Ana Júlia Machado ESCRITORA E POETISA INTERPRETA E ANALISA O AFORISMO 149 /**CRIAR VIDA OU DIALÉCTICA DA MAIS ALTA POESIA?**/


Este texto do escritor Manoel Ferreira Neto, poderia levar por vários caminhos. Como sempre dizem muita coisa nas suas entrelinhas…poderá estar a falar num Deus que o homem criou, para justificar muitas ações…Um embuste completamente descolorido…
A Intenção de Vigor não é a influência e a tirania dos diferentes, não é um anelo de soberania caprichosa e antiética, é apossar-se no já e agora e edificar seus valores de concordância com as eventualidades em lógica com o apreço à íntegra da sua história e de seus desígnios. Aqueles que denegam a existência, que se estilhaçam, que carecem se refugiar na transgressão e no ressaibo, constituem a fragilidade como valor ético superior. É indefeso, aquele que se verga sem contestar, sem reprovar, sem edificar ou compreender o eco daquilo que exerce em si próprio como raridade viva, inconstante e completando trecho de seu ser. O sublime é o ser autónomo que expugna sua independência no apreço à íntegra da existência, à essência, ao distinto, sem que com isso haja que copiar impensadamente o costume ou resguardar-se numa gratificação vindoura. Sair dessas correntes, um desprender-se de todos os valores morais, e um acreditar e dizer Sim a tudo o que até aqui foi interdito, condenado, amaldiçoado.
Será que alguma moral pode arrogar que os valores são engendrados e mesmo assim resguardar os preceitos dos sensos ortodoxos? Se o ser não cogita ser relevante garantir a normatividade, como ele poderia sustentar sua própria moral?


Se definimos no instante, não de concordância com protótipos morais designados, mas de combinação com nossos próprios valores, ainda teremos valores que carecerão de fundamentação, para serem aceitos por outros -- caso pretendamos os convencer e não para serem aprovados por nós mesmos.
E como afirma o escritor Manoel, engendrar ausentou-se de ser falsidade descolorida, converteu-se diegese de um anseio de engrandecer, e engrandecer ser vereda para a moralidade, moralidade de que ninharia perdoa nada excepto o eu eminente à dialética da elevada poesia.
Como sempre afirmo, não sei se fugi do tema ou não…nunca é fácil saber exatamente o que o escritor quer dizer exatamente…muitas coisas são ditas nas entrelinhas….E, é exatamente este seu modo peculiar que o faz diferente de todos…a sua erudição é ímpar.


Ana Júlia Machado


#AFORISMO 149/CRIAR VIDA OU DIALÉCTICA DA MAIS ALTA POESIA?#
GRAÇA FONTIS: PINTURA
Manoel Ferreira Neto: AFORISMO


Outrora pensava que tudo o que se cria, in-venta-se é mentira deslavada, e somente a consciência atormentada dos pecados e dos erros redime dos vícios. Quem mente passa a vida se justificando, explicando-se.


Talvez isso de pensar o que se inventa é mentira esteja intrinsecamente comungado, aderido à verdade de coroar com insucesso os meus méritos, quiçá terminasse um dia me corrigindo. Viver errado sempre me atraiu em demasia.
Na minha impureza havia depositado a esperança de redenção nos adultos. A necessidade de acreditar nas minhas posturas e condutas lícitas fazia com que venerasse os grandes, que fizera à minha imagem, mas a uma imagem de mim enfim purificada pela penitência do crescimento. Tinha muita consciência de ser criança, o que explicava todos os meus graves defeitos, e pusera tanta fé em um dia crescer.


Limitado nas montanhas de meu ser, meu horizonte inda não coincidia com o do mundo. Estava preso ao solo, olhava para baixo. Detinha-me ainda diante das aparências. Não existe percussão do passado no presente nem irradiação do futuro. Há-de se criar vida ou dialéctica da alta poesia que supera as antíteses em que o ser prosaico se deixa debater. Mister descobrir o tempo e o espaço. Fechei, em torno a mim, círculos e sagradas fronteiras: cada vez menor é o número dos que comigo sobem a montes cada vez mais altos, delineio dialécticas cada vez mais herméticas. Prelúdio sou eu para melhores executantes.


A minha arte está realizada: adivinha, nas almas que se elevam, o ponto em que estão exaustas. Posso dizer tudo livremente e desabafar as minhas razões. Criei vida, criei dialéctica da alta poesia. Deixei de coroar com insucesso os meus méritos? Não os coroo com insucesso ou sucesso. Ninguém tem a felicidade em partilha. Se nada na opulência, pode um homem crer-se mais que outro favorecido pela sorte, mas não pode dizer-se feliz. Coroo-os com as decisões e consequências das atitudes e ações. Se o caminhante é o próprio caminho, restaria considerar e relacionar o poeta-transeunte e o poeta-poesia no mesmo complexo, poesia como transporte e como caminho.


In-ventar deixou de ser mentira deslavada, tornou-se re-presentação de um desejo de crescer, e crescer ser caminho para a consciência, consciência de que nada redime nada senão o eu elevado à dialética da alta poesia.


(**RIO DE JANEIRO**, 04 DE SETEMBRO DE 2017)


Comentários