#AFORISMO 349/MARIA-FUMAÇA QUE DESBRAVA OS TRILHOS DE FERRO# - GRAÇA FONTIS: PINTURA/Manoel Ferreira Neto: AFORISMO


Pedra de toque
Vazio me faço
Vazio me projeto
Vazio me sou
Vazio me abro
Vazio me completo
Vazio me preencho
Vazio me complemento
Vazio me exilo
Palavras me faltam no lavrar caminhos bíblicos
Genesis, cânticos, apocalipse
Cataventos de história, dialéticas da existência
Felicidades enroscadas de sofrimentos, dores
Fortes e indigestos amores de maculadas carnes
E o verbo tornou-se cinzas
Cinzas elevaram de seduções o pó de dogmas, preceitos
Outroras de res e pectivas, o gozo algemado
De linguagens, vazios, signos
Nadas de estilos, símbolos
Nonadas de linguísticas, metáforas
Ideais em chamas da melancolia, nostalgia, saudade
Primavera em jogos da felicidade, instante de ser feliz
Artífice das palavras, inverso das arribas espirituais
Sou a Maria Fumaça que desbrava os trilhos de ferro
Os dormentes de aqui e agora
Em direção ao que há de perecer
De amanhãs rego as nostalgias primevas da criação
Sinos tocam à revelia de agonias, solidão
Encantos
Magias
Verbos versados, versos verbais
Luzes da ribalta seduzindo o silêncio de cenas
Trapezistas des-afiam nas alturas o espetáculo
Do equilíbrio entre a arte do corpo, medo da morte
Cúpulas de prata sob pilares de ouro
Longínquos pensamentos à mercê de sons do silêncio
Amor, carinho, afeição, ternura
Atrás do espelho da alma, remorsos, culpas
Ensimesmou-se a imagem do póstumo
Nos ângulos convexos, côncavos da solidão,
Hesitância do advir
Aliso a barba branca, visualizo a velhice
Passo a passo, lembranças, recordações
O passado vira das páginas escritas de contingências
Entregas, doações, instantes de prazer, felicidade
O presente lê nas linhas do presente, desolação
O ato falho do amor, o manque-d´être da verdade
Caminho entre sombras, pervago entre trevas.
Às náuseas da velhice saúdo o clímax do amor
Que diferença há entre o vazio de hoje
E o nada da velhice?
No ínterim, as trilhas de angústias, tristezas
A vida revelou-se plena de felicidade, alegria
O verbo do não-ser efemerizou o verso da posteridade
Nada sou
Desejei o nada de ser
Quis o não-ser da alma
Sonhei o Vedas de vazios
O mantra de nonada
O Krishna da solidão
Mergulhei profundo no tabernáculo da liberdade
Sem genesis, princípios, dogmas
Sem essência, sem eidos, sem núcleo
A pura liberdade sem pureza.


(**RIO DE JANEIRO**, 01 DE NOVEMBRO DE 2017)


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