CRÍTICA LITERÁRIA POETISA E ESCRITORA ANA JÚLIA MACHADO ANALISA E INTERPRETA O AFORISMO 420 /**NO CURSO DA JORNADA, A VAGAROSA CAMINHADA - A TERCEIRA MENSAGEM.


A este aforismo de Manoel Ferreira Neto, NO CURSO DA JORNADA, A VAGAROSA CAMINHADA, analisa como a jornada que fez para descobrir o seu amor…longa e vagarosa, onde passou opor várias circunstâncias da vida, até ao momento desejado.


Costuma-se dizer que adivinha quem verbaliza que o preferível do caminho é a oportuna jornada.
Em um trilho agreste, por exemplo, é efetivamente imprescindível saber deleitar-se com o aroma das flores, o entoo dos pássaros, a sobrançaria débil das árvores espessas. Fundamental assistir a atualidade, agarrar o dia, não somente desejados estios ou delinear o gélido Especialmente quando tal jornada é metáfora do amor.
Desacerta, no entanto, quem despreza que a vereda só permanece quando leva de um lugar a outro. Que o trilho acarreta tempo. Afinal, não fossem um ponto de partida e um ponto de chegada, nem existiria vereda; bem como, não fosse o tempo, nem existiria pássaros, ornatos, mastros.
É inexequível apanhar um dia não cultivado.
Há quem sustente a total falta de óptica, um elementar ir-levando, e a esses remanesce um único vagar, não a jornada em significado absoluto. Remanesce um sossego como a ramagem que o outono enxuga e transporta, não a exultação primaveral das boninas ao resplendor quotidiano, os liames interiores dos passarinhos nos nichos e nas sombras, as estirpes e pomos das sapientes árvores. Remanesce a inércia de ser transportado pelo vendaval, não a permissão de alimentar a aragem com os pés bem assentes no solo
De verdade, não só de juventudes habitam ornatos, passarinhos, mastros; mas é chocante como porção do deslumbramento que atiçam encontra-se na arrojada pujança com que avassalam eras gélidas e, repletos de fina meiguice, descerram-se, assimilam a adejar, fecundam. Aprecia-los ao extenso da vereda, afinal, ninharia mais é do que identificar tal realidade. Mais que isso: autenticar-se como trecho complementar dessa realidade, repartindo a pujança e a macieza da espécime de passada que a querença impõe: pacífico e inato em cada dia, perspicaz e ao mesmo tempo quimérico, tenro e básico.
Adivinha quem verbaliza que o superior do curso é a inerente jornada, mas adivinha ainda mais quem, defronte disso, meramente jornadeia.
Com precaução e amor, passo-a-passo, apanhando e cultivando cada claridade. Delineando, sim, exequíveis momentos de aproximação. E sabendo recordar, com muita exultação e reconhecimento, o instante de abalada. Em nosso caso, aquele inesquecível fim de tarde primaveril há exatos dois anos: primeiro passo dentre tantos que, graças a Deus, vieram e hão de vir nessa caminhada tão maravilhosa. Linda e delicada como uma flor, livre e alegre como um pássaro, forte e frutífera como uma árvore.
E do fim da sua jornada vagarosa, mas que deu seus frutos saiu com enuncia de Mãos entregues! Mãos entregues!
Ausentaram-se do cavado do abismo
nas ansas da independência
e rendição
aos devaneios e expectativas
do que os excede,
e os perfilha ainda mais!...
Consumindo expressões triviais de quimeras,
Assolando quimeras de expressões portuguesas triviais
Sensibilidades de sentir sensações,
Absorvendo protótipos, pensamentos,
Absorvendo entendimentos,
Absorvendo representações, probabilidades,
Luminosidade, lugar oposto ao de maior claridade,
Beatas albergadas
na barqueta no sem-fim...
Mais um excelente aforismo de Manoel Ferreira Neto, e sua complexidade…pois pode-se tirar muitas ilações deste aforismo…depende sempre da sensibilidade de quem o lê….


Bela foto para o aforismo...a viagem longa até chegar onde pretendia...a grande e estimada artista plástica, sua esposa e que se complementam na perfeição...a jornada foi longa mas compensadora.


Ana Júlia Machado


#AFORISMO 420/NO CURSO DA JORNADA, A VAGAROSA CAMINHADA - A TERCEIRA MENSAGEM.#
Graça Fontis: PINTURA
Manoel Ferreira Neto: AFORISMO


Coração de ouro e diamante, o vazio esvaiu-se, esvaece-se de por trás das constelações do universo, renascem, flores astrais, poeria de estrada, ondas do mar vindo e chegando à praia, molhando a areia, aurora que luta por um arrebol...!


