#AFORISMO 22O/REDE DE TRANSFUSÃO ABSOLUTA DE ALMA PARA ALMA# - GRAÇA FONTIS: PINTURA/Manoel Ferreira Neto: AFORISMO


?Palavras ao vento, que a mim importa-me, os ventos as trazem de novo e eu as re-colho, a-colho.


Cá de arribas, auspício de colina, vislumbrando a paisagem, o panorama, con-templando: o longínquo, a distância são o que justamente se opõe ao gênio especulativo.


Ipseidades e solipsismos do não-ser que vagueia solitário e silencioso, angústia e tristeza por ser discriminado e rejeitado, por que saboreia com volúpia as neuroses de perfeição, as psicoses de absoluto, à soleira do abismo perscruta as miríades do efêmero que a-nunciam o há-de ser sob a cintilância das cores do arco-íris desejando com êxtases e euforias as nonadas do apocalipse, sorrelfas da consumação dos tempos para nalgum momento do ec-sistir se entregar por inteiro ao vai-e-vem da rede numa noite de chuvinha fina, ouvindo os ritmos e acordes do uni-verso, balalaika do pretérito em síntese com o fado do infinitivo dos horizontes, particípio de confins, gerúndios de arribas, fez a fama deitou na rede...


Rede de esquecimentos e presenças a extasiarem as volúpias do desejo de sentimentos ad-vindos dos cofres inexpugnáveis da alma, da vontade de verbos que revelem a luz, estesiarem os volos da querença de in-fin-itivos que concebam sons e palavras. Esquece-me dizer que, no ponto de vista através de que busco compreensões e entendimentos das coisas, um vai-e-vem de rede é um instante de saborear o amor com o tim-tim das taças de vinho, é um momento inestimável a juros, momento em que tudo o que não fale de "companheiros" é estrangeiro, festa do coração, assim o discernimento pelo afeto, ternura, entrega, carinho. Súbito relâmpago atravessa as sombras do espírito.


O amor é a lei da vida, a razão única da ec-sistência. Encher de uma só vez a alma, sem que ninguém lhe beba o licor divino, e regressar ao céu sem ter conhecido a felicidade na terra, o sentimento de que a alma está cheia, e é eloquente, porque é sincera. Vai-e-vem... vai-e-vem... vai-e-vem... Nós nos reconhecemos e a isto chamamos de amor. Amor é con-sentido, concedido compartilhar um pouco mais, um pouco mais os sentimentos, as utopias, os sonhos. Rede de esquecimentos e presenças. Sonhos em ação. Transfusão absoluta de alma para alma


Rede de sentimentos e idéias a acenderem as achas da lareira da alma sedenta de sabedorias... A face límpida do pote de ouro no fim do arco-íris, imagem e face que originam o rosto das sublim-itudes da sabedoria, sarapalhada de resquícios, vestígios do tempo que re-criam, compõem, poetizam e poematizam as pontes partidas em direção, pro-jetadas aos ilimites do além, aos ab-surdos do in-finito, e que as contingências da náusea e desespero expliquem, justifiquem as incongruências do inferno meigo das insolências. Se a minha alma clamava contra o destino, minha consciência me acusava de um erro, erro que não veio, a troco de um sonho que não veio. Deixo-me balançar, ir e voltar na corrente dos sentimentos e idéias, tenho um coração inda muito criança para as letargias, pensamentos sombrios, embora não afaste as con-tingências, carências e faltas, ausências e atitudes de não, encontros e des-encontros. Homem inda pouco conversado nas cousas do mundo.


Metafísicas das sendas e veredas perdidas nas "antanhas" memórias da concepção do caos, geração das vacuidades, luz e brilho do vazio, e por toda a eternidade a razão pura encalacrada de impossibilidades de a verdade ser a luz do espírito que numina os manque-d`êtres seculares e milenares. Rede de filosofias e querenças do verbo, fazer muros, fazer palavras, cunhar moedas de chuva, afiar os olhos para con-templar o in-visível visível e o visível invisível. A deliciosa paisagem tem alfim uma alma; o elemento subjetivo vem coroar os vazios, o elemento sensível vem preencher de expectativas as utopias da verdade.


(**RIO DE JANEIRO**, 30 DE SETEMBRO DE 2017)


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