#AFORISMO 190/NA EXTENSÃO ARTÍSTICA DA CRIATIVIDADE LITERÁRIA-FILOSÓFICA-POÉTICA DA INDAGAÇÃO DO SER# - GRAÇA FONTIS: PINTURA/Manoel Ferreira Neto: AFORISMO


Epígrafe:


"E as letras voltaram após um dia de exílio..."(Manoel Ferreira Neto)


Distância... Longitude...


Palavras re-festelando-se por algumas horas, devaneando-se tranquilas, serenas, deixando as coisas fluírem com espontaneidade na extensão artística da criatividade literária-filosófica-poética da indagação do Ser, merecedoras de descanso, merecedoras de se espairecerem, árduo o trabalho de significarem a vida, pés na contingência, "iis" no além. Horas já lhes são difíceis não se registrarem nas linhas brancas das páginas, no vazio das folhas, vinte e quatro horas então uma eternidade, crise de melancolia, nostalgia, saudade dos significantes, semânticas, dos tufos de cabelos arrancados, cigarros acesos um atrás do outro, embora ninguém acredite, escrever é deitar na rede, balançar, curtir o tempo. Para quem escreve Literatice e Poesice tudo é simples, uma prosa ou um poema por segundo.


A luz do sol por entre os vazios das árvores... e não ser mais que a luz do sol
por entre as árvores do vazio, dos lotes vagos, dos terrenos baldios. A manhã esfria no longínquo da planície, a neblina cobre todas as montanhas, a neve ensimesma as indagações do verbo, os questionamentos do sujeito, do Eu, os pensamentos vagueiam no etéreo. E sinto o não-sentido entrado, o não-ouvido auscultado, o não-con-templado intuído. Uma borboleta que se assenta na folha de trepadeira.


Nadas nonadas ensimesmadas de surpresas e tristezas por não haverem saídas, aquando de ausência de inspiração, a superficialidade se pres-ent-ificando, as tolices se apresentando pomposas e luxuosas... Homens admitem qualquer coisa menos a morte... mas as letras preferem os fundilhos do abismo, se nada expressam ou dizem, se sensibilizam apenas os atoleimados.


Ainda pela madrugada, acordei-me com um vozerio alto sem limites e precedentes, pensando até que isto de ouvir vozes no interior de mim transcendeu a tudo neste mundo, e eu só tenho de registrá-las, ouço-as a todas as vozes, pensando comigo próprio que estou sendo neste instante uma prévia do alvorecer, um indício da primeva luz do dia, e ouço-as para previar no sonho que vir-a-ser as sombras-luzes que se pres-ent-ificarão ao longo das circunstâncias e situações.


Amor, carinho, afeição, afetividade - quê abraço forte e apertado! Sorriso dobrado! Olhar iluminado! "Eis-nos de volta. Vamos bailar nos desejos e vontades do eterno." Semânticas, linguísticas, sentidos, significados rindo de orelhas a orelhas, quê delícia as palavras voltaram!, que sabor desejá-las novamente, querê-las, tenham entrada no conselho de paladar e o saciar os desejos da sede. As metáforas se olham de esguelha no lince do "sostalio" - tornaram-se as palavras mais experientes com o exílio de um dia, conscientizaram-se inda mais de que são necessários ensaios, "Vão nos fazer rebolar, dançando na chapa quente das dialéticas do efêmero e eterno." Contudo, as núpcias da alegria e felicidade.


Então... De início, fonemas de olhos voltados para o infinito do uni-verso à cata do primeiro registro, enfim o namoro com a lua, estrelas no silêncio da noite esvaziaram-lhes das a-nunciações do inaudito, esqueceram-lhes os verbos, érisis e iríadas do ser. Tinham o ser na própria con-templação de si mesmas. Nada lhes faltava, não eram carentes. Perfeitas e completas. Podia ter registrado a plen-itude do momento de namoro nalgum verso e estrofe, num soneto, nalguma prosa, testemunho de que são divinas. Nada de registro. Nada de romantismo de primeira fase, não são elas açúcar ou mel. O que viveram, vivenciaram só elas sabem e conhecem, a sabedoria outra que atingiram só elas sentem no mais recôndito dos interstícios nas forclusions do nada e ser. Direito delas o silêncio. Direito delas as circunspecções, introspecções. Dever nosso respeitar-lhes.


Agora só querem saber de bailar com os significados no rito da balalaika, revezada com o fado. E o universo cintila de prazer e contentamento.
Em verdade, em verdade, estavam precisando de se afastarem das linhas, curtir a poeira da estrada a perder de vista, bem se sentindo confortadas à soleira da casa circundada da natureza cintilada de brilho das estrelas e lua. Contaram-lhes que uma escritora européia deu férias aos verbos e foi passear à beira-mar, tirar fotos sentada no banquinho de mármore do calçadão da praia, no crepúsculo sentar-se na praia e con-templar o in-finitivo do além-mar, a-nunciou-lhe o desejo de passeio noturno nas margens esquerdas do Senna. Mas isto ficou para outras férias, teria de pegar o trem de Lisboa para Paris. Os verbos vieram para o Brasil, para o Rio de Janeiro, serem escritos nas mesas de bares, como os músicos fazem com uma caixinha de fósforo, tudo dá samba, registram em versos a poeira que cobre as folhas. Reencontrando-se, escrita e verbos, "aquele grande e inesquecível abraço."


A vida está tão aquém das palavras, é carente delas para se sentir no espaço poiético da busca do Ser. Ser as palavras, ser-lhes a semântica, linguística, ser-lhes o verbo e o tempo, ser-lhes o sonho do perpétuo. Homem de palavras, indivíduo de letras, criatura de sentidos, ser de esperanças.


Do nada de meu próprio espírito... Não se me apresenta outra alternativa, não se me des-vela outro caminho, não se me des-cortina outra solução senão a de quebrar a frustrada imagem de minha existência.


E as letras voltaram de um dia de exílio.


(**RIO DE JANEIRO**, 18 DE SETEMBRO DE 2017)


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