#AFORISMO 363/IPSIS LITTERIS, IPSIS VERBIS# - GRAÇA FONTIS: PINTURA/Manoel Ferreira Neto: AFORISMO


Ser... sem ser
Por mais que a luz do dia ilumine a soleira de cavernas
Sem os raios do sol a entrada permanece nas trevas;
Ser... sem ser
Por mais que a canção sensibilize as dimensões do espírito,
Sem o sentimento das notas, ritmos, melodias, acordes, musicalidade,
A alma não se dis-põe à jornada;
Por mais que as letras preencham as linhas de páginas
Sem o sentido, signo, símbolo, metáfora
São só tinta impressa, nem palavras são;
Ser... sem ser
Por mais que nas cavernas das idéias, subterrâneos do pensamento, a alma sinta-se mais leve para as investigações de sua condição ec-sistencial, as utopias que disto advierem não alimentam inda o desejo do conhecimento.


Verbo ser. Evangelho do amor. Eterna liturgia de sendo em sendo. Crepúsculo de inverno suave, ameno. Sorrisos de orelha a orelha entre solitários. Felicidade paradoxal entre pobres e miseráveis. Quê sentimento esplendido de imperfeição! Quê emoção divina de inverdade! Quê contramão de angústias e melancolias! Quê baldias carências nos terrenos da alma!


Ser... sem ser
Vidas que sonham folhas sob o olhar perdido
Nos campos de flores despetaladas do nada
Ser... sem ser
Vidas que desejam pastorear ilusões, quimeras
No amanhecer calmo, tranquilo, sossegado
Ser... sem ser
Vidas que renunciam de portas abertas, escancaradas
Perante a paisagem todas as paisagens,
Perante o panorama todos os panoramas,
Sem esperança, em liberdade, sem nexo,
Sem noção,
Acidente da inconsequência da lisa superfície das coisas
Quê brisa quando as portas e janelas estão todas abertas!


Aparências, falsidades, farsas. Sem amor, afeto, amizade
Ainda que distante do verso, metáfora da perfeição,
Síntese das contingências, medos, entregas,
Antítese das fugas,
Tese das falhas e faltas, cegueiras e alucinações
O pervagar "across the universe", "across the borderline"
Alegria,
Contentamento,
Saltitâncias
Arrasta-pés,
Atrás dos raios, o sol que ilumina a essência da claridade
Atrás do ser, as pectivas-anti-pers da perfeição
Atrás do ser... sem ser, as pers-{das}-pectivas,
Atrás do ser... flashes de luz
Perdi o amor que sonhei póstumo, perene,
Eterno, perfeito
De luz que iluminava a escuridão dos medos
De silvestres clímaces que esplendiam a vida
Encontro o amor que desejo,
Imperfeito,
Encontro a metáfora do intransitivo
Efêmero,
Fugaz.


Auspícios do absoluto que envela o nada
Chama de vela que alumia a sombra do castiçal,
Calor das achas queimando-se no fogão,
Fumaça que ensombrece as glórias e náuseas,
Resplendor de "sem ser" sendo o ser à busca do amor,
Esplendor do "ser" sendo o não-ser da amizade
Na tarde ensimesmada de nuvens cinzas,
Na tarde de clima ameno, agradável,
Nihilificando as carências de sentimentos
Ser-sido do ser-sendo.


Miríades de silêncio
Travessia do ser-além-do-sido-sendo
Nonadas às sendas e veredas do além
Glórias do eterno, plen-itudes do vis-a-vis
Perene vivenciário às esperanças da solidão
Solidão que tritura os ossos do passado
A velarem o brilho das estrelas de outrora
Ipsis litteris, ipsis verbis
Ser de re-versões, estesia.


Ser de revezes, ser... sem ser
Na contingência da náusea humana.


Deem-me de comer, que não tenho fome.
Deem-me de beber, que não tenho sede.


(**RIO DE JANEIRO**, 02 DE NOVEMBRO DE 2017)


Comentários