#AFORISMO 362/PERSCRUTO UM RECORTE DE MIM# - Graça FONTIS: PINTURA/Manoel Ferreira Neto: AFORISMO


No rosto (in)concreto, (in)substancial do sonho, varando o espaço da mente,
perpassando as nervuras da (in)-consciência, sento-me circunspecto na quina de um pensamento insolente – in-verso dos sonhos meigos, idéias infernais.
Aniquilo a transitória, mas poderosa matéria (in)conseqüente, (in)-consistente, insciente, e detenho-me pena.


Abro valas em meus sentidos dis-persos, vagos, adormecidos, sem lembranças, sem re-cord-ações. Procuro imagens obliteradas, olvidadas, obtusas, oblíquas,
ocultas na brisa pousante na relva de meu destino. Não é a mesma coisa séria, sincera, descrever com sangue, as cenas, que escrevo com tinta de desejos esquecidos e vontades de ausência.


Vencido pelas marés de tristes tormentos e vendavais sórdidos, eu, ilha abandonada ao relento das noites frias e chuvosas, dos dias quentes e frios,
entre oceanos de lágrimas, versifico as ausências de brisa, ritmo a brisa de ausências, metrifico de solidão os versos ausentes.


Tenho para o presente segredos profanos, rasgados e gravados nos arquivos da mente. Quiçá in-vestigue no amanhã anterior a quaisquer manhãs as culpas e pecados dos puros amores, passeando pelos caminhos e pelos atalhos, perscruto um recorte de mim, no cimo de uma oliveira, vendo as minhas idéias e utopias ou olhando para as minhas utopias e ideais, sorrio circunspecta e introvertidamente como quem não com-preende o que diz, fala, recita, declama, rumina, uiva, e quero simular que o faço, voz sonora do antes vivido ou sons ouvidos de um pranto. Com nada me contento, com nada me satisfaço, com nada me realizo, com tudo me atormento, com o eterno advém-me as mais insuportáveis sensações nauseabundas, com o absoluto me desespero, com o cosmos me entristeço?


(**RIO DE JANEIRO**, 02 DE NOVEMBRO DE 2017)


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