#AFORISMO 163/INVERNO DO VERBO SER# - GRAÇA FONTIS: PINTURA/Manoel Ferreira Neto: AFORISMO


Às vezes, quando a madrugada me envolve por inteiro, sentindo os segundos e minutos passarem no silêncio do relógio, o peito aberto e envolto em ânsias e desejos, as lágrimas não derramadas, os desejos não realizados, os compromissos não cumpridos, as dívidas não pagas, palavras, atitudes de não, dores, sofrimentos, da aurora, do novo dia que trará novas esperanças, sinto a alma mergulhar nos vazios, abismos, alçar vôos homéricos e prometeicos pelas montanhas, florestas e mares, buscando luzes, esperanças, fé, escondidas nas dobras dos medos, frustrações, fracassos.


Carência de ilusões a versejarem o sublime
Desejo do amor que concebe a alma do perene;
Solidão de carícias a tocarem suaves a magia
Do corpo sedento de sensações carnais
De êxtases, volúpias,
Do sensível à busca do espírito do horizonte
Luminado de versos e pré-versos do inaudito silêncio
De estrofes e in-estrofes de melodias, ritmos
Em cânticos anunciados além-divin-itudes da verdade;
Angústia de esperanças perdidas, olvidadas
À mercê do tempo efemerizando as pectivas pres-entes
Da alegria perpassada de nostalgias, saudades,
Da felicidade tergi-versada em saudades, idílios
Do instante mais-que-perfeito de nonadas
Nas travesseias do vazio ao ser-[do]-nada
Da volúpia de estesias do espírito a gerarem
No útero da plen-itude as diáleticas da contingência,
Do êxtase das metáforas po-entes, alvorecer nunciado;
Da fissura de in-finito que, na lareira do tempo,
Crepita as lenhas dos ideais do amor e entrega
Cinzas quentes à soleira da morte gélida;
Tristezas de sonhos perdidos, à luz do vir-a-ser
Ao deus-dará da sistência de ec-in-divin-itude
De medos, relutâncias, inseguranças imperfeitas
No subjuntivo de quimeras passadas, sorrelfas falecidas
Morte,
Inépcia,
Inércia...
In-verno do Verbo Ser,
Frio ads-tringente nos ossos que não se tornam cinzas,
Nada in-erente na carne que não recebe o verbo,
Vazio cristalizado no instinto que não balança as orelhas do tempo
Nonada des-versificada de tangências côncavas do etéreo
Pontes partidas des-rimadas de ritmos da absoluta essência
Da Vida, mortalmente encerrada além-[do]-espírito
Pre-figurado nas imagens do eterno
In-versado nas molduras de faces estereotipadas
Refazenda...
Res extensa...
Res cogitans...
Res ad perpetuum...


(**RIO DE JANEIRO**, 08 DE SETEMBRO DE 2017)


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