#AFORISMO 188/NÃO NASCI PARA HABITAR ESTE MUNDO# - GRAÇA FONTIS: PINTURA/Manoel Ferreira Neto: AFORISMO


Sem a inteligência, não se vê o re-verso;
Sem a intuição, não se con-templa o in-verso;
Sem a percepção, não se visualiza a contramão de avessos;
Sem a sensibilidade, não se inspiram os verbos do sonho;
Sem os sentimentos, não se cria a beleza do belo;
Sem as emoções, não se artificia a estesia dos ideais;
Sem as dúvidas, não se vivem as lições da con-tingência;
Sem as incertezas, a alma se exila nas grutas inóspitas e íngremes;
Sem os questionamentos, a cintilância das utopias das verdades não foi concebida;
Sem as náuseas do absoluto, do divino, a liberdade não se identifica, não se re-vela;
Sem o nada, a vida é perfeita, são puros os seus princípios, valores, virtudes;
Sem o desejo de sabedoria, a vontade de conhecimento, existir é arrastar-se na sarjeta...




Mas o que são a inteligência, a intuição, a percepção, a sensibilidade, se os homens se enchafurdaram inteiros na miséria das religiões, ciências, artes?
Mas o que são os sentimentos, as emoções, se o coração não sente os reflexos da espiritualidade que a-nunciam eles?
Mas o que são as dúvidas, incertezas, questionamentos, se não se discerne o não-ser e o ser, a verdade e a in-verdade?
O que são as náuseas, nada, se as razões explicam, se as culturas justificam as angústias, tristezas, desolações?
O que são o desejo de sabedoria, a vontade de conhecimento, se a semente da vida são a alienação, ignorância?


Enfastiei-me das línguas modernas, em cujos interstícios habitam, residem, correm todos os discursos lentos, lerdos;
Cansei-me das velhas línguas em que "o tempo funde-se na metafísica como cúmplice".
Enojei-me dos retrógrados pensamentos de o Ser se revelar na continuidade das imperfeições, sandices, despautérios, disparates, alienações;
Nauseei-me dos versos e estrofes de Amor que cantam, declamam, recitam carências, solidões, ausências, forclusions, enfeitam-lhe com arrebiques e ornamentos de fantasias, quimeras, ilusões, sorrelfas, ainda mais com aqueles que roubam das flores o néctar para sensibilizar as dores e sofrimentos por sua procura incessante;
Entendiei-me dos ideais da felicidade, alegria, prazer, fundamentados e fundados nas in-vestigações medíocres da condição humana;
Subi-me nas tamancas com os sonhos da verdade inspirados na insônia da gnose;
Arranquei tufos de cabelo com a fé na ressurreição, ressurreição, com a eternidade pura no paraíso celestial;
Proscrevi o mundo, a terra com a hipocrisia, falsidade, farsa, condutas de má-fé, algemas e correntes aos princípios, dogmas, preceitos e leis da sociedade, dos sistemas políticos, sociais, individuais, familiares...


Cavalgo o meu corcel mais selvagem, o que sempre “melhor me ajuda a montá-lo é o meu dardo: é o estribeiro sempre pronto para o meu pé."


(**RIO DE JANEIRO**, 16 DE SETEMBRO DE 2017)


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