#AFORISMO 376/CAMINHOS DO SER E DA VERDADE# - GRAÇA FONTIS: PINTURA/Manoel Ferreira Neto: AFORISMO


EPÍGRAFE:


"Quanto mais eu ando
Mais vejo estrada
Mas se eu não caminho
Não sou é nada.
Se tenho a poeira
Como companheira
Faço da poeira
Meu camarada." (Geraldo Vandré)


A caminhada faz os caminhos.


Caminhando, atinge-se outros horizontes, uni-versos, outras conquistas, outras glórias, outras realizações, torna-se outro. É sentar na margem da estrada, olhar o Infinito com as pupilas brilhando de alegria, felicidade, deixar o peito arfar-se, ou sentar-se à beira de um rio de águas cristalinas, imaginar as águas desde a fonte até aquele sítio em que se está sentado. A vida é outra. Sou outro. O que isto significa? A vocação do homem é a entrega, a doação, desde a eternidade à eternidade.


Nestes momentos de conquistas, glórias, realizações, o outro se manifestando, dando-se, à luz da terra e do mundo, é o momento de engajar-se em projetos, em responsabilidades, compromissos, hora de fazer. Isso é com o outro, doar todas as conquistas, todas as glórias, realizações nas mãos do outro.


Nas letras, esta doação se faz, levando o outro a meditar, refletir, mergulhar na sua vida, em seu íntimo, procurar-se nos cofres do íntimo, trazer à superfície, assumir-se, saber quem se é, tornar-se outro. É dividindo, compartilhando que nos completamos. O homem é ser-para o outro. Os artistas, sábios, intelectuais, espiritualistas ainda mais são para o outro. Nada lhes pertence.


Não se ensina a viver. Mostra-se os caminhos para a vida, cabendo ao outro decidir os caminhos. A vida está no homem mesmo. As mudanças estão nele mesmo. Não se muda para o outro, muda-se para si próprio. Tudo que circunda o homem na sua contingência e quotidiano torna-se outro com a sua mudança, com o encontro do seu Eu. Mas se este Eu não estiver sempre em movimento, buscando-se inda mais, torna-se prático-inerte, petrifica-se. A verdade de hoje não é a verdade de amanhã. É preciso sempre projetar a verdade encontrada às buscas de outras verdades. Thich Nhat Hahn, monge vietnamita, diz que acumulação de conhecimentos não é sabedoria. Sabedoria é o esvaziar-se para se preencher novamete.


Nas letras existem muitas dimensões a serem encontradas e desenvolvidas. Ser poeta apenas não satisfaz a sede de conhecimento. Ser escritor, ensaísta, crítico literário ou filosófico, filósofo também não satisfaz. Fernando Pessoa multiplicou seus heterônimos em inúmeros. Hoje sou a vida que escreve, o escritor que escreve a vida. Agora é compartilhar as côdeas desta vida com os que estão precisando saber a vida, saber quem são, o próprio sentido deles no mundo e na terra.


(**RIO DE JANEIRO**, 09 DE NOVEMBRO DE 2017)


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