Por que a felicidade
Aparece sob a forma de
estupefacção,
de sonho
de repouso,
de paz,
de sábado,
de mergulho no mar,
de churrasco e cerveja
no botequim com amigos
de descanso do espírito,
de estender os ossos?
da libertinagem dos instintos
de nada nos campos distantes
sentir ter sentido...
Eu me lembro... eu me lembro... Ironia, cinismo? Revolta, agonia? Rebeldia, náusea? Tristeza, desconsolo? Nada disso se me afigura ser, apenas uma lembrança de idos tempos ou de algum modo a memória a delineou noutro estilo, fora uma musa para algumas visões e luzes, mas fora um presságio a sátira da alma humana havia sido concebida, em noite clarinha, as humilhações, vergonhas, mangofas seriam lições no destino que traçara(traça), e esta lembrança/consciência é(são) realidades, vivi, o inesperado se patentearia, deixe acontecer, nela não pensa, nunca andei devagar para chegar primeiro, nunca andei às pressas para chegar antes, ser o primeiro da fila, andar, andei, e não darei sossego enquanto não houver a consciência disto.


Mito, lenda, história,
causos do monsenhor,
porteira aberta
o vento passando
levando a poeira da estrada.


Dizem por aí
que um Anjo tresloucado
conseguira de mim
a vida de poeiras,
por ele fora condenado.


O sol raiava, era inverno, no inverno o raiar do sol é sempre diferente, diria ser cortinado de seda invisível, aconchega o sol do inverno no peito. Tudo era festa em volta de minha casa. Cantava o galo “crista”, ama sentar-se no centro do galinheiro, os galináceos ao redor, as galinácias distantes dele, comportadas, de quando em vez, para espairecer o sol na crina, corria(corre) atrás de alguma galinha, ora esta, era sua vida, – nome que lhe dei por sua crista enorme cair-lhe no olho esquerdo – alegre no terreiro, o mugido das vacas misturava-se ao relincho das éguas no pasto que corriam de crinas soltas pelo campo aberto de nossa residência/sítio, aspirando o frescor da manhã. Pretéritos, passados, lembranças, recordações... mistérios e enigmas, por que não? Quê memória revelá-la virgem, pura?


Passarinhos do céu,
brisas da mata,
maresias do mar,
patativas saudosas dos coqueiros,
ventos da várzea,
fontes do deserto!...
micos pulando nas árvores, nas cercas,
nos fios de alta tensão!...
Cadelas por todos os cantos,
Paloma é do "fogão encerado"
Apronta todas!
Jana deitada na cama, debaixo dela,
ao pé de minha cadeira de executivo,
enquanto trabalho
a companheira cadela,
frágil e dissimula fragilidade
para chamar a atenção,
mais amor
Paloma é independente, faz
o que quer;
Onde quer que na vida dos homens
e dos povos
há solenidade, gravidade, mistério
e cores sombrias,
fica um vestígio de espanto,
resquício de surpresa,
tiquinho de estupidificação,
que noutro tempo presidiam
às transações,
aos contractos,
às promessas:
o passado,
o longínquo,
obscuro e cruel passado
ferve em nós
quando nos pomos "graves".
São estas as lembranças que se me a-nunciam, são estes sentimentos, são estes os pensamentos que se me patenteiam, sinto-me até rejubilado, sinto-me livre do instante presente, olhei-me de soslaio a imagem refletida no espelho, havia um brilho diferente no olhar, deixasse-o livre, por que pers-crutá-lo?, sinto-me alçando vôo, desejo sobrevoar rios, mares, florestas, campos, montanhas, o destino é o infinito de todos os horizontes, de todos os uni-versos, quiçá canções que se ouvem por todos os lugares,


"...o que é de muito longe é que sempre vem..."
pra ficar, para a sabedoria,
de ser-com,
que sempre ausculto, ao lado de Vida.


Enquanto a neblina da noite na vasta rua, nas montanhas, no Cristo Redentor, no Corcovado, como um sudário, flutua nos ombros da solidão, as estrelas são verbos de luz, minha alma revolve-se em ondas de luz, um brado altissonante que a liberdade prediz. As flores são aves que pousam na floresta silvestre, as aves são flores que voam no céu de nuvens azuis. Os cheiros agrestes deste vasto sertão, a voz dos tropeiros em suave canção embalam-me os sonhos de os mistérios do vasto horizonte serem re-velados a todos os cantos e recantos da terra, seguindo a orla do mar de mãos dadas com Vida - como sempre a chamo, ninguém chama o outro pelo nome, nome próprio, não rola neste casa, é Vida, Amor, Meu bem, Benzoca, Coisa Feia, E.T. de Varginha, contando os causos de uma caminhada juntos. Causos de outrora do sertão mineiro, lembranças, recordações, as letras como sempre dizem adeus noutro estilo, noutra linguagem, noutro modo, coisas de mulher que lutou dignamente pela vida dela, dos filhos, netos...


