#AFORISMO 157/PORTO OU CASEBRE - PROSA DAS CONTINGÊNCIAS#- GRAÇA FONTIS: PINTURA/Manoel Ferreira Neto: AFORISMO

Cada um de nós tem a própria cruz para carregar

Cada um de nós tem a rocha particular para levar ao topo da montanha

Cada um de nós tem o verso da dor para recitar

Cada um de nós tem as estrofes do amor para declamar

Cada um de nós tem o terço dos desejos e vontades para debulhar

Cada um de nós tem o poema da vida para escrever e confessar

Cada um de nós tem o nada na algibeira para levar à eternidade

Cada um de nós nada tem para levar ao sepulcro senão o resto mortal, o amor vivido e realizado

Cada um de nós dorme ao relento do mundo, da terra

Cada um de nós tem o verbo da felicidade para sonhar

Cada um de nós tem o sonho do amor para realizar

Cada um de nós tem a utopia do além, do perpétuo

Cada um de nós tem veredas e sendas por onde trilhar

Cada um de nós tem o porto ou o casebre no meio da estrada onde beber água, forrar o estômago com algum alimento, dormir, antes de prosseguir a viagem

Cada um de nós tem as utopias e esperanças para viver

Cada um de nós compõe o seu soneto do amor, idílio da solidão, ode do silêncio

Cada um de nós traça a prosa das contingências

Cada um de nós tem melancolias, nostalgias de inesquecíveis pretéritos, inolvidáveis outroras

Cada um de nós cria, re-cria, inventa fantasias, quimeras, sorrelfas do futuro, do que há de vir

Cada um de nós tem lágrimas a descerem no rosto devido às dificuldades, sentimentos de ingratidão, desolação, abandono, solidão, medo, desamor

Cada um de nós escreve seu romance dos desejos à soleira da eternidade

Cada um de nós tem a fé na ressurreição, redenção, paraíso perdido

Cada um de nós teme a sombra da cripta, as chamas do inferno

Cada um de nós tem seus fracassos, frustrações, decepções

Cada um de nós tem seus ressentimentos, mágoas, raivas, ódios

Cada um de nós vive a efêmera felicidade, alegria, contentamento

Cada um de nós quer a sabedoria da vida, o conhecimento do ser

Cada um de nós cumpre uma missão na vida

Hoje me sinto mais consciente de todas as poeiras que deixarei para trás

Hoje me sinto mais forte para carregar a cruz de quem sou

Hoje me sinto mais sonhador de esperanças do verbo de mim

Hoje me sinto mais poeta para versejar, versificar a alma do espírito

Hoje me sinto mais sereno para prosseguir a minha jornada à busca do ser

Hoje me sinto mais calmo para compor o futuro

Hoje me sinto verdadeiro e sincero com o amor que em mim habita

Hoje me sinto sábio para compreender os mistérios e enigmas da vida, segredos da busca do ser

Hoje me sinto mais feliz por projetar o espírito da alma

Hoje sinto que a morte é necessária para a vida ser

As dores e sofrimentos são pedras angulares para a verdade

Hoje me sinto travessia

Hoje me sinto passagem

Hoje me sinto silva - retirei o sobrenome Silva do nome, se o sangue não constitui família, muito menos o sobrenome

Hoje me sinto a nonada que pervaga universos e horizontes.

Hoje levo as minhas ovelhas para o vale

Hoje me sinto sendo

Hoje sou a história de mim.

(**RIO DE JANEIRO**, 07 DE SETEMBRO DE 2017)