CRÍTICA À EPIGRAFE, ESCRITA POR Maria Isabel Cunha AO POEMA //**SOU CIDADÃ DO MUNDO**//


A Epígrafe deste poema da poetisa Maria Isabel Cunha traz em si uma questão de grande importância para a Crítica Literária. Criticar literariamente significa lealdade, fidelidade, postura e conduta com a estrutura da obra, a sua profundidade eidética, e não análise, interpretação à luz da subjetividade do crítico, o que ele põe na obra, coloca na sua estrutura, conforme as suas ideologias e interesses, isto é adulteração, tergiversar as intenções do autor, escritor ou poeta. Um poema neste nível, com efeito, leva os críticos arbitrários a colocarem a "guerra religiosa" em questão, no seu eidos a "guerra religiosa" é intenção da poetisa. Quando li este poema, percebi não ser esta a questão, pensando comigo que Maria Isabel Cunha deveria dizer não estar em questão a "guerra religiosa", não é o eidos da obra. Há obras ambíguas, são facas de dois gumes, e lá vem o crítico literário que toma em mãos o que na obra não está presente para defender os seus interesses, suas ideologias, o não-ser da obra é a sua pedra de toque para mostrar inteligência, suas grandes capacidade intelectuais, sua visão além da "contingencia" da obra. A obra está adulterada. E para retornar à verdade do poema críticos e mais críticos debruçam-se nele para as in-vestigações eidéticas, estruturais, às vezes levando anos e anos. Crítico literário que sou, sempre digo que diante de certas obras o autor tem de se explicar, se não explicar, diante das interpretações errôneas e arbitrárias defender a obra, defender a sua verdade. O meu texto, por exemplo, **SAUDADE DO PERFEITO SEMBLANTE DO HORIZONTE" traz em si essa ambiguidade, abrindo leques para as interpretações errôneas, no que concerne a não acreditar em nada, mas acabar acreditando em tudo, buscando a Vida. Não acreditar em nada abre leques para o niilismo, agnosticismo, ao nada e vazio pleno e absolutos. Mas a crítica de Maria Fernandes vai direto no ponto, explica lucidamente que não acreditar em nada não é niilismo, agnosticismo, sim uma busca, uma querência da Verdade, a minha intenção é a Esperança, o Sonho da Plenitude. Tendo terminado e lido, pensei sim escrever uma epígrafe para esta explicação, mas deixei nas mãos dos críticos o des-velar da intenção, da eidos da obra. Caso houvesse por parte de um deles adulteração, aí me defenderia. Mas, Maria, a primeira a criticar o texto, tocou no ponto eidético do texto. Outros críticos que escreverem a respeito já têm em mãos o eidos, cabendo-lhes id-ent-ificar outras dimensões. A Epígrafe do poema de Maria Fernandes identificou o eidos do seu poema //**SOU CIDADÃ MUNDO**//. Ninguém mais poderá lê-lo a partir do não-ser do poema.


Manoel Ferreira Neto.


SOU CIDADÃ DO MUNDO


Quando escrevi este poema não estava em questão o problema da "guerra religiosa",o que rejeito e condeno veementemente As religiões são para se respeitar, mas NUNCA para se impor.
Tenho visto imagens, reportagens, vídeos, notícias... sobre a imigração para a Europa e esta tomou tais proporções que, neste momento, o meu poema seria bastante diferente, pois penso que já não são apenas os refugiados e necessitados que procuram melhores condições de vida, mas os extremistas religiosos estão a aproveitar a abertura das fronteiras para fazerem uma autêntica invasão, o que desaprovo inteiramente. MIFC


Sou mulher, absolutamente comum
Portuguesa, amante da sua pátria
Com valores, talvez alguns ultrapassados
Foram-me arreigados em criança
Não poderei renegá-los, são herança.
Sou filha da sensibilidade, do sentimento
São a minha essência, o meu alimento
Não posso ver uma criança chorar
Ter fome, frio, abandono, maltrato
Um país, barrado nas fronteiras
Pessoas morrendo de fome, de sede
De liberdade para trabalhar
Lutar para sobreviver
Fechados num gueto, sem saída
Já mortos, experimentam passar o mar
Feitos prisioneiros, ninguém lhes dá guarida
Andam aos trambolhões, são empecilhos
Reencaminhados como salteadores
Apenas queriam pão para si e seus filhos
Quanta desumanidade num mundo que é de todos
Onde só alguns podem a seu bel- prazer reinar… reinar…
Quanta injustiça, competição, agressividade
Por ganância, poderio, posição, louros, estola
Vejamos no outro, um irmão, um companheiro
Um ser igual a nós, com a mesma necessidade
De trabalhar, viver, ser feliz, sem ser por esmola.
Poetas de todo o mundo, deixemos a inveja, a competição
Vamos dar a mão, para erradicar estes dois grandes pecados
Os culpados dos maiores agravos, feitos em nome do que se chama-NAÇÃO.
Amo a minha pátria, mas sou uma cidadã do mundo
Não posso esquecer os outros cidadãos, meus iguais
Vê-los à fome morrer, cruzar os braços, sem gritar meus ais
Dar-lhes o meu apoio, o meu profundo abraço de irmã.
Podem apelidar-me de insossa, sem criatividade, repetitiva
Pouco me importa, nada tenho nem quero provar
Não admito que me julguem pessoa insidiosa, embusteira
Meu grande pecado é o Amor que sinto com fervor
Pelo que me cerca e me invade a alma por inteira…


Maria Isabel Cunha


Comentários