#AFORISMO 211/ÀS MANGOFAS ESCÁRNIOS INDA MAIS APIMENTADOS# - GRAÇA FONTIS: PINTURA/Manoel Ferreira Neto: AFORISMO


Senão as mangofas percucientes e peculiares ao trivial das idéias e concepções que envelam as prospectivas, permanecendo as con-tingências a cada passo mais enchafurdadas na mesmidade, o que mais poderia ser verbalizado, dito, expresso? Se amanhã houver, haja o que explique, haja o testemunho comprobatório, por que não acrescentar às mangofas escárnios inda mais apimentados, salgados, ao longo do tempo constituindo um dossiê de coisas que impedem anunciações de sonhos, utopias, consciência, liberdade, éticas-estéticas, vis-a-vis, e mesmo que com o calhamaço do dossiê não haja qualquer metamorfose, será leitura para todas as gerações, dizendo elas efetivamente: "Quem não ouve por bem, ouve por mal".


Senão as imperfeições que habitam a alma, que são húmus, sementes para a vontade de criações, in-venções, re-criações, entregas às labutas por outras realidades, o que mais poderia haver que fosse leitmotif para a vida, ser-no-mundo, estar-no-mundo?, embora aqui resida condescendência, pois a cegueira, a alienação, cujos únicos responsáveis são as algemas e correntes aos interesses e ideologias das religiões, das ciências, até mesmo da arte, pois há artistas contribuindo sistematicamente para o absoluto das vulgaridades, assim as imperfeições não são verbalizadas, e mesmo que eles gritem a plenos pulmões "Respeitem os artistas", a perquirição sine qua non seria "Como se é possível respeitar a vulgaridade, senão sendo cúmplice dela? O ácido crítico há-de estar presente indiscutivelmente" As imperfeições existem desde a eternidade, permanecerão, são do homem, mas com labutas dignas e honrosas podem se transformar em imperfeições perfeitas, resta apenas a cor-agem para este empreendimento.


Senão a consciência do desejo do verbo e do sonho, a criação peculiar e particular, individual do destino, mas sido-com quem está se fazendo, nas con-tingências, nas situações e circunstâncias, nas antíteses e dialécticas, no medo e na cor-agem que outra coisa teria nas mãos para semear - o que é isto, o verbo do sonho estético, dê frutos ou não, vivi isto, eis o meu testemunho. Eterno, ?mas até quando.", que outra consciência poderia ser a que me lega a liberdade de criar-me, re-criar-me, re-inventar-me. Nada outro a acrescentar, se, havendo, por que não incluir no dossiê das sendas e veredas trilhadas, entregar-se aos sonhos da consciência-estética-ética, o que isto significa? Os homens amam ocultar-se e re-velar-se.


Senão os que falam a favor da vida, embora, ao mesmo tempo, quedando-se em suas tocas, aranhas caranguejeiras, dão as costas à vida, pregam a doutrina da vida e, ao mesmo tempo, são pregadores da igualdade, que outros abririam caminho para o futuro?, são os bons e os justos, mas não há-de se esquecer de que, para se tornarem fariseus, nada lhes falta - senão o poder. Tudo, entre eles, fala, nada se realiza a contento. Senão esta verdade, o rebanho de fariseus no mundo contemporâneo ultrapassa todos os que já existiram na história da humanidade, e a alienação dos homens impede-lhes de enxergar-lhes, e são recebidos com aplausos altissonantes, trazidos no recanto mais aconchegante do coração, que outra poderia abrir todas as palavras e o escrínio de palavras da inconsciência, das condutas de má-fé?


Senão a cor-agem de verbalizar o mau hálito deste século, mesmo que as consequências sejam a discriminação, numa linguagem e estilo vulgar, jogado as traças, ninguém, alfim, recebe com júbilo a crítica, mesmo que ela seja princípio da consciência, da liberdade, da autenticidade, o que é digno de reverência, pois a solidão não dá mais atenção as aparências da interação social, farsas familiares, falsidades individuais, enfim, diz o senso comum, "antes sozinho do que mal acompanhado", que outra dimensão seria capaz, trar-se-ia nos seus recônditos alimento e nutrição para a valoração da vida?


Às nossas costas, há terrenos baldios por toda a extensão da terra, do mundo, da história; à nossa frente, há lotes vagos a perderem-se de vista...


(**RIO DE JANEIRO**, 26 DE SETEMBRO DE 2017)


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