#AFORISMO 355/TEMPO VÁRIO INCISIVO, AD-VERSO# - GRAÇA FONTIS: PINTURA/Manoel Ferreira Neto: AFORISMO
De onde, a ampulheta em cujo espaço oval filtra a areia à luz dos
instantes e momentos, seria que mostrasse a imagem, o signo das travessias que
se realizam?
De onde, a claridade diáfana que perspassa a frincha do teto, através de
que se con-templa a imensidão de distância de quem observa, refestelando-se no
leito, deixando acumular no peito sentimentos e emoções?
De onde, definitivamente, para todo o resto do Universo, o cio
impotente, orgia intelectual de sentir a vida, a vida que dói quanto mais se goza
e quanto mais se inventa?
De onde, as flores artesanais e naturais a embelezarem as tumbas ao
rés-do-chão, as criptas de esculturas de mármore, as velas queimando, no ritual
de finados?
De onde, eu, quem sente mais a dor suposta do mar ao bater na praia do
que as sensações que se revezam tão depressa, eu, o contradictório, o fictício,
o aranzel, a espuma?
De onde, tempo vário in-cisivo, ad-verso, ao meu-próprio-ser, in-verso,
ao meu-íntimo-estar-sendo, se aceno à inconsciência lúcida as coisas que
fizeram as mãos que abrem as portas, portões, cancelas, porteiras, acho
metafísico não me parecer igual à idéia que faço de mim, e se batem à porta
zango-me?
De onde, a impossibilidade de exprimir todos os sentimentos, o que
parece não dizer nada sempre deseja dizer e expressar alguma coisa, se conheci
florestas-virgens, sonhei utopias, defendi ideologias, edifiquei caminhos,
institui veredas, estabeleci sendas, construí apenas castelos, liberei apenas
sonhos, libertei somente quimeras e fantasias, não almejara a tanto?
De onde, a fumaça de cigarro a trazer-me melancolias, saudades de idos
que inda são presentes, vivos, se na minha busca não me foi preciso a mim
partir no meu desejo, me não foi necessário prever a verdade, apenas trilhar
cada pegada impressa pelo homem, nas cinzas-do-tempo, e todo universo range,
estraleja e mutila-se em mim?
De onde, rola auroreada, crepusculada, entardecida, a prumo sob sóis,
rola no espaço abstrato, invisível, inconcebível, na noite às escuras, faltou a
energia eléctrica atoamente, realmente, a meta vazia, invisível, se ir ao
intrínseco, ao fundo, às pre-fundas, para saber não, não me foi preciso, não
almejaria a tanto?
De onde...?
De onde...?
De onde...?
De instantes-limites, aspirando resolver a equação desta inquietação
prolixa, hermética, dúbia, ambígua...
(**RIO DE JANEIRO**, 02 DE NOVEMBRO DE 2017)
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