#AFORISMO 400/VERSOS TRIGUEIROS DEIXARAM-ME VAGABUNDO# - GRAÇA FONTIS: PINTURA/Manoel Ferreira Neto: AFORISMO


Digam-me
O que vocês sabem do amor?
O que conhecem da verdade?
Verdade do amor,
Quero sentir-lhe o sabor,
Sabor de nada, sabor de vazio,
Sabor de vácuo.
O nada é cúmplice da solidão do tempo.
O vazio, álibi do silêncio do eterno.
O eterno do silêncio, álibi do vazio.
O vácuo é companheiro dos relógios
Contingentes dos instantes-limites.


Amei-os acima de qualquer ser superior.
Acariciei-os, acarinhei-os, mimei-os, papariquei-os.
Sonhei nos sonos profundos e leves
Fossem amados, respeitados,
Recebessem até medalha de honra ao mérito
Pelas verdades ditas, responsabilidades
Pelas mudanças que legaram à vida, aos homens.
Ilusão isto de dizer
Que, do interior da terra, nascem as sementes
De outras flores, de outras árvores.
Já estão dizendo a todos os ventos
Que a inspiração depende da globalidade,
Da virtualidade, da informática.
Maluco beleza, vagabundo, à-toa,
Roubo do pretérito, a intuição do porvir,
Roubo das cinzas, a percepção da paisagem do vale.


A plenos pulmões vociferei ao mundo inteiro:
"São superiores a qualquer ser supremo.
São os lídimos representantes da verdade!"
O que restou de tudo isso?
Sou o egrégio porta-voz da imbecilidade.


Escritos, são lindos, maravilhosos, perfeitos deuses
Enternecem, emocionam...
Em verdade, em verdade, são em absoluto dependentes
De interpretações, análises, opiniões dos homens
Qualquer um, seja douto, seja de inteligência curta,
Fazem de vocês o que desejam, intencionam,
E não me venham dizendo:
"A verdade é em nós.
A verdade nos habita.
O homem é que não tem capacidade de nos entender".


Endosso isto com todo orgulho
Os homens somos perfeitos idiotas,
Precisamos desde todo o sempre colocar a tiara
Na cabeça de alguma coisa, de algum ser.
Colocamos na cabeça de vocês a tiara,
Representantes da verdade, através de vocês
Nossas vidas seriam diferentes.


Peço o divórcio.
Melhor nos separarmos,
Seguem vocês os caminhos que lhes convierem,
Sigo os meus
Não quero mais a nossa convivência, as nossas relações.
Se pudesse, silenciar-me-ia, não diria único de vocês,
Mas preciso pronunciá-los nas minhas necessidades.
Escrevê-los nas linhas das páginas não mais.
Encontrem outro ou outros que os façam com prazer.


Sempre iludido, sempre sonhador.


Chegará o momento que também eles vão jogá-los para cima.
Chegará o instante que terão de assumir a extrema solidão.
Ninguém mais lhes dará qualquer crédito.
Nada são...


Adeus!
Au revoir!


(**RIO DE JANEIRO**, 20 DE NOVEMBRO DE 2017)


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