Prantos de meu pensar
agitam como diamantes
as minhas mãos,
que elevadas ao céu de toda a terra
enxugam rindo os prantos que caem na terra,
molhando a poeira ressequida das estradas.


Quando vejo as noites belas, onde voa a poeira das estrelas e das constelações di-versas, fito o abismo que a meus pés se encontra, sem poder esmagar a iniqüidade que tem na língua sempre a liberdade, nada no coração.


Res-ponder por mim mesmo
E res-ponder com orgulho
que prantos agitam-me as mãos,
dizer sim a mim mesmo,
eis um fruto maduro,
eis uma polpa saborosa,
eis uma delícia de deuses,
eis um fruto tardio;
quanto tempo houve de estar este fruto,
ácido e verde,
pendurado na árvore?
Ontem pela manhã,
Andei pelo quintal,
catando manga no chão,
Jana e Paloma ao redor,
Nasci em contacto com a natureza
Convivemos por longos anos,
Dois cães, Bolinha e Museu,
Passarinhos, papagaio, galináceos,
coelhos,
Jovem, homem,
Ausentes por longos anos
E no crepúsculo o retorno à natureza,
Amor no ar,
Amor no tempo,
Amor nos instantes...
Por sempre!


Com a vista no céu per-corro os astros. Vagueia a minha mente além das nuvens, vagueia o meu pensar. Nostalgia!... Essa re-versão de minha quimera, esta in-versão de minhas fantasias, a liberdade de minha personalidade não constitui aventura prazerosa e confortável, di-vertida, mas, ao contrário, é com freqüência difícil e complicada e, não raro, quase ininteligível, com o sentimento de vagarosa caminhada, sensibilidade solerte, a vida é tropa viajada lentamente...


II PARTE


Coração de ouro e diamante, o vazio esvaiu-se, esvaeceu-se de por trás das constelações do universo!


Tempo longo,
instantes, momentos inestimáveis,
nada via deste fruto,
não se lhe intuía
não se lhe imaginava,
não podia prever-lhe a vinda,
por mais que na árvore
tudo estivesse preparado;
por mais que a própria árvore
não tivesse outra razão de crescer
senão para chegar a este fruto.


O gesto do despeito,
do olhar de desdém,
do olhar de superioridade
falsifica a imagem, a pintura,
do despeitado
e fica muito além da falsificação
contra qual o ódio recolhido,
a vingança
do fraco, do incompetente,
do impotente,
apoderar-se-á
do seu adversário,
naturalmente "in effigie".
É inerente à História,
São raízes de árvores
que eventualmente se balançam,
e tudo indo embora...


Este mistério de viver, de ser homem, de encontrar-me feliz e satisfeito, sente o desejo de conhecer, no curso da jornada, a vagarosa caminhada. Que tudo seja atraído pelo mais íntimo desejo, impulsionado por vocação mais íntima, tão simples como no pensamento, tão mágico como o sentimento do verbo amar, pela Natureza e pela Alma, pelo Sonho e pelo Espírito.


Romper o véu de mistérios e enigmas,
Dissolver nas águas do rio, águas que seguem,
Medos e irresponsabilidades,
ir buscando eterna e ininterruptamente mutações em nós mesmos, em nós,
- não seria isto de verter lágrimas pujantes, enquanto sentia do conhecimento
verdade de um caminho traçado com os silêncios das aspirações de mistérios,
enigmas, dois corações sonhantes com o que trans-cende isto arte/vida, arte-vida-amor, até abrir caminho para a eternidade das luzes e sons, das cores e das imagens, uma manifestação verdadeira?, um caminho verdadeiro construído com dignidade? -, partir, ir conhecer outros caminhos de seguir as orlas do mar de mãos dadas com Vida,


conduz à eternidade. A luz do sol por entre os vazios das árvores é não ser mais que a luz do sol por entre os vazios das árvores. A manhã esfria no longínquo do mar, o que se deseja mesmo algum dia se realiza, seguimos a orla do mar, e nos sentimos o novo dia entrado, uma borboleta branca que se assenta na folha da samambaia.


Tem sido
utopia satírica,
digna de sátiro de excelência,
quem, como todo o artista,
só chega ao auge de sua grandeza,
quando aprende a contemplar,
aos pés,
a própria personalidade,
de nossa própria arte,
quando sabemos rir de nós mesmos.


Mãos dadas!!!... Mãos dadas!!!
Saímos do fundo do foço,
nas asas da liberdade
e entrega
aos sonhos e esperanças
do que nos trans-cende,
e nos comunga inda mais!...
Devorando lácios de sonhos,
Devorando sonhos de lácios
Sentimentos de sentir sentimentos,
Devorando ideais, idéias,
Devorando pensamentos,
Devorando imagens, perspectivas,
luz, contraluz,
Gaivotas pousadas
na barca no mar...


(**RIO DE JANEIRO**, 26 DE NOVEMBRO DE 2017)s


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