#AFORISMO 374/TROPICÁLIA AO SABOR DOS TEMPOS# - GRAÇA FONTIS: PINTURA/Manoel Ferreira Neto: AFORISMO


Tropicália de eternos
Faço das mãos despalmadas
Serenos orvalhos a eternizarem
Solidão de carências
Solidão de volos do efêmero
Solidão de fé, esperança,
A língua vernácula algazarra o erudito
De tempos inolvidáveis, de tempos enaltecidos
De glórias, nada pode conspurcar os pretéritos
E viva o pastor conduzindo as ovelhas
No silêncio crepuscular da montanha
E viva o itinerante sentado na mesa da vendinha
Tomando o seu aperitivo, dedilhando nas cordas do violão
Canção da tristeza no chão de pedras e poeiras,
E viva a gotícula de chuva que pinga solene
Na folha seca da árvore na calçada vazia de transeuntes,
E viva a rosa que des-abrocha esplendorosa na manhã
Primaveril, exalando perfume inebriante...


Tropicália de vazios
Faço do evangelho da noite
Fosforescentes verbos que aquiescem o calor
Das sensações, sentimentos, emoções,
Do eterno, por mais distante o navegante
Não esqueceria jamais as ondas do mar surgindo
De onde as nuvens do céu cobertas de estrelas
Se perdem nas águas,
Respirando o ar transparente e puro no qual
Caminha com delícias a sabedoria que faz
Dos desertos sagrados a cor-agem para mergulhar
Em reflexões... a matéria viva do desejo do Ser,
E viva o que não está à vista, o que é in-visível,
O que é in-audível, o que é inter-dito,
E viva o vazio que acende a vontade do múltiplo
Na multiplicidade dos ideais e utopias
Que levam a re-conhecer quão grande a alma
Para artificiar a bossa nova de desígnios
Seduzidos pelas promessas com a ajuda dos deuses,
E viva as sereias nas docas refestelando-se
Nos raios de sol incandescentes da tarde,
E viva os clérigo que no momento do sermão
Observa os mendigos a pedirem esmola
Na porta da igrejinha do lugarejo...


Tropicália de efêmeros
Melancolia,
Nostalgia,
Eclipse oculto, nada acaba, nada perece,
Alguma coisa está fora da nova bossa,
Saudade da alegria,
Saudade da felicidade,
Saudade do prazer,
Saudade do pensamento que pensa o pensar
Das virtudes,
E que viva a dialética do tempo e do vento
De travessias e sibilos,
E que viva a contradição do bem e do mal
De nonadas e liturgias da palavra
Palavra que verte lágrimas pela vaca profana
Que derrama o leite na cara dos insurrectos, corruptos,
Palavra que compõe do brilho dos olhos do boêmio
A verdade do vai-e-vem do amor e do verbo de amar...


Tropicália de nadas
Todos os caminhos trilham
Para o encontro da visão do que há-de ser,
A qualquer distância o outro é força para
O coração atentar para o Ser,
A alma se inspirar na água que cai fora da choupana
A canção do que não morre,
Do que não entristece,
Do que não agonia,
Tropicália é fruto do bem-virá
Tropicália é semente da terra,
É húmus do mundo
Que formoseia todas as minúcias,
Todos os mistérios, todos os enigmas
Que se escondem nos porões das contradições,
Nos abismos
Do re-verso re-verso do reverso,
Do in-verso in-verso do in-verso
Da razão in-versa que suplementa o tempo.


(**RIO DE JANEIRO**, 09 DE NOVEMBRO DE 2017)


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