#AFORISMO 193/O OVO E A GALINHA... A IMAGEM E OS VERBOS..." - GRAÇA FONTIS: PINTURA/Manoel Ferreira Neto: AFORISMO


Limpando a poeira do automóvel, reunindo os cacos da taça de cristal, jogando-os fora, bem longe, onde nem com muita perspicácia possa ser possível o encontro deles, onde com muita imaginação fértil e desejo possa ser possível uma lembrança, aos pés das pirâmides do Egito.


Se o ovo é invisível a olho nu, às sara-palhas de auscultar o sibilo do vento no abismo, como me seria ritmar as notas que o vento revela à passagem nos interstícios do sibilo, teria de considerar que o olho nu invisibiliza as notas do sibilo ou o olho nu dá corda no tempo para a revelação do som; se o olho nu adveio do ovo, à mercê da retina, como seria pintar e melodiar a imagem do ovo e a visão-de olho nu?


Então, se o ovo é invisível a olho nu, se o olho nu invisibiliza o ovo, se o ovo advém do olho nu, se o olho nu advém do ovo, re-vestido de verbos trago em mim, afagando com as utopias do tempo e do ser, as luzes e contraluzes da imagem no desejo, vontade de versar os sentimentos e emoções de sua a-nunciação, e invisivelmente ouço o cantarolar da láwerka, e o canto melodioso reminiscente leva-me às ondas ondulantes do vento.


Desprender-me, afogar-me nesta claridade, em cuja superfície se espelha um nada indescritível, qual reflexo do nada de minha própria alma, do nada de meu próprio espírito, onde uma ideia escorrendo escorreita nos verbos da imagem do ovo, que re-monta à questão de o que advém de que, o ovo da galinha, a galinha do ovo, banha a obscuridade, o in-audito, desconhecido, invisível, visível. A idade espraiou ondas no mar. Meus olhos conten-plam os verbos do ovo sensibilizados, meu entoo do canto da Iáwerka, submerge-se em metáforas, a imagem que os enunciam em clima que presilha na moldura ornatos libertos na munificência de adejos livres.


Então, se o sibilo que o vento esplende veio primeiro que o abismo, a imagem e os verbos, que são as palavras, alimentam-me o in-finitivo das utopias que me habitam do som, se o abismo adveio do sibilo do vento, os verbos e as perspectivas da imagem, que são a linguística, semântica do espírito e do tempo, nutrem-me a sede do sabor do ser e do tempo. O que importa saber se o ovo advém da galinha, se a galinha advém do ovo.


Às avessas da in-finitude,
ao re-verso da imortalidade,
ao in-verso do ab-soluto,
ao verso de horizontes finitos,
às estrofes de sentimentos de amor e paz,
de felicidade e alegrias mil e tantas,
dizerem suas verdades -
Modificam a linguagem,
Estilo,
Nasceram poiéticas, prolongam-se poéticas em busca do
Verdadeiro verso do espírito e do ser,
Re-velando perspicácia...


Trans-parência de sensibilidade na sublimidade do tempo, nitidez da alma na perenidade do efêmero, acompanhadas de vivacidade, aqueles olhares transcendentes em busca das sagacidades dos linces do mistério, seguidos de inteligência e flexibil-idade das a-nunciações para um mergulho profundo, para uma visão ampla de pormenores dos enigmas que lhes envolvem, dos segredos que lhes habitam os interstícios da alma plena de desejos e questionamentos.


Imagem e verbos. Palavras, luzes e contra-luzes.


(**RIO DE JANEIRO**, 18 DE SETEMBRO DE 2017)


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