#AFORISMO 155/CANÇÃO LÍRICA QUE VELE AS ÁRIAS ANTIGAS...# - GRAÇA FONTIS: PINTURA/Manoel Ferreira Neto: AFORISMO


Canção lírica que vele os sonhos, os desejos, a vontade de conhecimento e poder, de consciência e espírito, as esperanças todas em uníssono, harmonizados todos, seguindo o rio que não tem pressa, o rio que não tem margens, o rio de águas límpidas.


Águia que atravessa o In-finito
De cabo a rabo,
Numinando com os seus olhares
O itinerário que segue e per-segue,
À mercê dos ventos,
Deliciando-se em seu próprio
Estilo de linguagem, performance e estilo de vôo e dança;


A águia continua voando sem limites e obstáculos
Por sempre, por toda etern-idade,
Outras conqu-istas de desejos, vontades,
Razões se me a-nunciam no íntimo,
No espaço de letras e idéias,
Nas constelações de imagens e sons do silêncio,
Busco o sonho de entregar-me
Inteiro aos verbos que me habitam,
Estar a liberdade em questão,
Suas conjugações defectivas ou não,
Aos sonhos que me perpassam
O corpo em sua árdua tarefa
De criação e re-nascimento.


Crio-me para envelar a minha ausência. Sou levado e aportado no topo da colina. A mais exótica e estética memória só se me a-pres-enta como um resquício de seren-itude. A mais estilística e linguística lembrança só se me aflora um real abstrato. Como apenas ec-sistem. Ec-sistem. Tudo limpo de meus retorcidos, tergi-versados desejos. Tudo como é, não como quisera. Só ec-sistindo, e todo. Assim como existe uma árvore caída na rua. Assim como as montanhas. Assim como homens e mulheres, e não eu, o ávido de ausências plenas e absolutas. Ausente-me até o itinerário próprio para encontrar a alma e afastá-la o mais possível de mim. Sinto frio intenso no olhar


Hoje, não mais, pequeno sou, sou grande,
Ando e ajo com sentimento de ser quem sou,
Até os sapatos de saltinhos de quinze centímetros,
Os famosíssimos saltinhos de agulha,
Sentem que são eles,
Dobrados, tenho os anos da vida
Nas mãos feitas concha,
Onde quer que ande
Buscas me seguem nas trilhas,
Nos caminhos do campo,
Alamedas e becos, estradas de largura mínima,
Vou construindo as veredas
Com os passos e traços que deixo
Nítidos e transparentes,
Esboços e croquis que sarapalho ao redor das margens.


O céu muito azul é. Cores das folhas verdes, cores do céu azul, vivas ou pálidas, cores da noite, hão de refletir nos meus olhos. A mesma noite, de profia com o sol, virá brincar na minha calvície. As ondas brancas de espuma do mar são mais que o mar. O cheiro do mar mistura masculino e feminino. Dar ao acontecimento a fatalidade do acaso, a marca de uma ocorrência exterior e evidente. Chega a noite, eu bem me guardo de in-vocar o sono! Não quer ser in-vocado, o sono, que é o senhor consagrado das virtudes. Pro-jectei a minha ilusão das virtudes para além do homem, tal como todos os trasmundanos. Superei a mim próprio, levei a minha cinza para o monte e inventei para mim uma chama mais clara. A breve loucura da felicidade que só o grande sofredor experimenta.


Sonhar os formatos oxigenados
De sublimidade e esperança
As contra-luzes hidrogenadas
Da sin-estesia e das sorrelfas,
De estar a cada instante de re-flexão
Ou de liberdade de sentimentos e emoções,
Desejando a poesia-“reflexo do real,
Mas um reflexo revelador”,
“O real poder olhar de frente,
Vendo coisas que normalmente não vê”
Livre pensar irrestrito,
Livre-arbítrio da beleza indizível
Num só encanto,
Num só vis-lumbre ou a-lumbre das emoções,
De suas dimensões de sensibilidade e intuição,
Numa só con-templação dos sentimentos
E sensações que abrem os solipsismos do
Ser, as entregas verdadeiras do Não-ser,
Profundeza da vaidade insensata,
Pré-fundeza das glórias viperinas,
Superficialidade do orgulho descaracterizado,
Vaidade de ser, de acontecer,
De passar a amar no de-curso e per-curso
Da vida
O fulgor da virgin-idade mental,
“... integrar o saber sensível ao
Saber racional para suprassumir a razão
Presente, elevando-a a uma razão
Não só da cabeça, mas do Ser por inteiro”.


A língua engrolada, os dedos inertes, sem tato, sem dígitos para tocar levemente, dar origem a uma letra, se se quiser, fonema, a mente de pensamentos e idéias, sem qualquer motivo de qualquer ação, sem saber como, para quê, por quê a ec-sistência e não o nada, tão sem água ou carme, tão ausente, vago. A respeito de minha intimidade fico apenas com as furtivas sensações. Jamais a nobreza do desejo intenso re-flete na sua plen-itude o testemunho do mundo. Célebre sentimento o de entrega, e ele se ausenta: de medo, vadio orlas marítimas imundas, sento-me em pedras de medo, cheiro flores de medo.


Busco em mim o ritmo de árias antigas




Despertando em mim as forças criadoras da vida,
As dimensões dos desejos de saciar a sede de conhecimento,
As vontades da verdade e da sabedoria
Profundas e eivadas de outros infinitos a serem conquistados,
Real-izo a minha íntima essência,
A essência da vida,
Artificio a minha in-audita dimensão do eterno,
O núcleo, o eidos do verbo amar intransitivo.


Atrás, um sonho se eleva ao in-finito, coro maternal de cânticos sonoros à frente, a utopia da poiésis do verso, alfim é começar no re-verso para atingir o verso verdadeiro, cântico de crepúsculo de melodias silenciosas, canção de aurora de ritmos serenos e suaves, fado de enluaradas noites de lírica romântica, trocas de dedos de prosa nos cantos, recantos, no meio da multidão, nas mesas das barracas na extensão da Praça da Cultura, forró de inverno de encontros familiares, entre amigos, conhecidos, visitantes, regados a churrasquinho e quentão, arroz com galinha, a pinguinha da roça, na nostalgia do passado, na melancolia do porvir, na poesia do momento, na poiésis do tempo, na imanência da alma, na trans-cendência do espírito, do divino e da divinidade do aqui e agora...


(**RIO DE JANEIRO**, 06 DE SETEMBRO DE 2017)


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