rio que - a todo instante esteve a seu lado - foi ser seu amigo e companheiro de brincadeiras imaginárias, a brincadeira da contingência e da transcendência; e uniram-se, aglutinaram-se. Tornaram-se um único ser: contingência e transcendência. Tornaram-se emoções em palavras, palavras emotivas e emocionais. Um dia, esse menino, com o amor no peito e a esperança n’alma, tomou um trem, despedindo-se de sua grata terra, não mais sabendo por quanto tempo iria ficar distante, talvez pelo resto da vida, e foi morar longe, bem longe, onde o impacto e o cheiro do asfalto, o denominaram como criança torta, débil, um excepcional.
Amigos, choro neste instante em que escrevo isso. Um homem emotivo, sensível, amante do mundo, humano, por ter um ato falho em sua linguagem, um entrecortado no estilo de falar e dialogar, ser denominado como um excepcional. O mundo é tão burguês, há tantos juízes nele. Felizmente, na sua bonita e primeira escola, essa criança descobre um modo de mostrar não ser um excepcional, mas ser uma de emoção enorme, imensurável, um reduto de amor e paixão pela vida, enfim, pelos homens! Inicia o seu sonho de amor: escrever. Passaram-se os anos. Não é mais um excepcional. É um escritor de homens. A sua linguagem entrecortada não significa um problema de dicção. É, que por haver tantas emoções em seu íntimo, as palavras chocam-se, as emoções baralham-se em sua língua. Há muito a ser dito e a sua língua, como a de todos nós, além de ser pequena, é apenas uma carne exposta. Descobriu a emoção. Descobriu o amor. Jamais cessou de escrever e de viver. Não. Não vive ele para escrever. A escrita não prolonga a sua existência. Ambos são um amor e uma esperança. E, creio eu, este homem já é imortal, eterno. Não por ser escritor, um poeta, por tão bem registrar no papel suas emoções, sentimentos, seus desejos de amor e paz no mundo. É ele imortal e eterno por ser um sentimento em erupção, por ser uma emoção em carne viva, por ser um sentimento em erupção, por ser uma subjetividade, um vulcão de sensibilidade e espírito. Este ser é realmente excepciona! E um homem e um indivíduo por todo o sempre, por toda a eternidade. E, creio eu, por mais que ande eu por todos os caminhos e redutos do mundo, jamais, em algum ponto, irei encontrar uma sensibilidade que se lhe assemelhe; a menos seja uma imagem sua.
Não haja fronteiras no mundo. Disse quase nada de sua infância, tal qual de sua tão querida terra natal, que ainda não conheço. Meu que meu amigo é apenas sua terra natal? Não. Sua terra natal é o mundo, a humanidade, todo o universo. Por estes dizeres, peço a todos considerarem este homem, este indivíduo como um Curvelano. Em mim, ele é já de Curvelo, nascido e criado em Curvelo. E por quê? Tão simplesmente por que, desde o primeiro instante de nosso encontro, numa faculdade, haver reconhecido nele o que sempre senti, o que sempre pensei, o que sempre desejei. Em mim, desde sempre, houve a indagação “o que é isto – o amor”? Desde sempre, desejei o amor, o amor no mundo. A partir de nosso conhecimento, de nosso encontro, cessou em mim o desespero de jamais encontrar um amigo, um homem a quem entregar o meu amor. Não tendo todos os homens ao meu lado, não participando de todos os seus instantes de tristeza e dor, amo a este homem amando a todos os homens, ao mundo, a humanidade. Peço-lhes a todos reconhecerem neste homem um Curvelano. Peço aos homens reconhecerem nele um homem de todos os redutos do mundo. Há motivos e razões para isso? Há sim. Há amor. E o amor em nosso mundo está tão triste e cabisbaixo.
Recentemente ouvi de alguém: “Você, em reconhecendo tanto este amigo, este homem, escritor, está a se anular, a se denegrir? É também amigo, homem, escritor. É também emotivo, emocional, sensível”. Talvez seja eu tudo isso que me foi dito. Acredito, mas prossigo o meu questionamento, as minhas indagações, os meus medos, resistências, fantasias, consciência, prazer, tristeza. Talvez, um dia, seja eu mesmo um homem, um indivíduo, um escritor. Talvez seja emotivo e emocional. Desejo isto com o mais fundo de minha alma. Agora, em termos algum estou eu a denegrir-me, rechaçar-me, anular-me. Ao contrário, reconheço-me. O amor sentido lega-me a sensibilidade de reconhecer em nesse homem, um amigo, um escritor. Meu amor por ele dá-me o legado de lhe enaltecer, de lhe reconhecer além de mim mesmo. É amor ao homem, ao indivíduo. Se eu algum dia, deixar a pena, sei quem irá dizer por mim, irá confessar o que eu sempre desejei no mundo. A bem da verdade, não preciso da pena, da escrita. Há este homem que sabe fazê-lo muito melhor que eu. Estou feliz por isto. Nunca irei deixar a pena. Necessito da escrita. Mas o amigo irá continuar em meu pensamento como o exemplo mais nítido de um escritor, de um homem.
Talvez estejam a pensar e refletir todos em minha ousadia em esculpir, desenhar o retrato de homem e intelectual. Houve homens e intelectuais em todo o mundo. Houve mestres e discípulos em todo mundo. Houve artistas e gênios. Acaso, estive eu relacionando com eles, participando do dia a dia destes homens. Acaso, fui eu um amigo indissolúvel deles. Não. Esculpo e desenho o retrato deste homem e destes outros da vida. Em meu espírito e alma, esse amigo está acima de todos os gênios, de todos os artistas, escritores, filósofos, psicólogos, psicanalistas. A todos leio e li, reconheço e admiro. A este homem não necessito de ler. Convivo com ele aquele convívio de paz.
Ademais, cada um de vocês irá pensar e sentir obra em inúmeras dimensões, de diversos modos, ao terem a possibilidade de ler a obra inconfundível. Terão vocês pensamentos e sentimentos paradoxais aos meus. Terão vocês indagações e perquirições divergentes das minhas. Vocês todos possuem outras preocupações, outros ideais, outras fantasias, outros sonhos, outras necessidades. O homem mesmo é aquele que está aberto, os seus leques alcancem e atinjam o mundo de inúmeros modos e estilos. É o papel do homem. É a responsabilidade do escritor. É o sentimento e emoção do poeta. Com efeito, a partir deste momento, haverá tantos como o autor de obras e de obras quantos são os homens em todos os cantos do mundo, mas, em mim, existe o amigo, aquele que é o amante de todos os homens, de toda humanidade; e mostra, em seu íntimo e alma, que é o homem que não este a quem esculpo o retrato e desenho, procurando ensejar mais a alma e o espírito. Isso transcende as minhas palavras, atinge mais a humanidade, alcança mais os homens. Mas sei também que a todo instante estou eu aprofundando esta individualidade, esta identidade, alma, espírito. Quem sabe um dia irei eu conhecer Paulo Ursine Krettli no mais profundo de sua alma, no mais fundo de seu inconsciente.
Um homem, um intelectual!
Despeço-me. Sigo em direção ao pleno, ao absoluto, trilhando os meus caminhos.



(**RIO DE JANEIRO**, 09 DE FEVEREIRO DE 2017)


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