#POETISA E ESCRITORA ANA Ana Júlia Machado ANALISA O AFORISMO 213 /SÓ A MIM MESMO POSSO GERAR#


A este aforismo do autor Manoel Ferreira Neto, SÓ A MIM MESMO POSSO GERAR, início por verbalizar que não consigo separa-lo do grande filósofo Nietzsche, em virtude de ter sido considerado especial, considerando o estilo próprio de sua escrita - efusiva, intempestiva, aforismática -, inseparável do caráter essencial de sua filosofia.


Assim vejo o escritor Manoel Ferreira Neto


Relativamente à humanidade poderemos dizer que, o último homem é o resultado das artes de aperfeiçoar o homem, onde a escola humanista qual estirpes recuam à batalha contra a espécime de homem súpero que competiu ao cristianismo levar a efeito. Ele foi auferido após evos do nada saberem e fazerem. O último homem ignora o propósito de sua humanidade. Ele é inapto de vislumbrar o potentado expresso no primeiro ímpeto da Vida e que transita-lhe.


Ter- se olvidado de sua direcção, haver abandonado de simetrizar ao curso dos seres, compõe dele “o mais primata de todos os primatas”, uma aberração na dimensão dos seres. O último homem entende a essência do ser humano no momento, da análise de seu estado contemporâneo, como se os antecedentes fossem forçosamente inferiores a ele (“No pretérito toda pessoa era alienada!”, proferem os derradeiros humanos), ou como se ao humano, olhado tal como se acha hodiernamente, não existisse ninharia a adicionar ou nula inteligência a se desenrolar em verdade; subentende que esta configuração humana hoje observável, com seu concernente mecanismo social, afigura o tirocínio mais eminente tangível pelo ímpeto que faculta forma a algo do nosso estilo. Testemunho disto é que seus compromissos estadistas resumem-se todos em abrigar este homem, amparar esta humanidade. “Existência” é circunscrita, referido ao que é constituído por ele, a simples “subsista”, “continuidade”. Não possui erudição do que é exasperar-se. Tudo o que pretende é alongar sua vida a qualquer preço. O último homem não consegue entender o que é cessar. Sua estirpe é inabalável como a pulga, ou seja, parasita. Com sua gargalhada de primata, graceja da sarna da imolação. O mais relevante: as potestades inovadoras de um tal homem se acham ab-rogadas; ele é mentalmente capado. É por isto, aliás, que se denomina o “último homem”: habita como se não existisse nada para lá dele; apresenta a castração do chão; babel sem opulência. É por isto igualmente que, em sua constância, o despovoado agiganta, ou, como diria Heidegger, “agiganta a ignorância sobre o planeta."
Em suma, o que estabelece a fisionomia dos Homens Superiores no caso de Nietzsche e dos Seres Gnósticos de Sri Aurobindo, ambos modelos proclamadores de uma moderna Angélia, tão aguardada pelos clássicos, mas não desprezemos de sobrepujar o acordo gigantesco que o filósofo alemão meramente em parte soube dominar. O sentido do titanismo, da cultura técnica, deriva de sua sobrepujança através da remição da deidade; assim legitimamos o pretérito no vindouro. Soltemos os Omnipotentes enclausurados na substância. A lenda do super-humano é a da vitória do homem; e a edificação da Cultura do Super-homem pode, ou melhor, deve ser gerada como aliada à edificação de canais competentes de transportar os homens futuros aos estados súperos do Escrúpulo - sob o perigo de, descurada tal necessidade, construirmos uma Cultura tão-somente tecnocrática que não passa da efetivação das quimeras do homem minúsculo, da perpetuidade até ao infinito da inferior linhagem que já propagou sobre o chão.


E como diz o Autor Manoel Ferreira, não existo o "eu gero"…que geremos todos um homem melhor, que não olhe apenas para si…
Existe quem jornadeie pela floresta e meramente contemple pau para o fogacho.


Ana Júlia Machado


#AFORISMO 213/SÓ A MIM MESMO POSSO GERAR#
GRAÇA FONTIS: PINTURA
Manoel Ferreira Neto:


Não sou as coisas. Habitam em mim palavras desejando sentidos, significados, semânticas, linguísticas, desejando a fala, a voz é de taquara rachada, mas é evidente no que diz, irritada, impaciente, mas foram comprimidas há alguns anos, perderam-se, querem ruminar, seja-lhes permitido ao menos isto.


