#AFORISMO 353/ Quem sabe?!... Quiçá?!... Talvez?!..# - GRAÇA FONTIS: PINTURA/Manoel Ferreira Neto: AFORISMO


Quem sabe?!...


Quiçá?!...


Talvez?!..


Passaram-se segundos no relógio de tempos antes de minutar no papel as primeiras palavras. O que desejo realizar registrar “quem sabe?!” não o sei; em verdade, a questão não é entender este momento mágico no percurso das sendas, mas perscrutar a magia do papel recebendo as palavras em si, comungando-se, aderindo-se, sintetizando-se, papel e palavras projectadas ao in-finitivo dos verbos defectivos, gafectivos, afetivamente seivando os sonhos de gerúndios da ec-sistência...


Nada desejo saber das possibilidades. É ficar a balançar-me na cadeira, fumando o cigarro que se encontra no início, três tragos apenas, deixando os minutos correrem lentos. Só isto consigo pensar para hoje, quinta-feira, Dia de Finados.


Não pretendo estabelecer quaisquer tributo, apologia ao cigarro; alguém assim o entende, com fogo e inteligência, debruça-se e “empandora-se” - é só se lembrar da “Caixa” de Pandora (a origem de todos os males); o termo seria outro: “en-caixa-se”, as línguas aí se revelariam sedentas de “invertidas”, imoralismo - a interpretar idéias num estilo que faria Carneiro Leão ajoelhar-se, pedindo perdão por seu estilo, forma, beleza da linguagem, interpretação, análise, havia-se habituado com a sua cátedra no olimpo; compõe as visões das idéias, utopias, a efemeridade de tudo, “que pachorra ininteligível incluir a cultura, as artes, o devir histórico, por ser indiscutível a existência de beleza, estética, estilo nas manifestações artísticas, culturais, históricas. O desejo não é outro senão chamar a atenção”. Palavras precisas são ditas sobre as entrelinhas.


O que está oculto é mistério, enigma.


Não intenciono de-monstrar a preguiça infinita, sem limites, sem fronteiras, origens de Macunaíma, só balançar na rede, deixar as coisas rolarem livres, só que é isento de quaisquer intenções de entendê-las, compreendê-las, in-vestigá-las inda mais, rolem as coisas. O vento perpassando o quintal, folhas e galhos balançando, o vento assobiando no ínterim do vento, no intervalo do vento, havendo uma noção dormida de muitas inquietações, indagações profundas, prolixas a serem sonadas, ressonadas na vigília das atitudes e dos gestos, grande sossego faz desejo, vontade, sonho de ter estado a dormir, .


Haverá quaisquer dúvidas de, nesta imagem, vozes estarem sedentas de ouvidos, de inteligências a traduzirem intuições e esperanças?


A questão é ser quem ama tanto a morte quanto a vida, como toda gente, uma e outra constituem a parte que nos cabe. A experiência deste amor é prolongada por fraqueza, com aquele sorriso cínico, sarcasmo e sátira comungados, suspensa naquilo de sermos completos, a morte e a vida habitam-nos, aí inicializa-se a algazarra das línguas em uníssono; se gira o cata-vento no cume da serra, ótimo, aliás, isto fora desde a eternidade desejado; caso contrário, se se ouvem as correntes arrastando-se nas ruas, este é o destino que nos cabe a cada um.


Admiram-me a idéia, precisão das palavras, as artes e a história constituem a parte que nos cabe. O desejo íntimo será de lançar o questionamento, em silêncio: “acaso teria deixado as palavras dizerem a sua verdade, antes de atribuir elogios e utopias ao cigarro?, depois de endossar os aplausos, palmas para o desdém às sinas, sagas ao destino que é. A indiferença com o destino dos homens? Acaso, “insigne amigo”?


Diante da surpresa, sorrindo, olhos brilhando, continuaria a idéia esboçada: “E acaso, distinto, deixou as manifestações culturais, artísticas, históricas revelarem-se, antes de dizer intenções primordiais e fundamentais são de não atribuir valores, amar a vida e morte nada significa, pois que uma e outra constituem o que nos cabe?” Clamo aos deuses do olimpo fosse realidade, nem Deus iria negar, a verdade absoluta, soubesse responder de imediato, e mesmo após longos estudos.


Não saberia dizer que deixo as palavras falarem, dizerem suas verdades, aquando estou a criar, este desejo forte - chama de liberdade e prazer da jornada, adentro utopias...!, - subindo e descendo alamedas, becos, a harmonia da criação e sonho, instante em que homem e devir andem juntos, deixando-se falar, dizer as verdades.


Questionaria o insigne amigo acerca da convicção preeminente de sua interpretação. Em verdade, os dedos deslizam nas teclas, desejando originalidade e autenticidade, não mais importando com isto e aquilo - cabem-me prazeres e dores, como para toda gente. Numa escrita sem sujeito, a impossibilidade do estilo torna-se com o tempo superação de estilos conhecidos, o estilo dá lugar à vida de estilo de vida.


(**RIO DE JANEIRO**, 02 DE NOVEMBRO DE 2017)


Comentários