À guisa de tapinhas no rosto, atitude de inestimável amizade, a zombaria que vivem estes doutos em restaurantes, bistrôs, que visam estes homens, são a estupidez e imbeciloidia que projectam ao além, ajoelham-se diante da Bandeira Nacional, diante da Cruz do Redentor, ruminam a todos os hemisférios os caminhos para a realização dos desejos, vontades, etiquetas de "salauds", procuram tudo entender à luz do nonsense, despautério, a pretexto de mangofarem a erudição, o fanatismo, a irrepreensibilidade, a pernosticidade, consagram todas as forças para os nonsenses, "lassez-faire", abalam, dissolvem tudo o que poderia ser pedra angular, o cajado do peregrino de uma existência à busca da consciência.


Disse-o à guisa de tapinhas no rosto, mas e se a perspectiva de olhar, observar, contemplar noutra dimensão fosse a antítese da inestimável amizade, e fosse uma dose de ácido crítico a ser degustado de orelhas em pé, amando de paixão tanto os floreios, ornamentações, arrebiques, no terraço do Rei Leproso, nos templos de Java, com suas grandes escadarias quebradas, refletem-se um instante em meus olhos, caio-me na gargalhada, sem sequer ter noção do motivo, quiçá com estes símbolos afastasse a condescendência, à sirga das ironias e sarcasmos, às mangofas os ácidos críticos irrepreensíveis, e com isto esclarecer que o verbo da consciência-estética se conjuga com os projectos realizados, o verbo dos sonhos e utopias se conjuga com as ideias e ideais em sincronia, sintonia, harmonia com as atitudes, Palavra e Atitude. As nuanças de brilhos e cintilâncias do há-de verbar mazelas e pitis nas bordas dos tapetes, cujos símbolos e signos são o entre-laçamento de outros fios de subjuntiv-itudes do eterno que riscam o étereo do espelho com o diamante ilustrativo das brumas que habitam as prefundas dos mistérios e enigmas, são eles o húmus da pétala seca da rosa negra, que exala o perfume das eter-itudes.


Senão neste estilo e moldura, o que confere ênfase de valor inestimável para a de-monstração do engenho e arte contemporâneos, a boca mordendo, os voluptuosos lábios apenas entreabertos, a língua matracando, não existem mais letras repetidas nalgumas palavras, a servir de exemplo, "accepção", escreve-se "acepção", não há quaisquer razões viáveis para repetir as coisas, nas primeiras não foram dados os floreios, nas segundas engenham-se todos, e quando a repetição tem por objetivo a mudança de paradigma, antigamente não existia metralhadora hoje existe, antes significava uma coisa, agora significa outra, assim podendo reparar a trajetória, itinerário do nonsense, nonsense admirare, causando-lhes exultação com o espetáculo de vazios, aquela questão primorosa: "Devagar é que se chega lá", por conseguinte, para que a repetição para engenhar e engendrar, tudo falou da primeira dita, deixara o que não pensar, o que não dar crédito, o que menosprezar e negligenciar, a libertinagem em movimento, para que se apressar para chegar ao nonsense admirare, devagar lega o prazer do sabor, cumpre curtir com todas as dimensões, volúpia, êxtase, exultação, saber-lhes o gosto, uma cena de dementes.


O homem que surge é o in-verso do que a zombaria, se se quiser, mangofa ou escárnio, o re-vela, não é um homem destroçado, vagabundeando na praia, na serrania mineira, o antigo marca seus traços funerários; ouvindo o trinar de um pássaro que me inspira a solicitar do que trans-cende o além o forclusivo ritmo da etern-itude e no de-curso e per-curso do dia alumbro os nadas e vazios à luz interstícia e inter-dita do sublime, crio e re-crio imagens e faces do vir-a-ser, só a mim mesmo posso gerar, enxergando através da escuridão, conseguindo ver, observar, con-templar o que os outros não o fazem. Mistério. Inteligência. Sabedoria.


Quiçá, ao que se diz respeito à repetição, floreando ainda mais para a de-monstração irrepreensível da autovaloração, aquela estorieta de monsenhores e o burgo, as melancias no pescoço, "só eu posso", tornando uma breve leitura da "cena de dementes" que o mundo, desde as eternidades, é demente, é preciso engenho para conjugar os verbos, só a mim mesmo posso gerar(este deve ser um verbo defectivo, pois se conjugado na primeira pessoa, soa muito mal nos ouvidos: "eu gero", venhamos e convenhamos ao ouvir "eu me gero", que belíssimo cacófato, "me gero", não lembra megero, kkkkkk, não existe a primeira pessoa, é a partir da segunda "... tu geres", e assim não se pode estabelecer a alteridade da autocrítica, re-crio-a, re-invento-a.


(**RIO DE JANEIRO**, 27 DE SETEMBRO DE 2017)

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