#AFORISMO 151/O QUE SEDUZ PARA ALÉM DA ESTESIA É MISTICISMO# - GRAÇA FONTIS: PINTURA/Manoel Ferreira Neto: AFORISMO


Fonte de um nascente misticismo. Aceitar a vastidão do que não conhecia eu - para mim aceitar requeria conhecer inda que poucochinho uma coisa. Eu que sempre temi o escuro, medo inestimável, indescritível, não me embrenharia no desconhecido. E nada conhecia dessa vastidão, ultrapassava a intuição, a percepção. A vastidão me confiava toda, com segredos de confessionário.


Estava permanentemente ocupado em querer e não querer ser o que era, não me decidia por qual de mim, todo eu por inteiro é que não podia. Ter nascido era cheio de erros a corrigir, de equívocos a desfazer, de enganos a restaurar. Mais fácil não ter nascido - por que a vida e não o nada? Tomava intuitivo cuidado com o que eu era, que não sabia o que era, com vaidade e muito orgulho cultivava a integridade da ignorância.


Quando, mais tarde, isto de querer e não querer ser o que era reverteu-se em memória e deflagrou sentimentos metafísicos no que me habitava, saber o que era e o que não era era imprescindível, era parte do sujeito, pois as aparências tem sua necessária contraparte de realidade, muitas metafísicas teriam necessidade de um douto ou sábio para serem entendidas plenamente. Quem o o douto? quem o sábio para mas tornar inteligíveis, para mas tornar compreensíveis? O douto e/ou o sábio seriam/seria os caminhos do campo, mesclados de desejos, sonhos, esperanças, utopias - e pensava que não se decifra as metafísicas, não se lhes torna inteligíveis e racionais, vive-se-lhes, patenteia a vida com elas, diria ser a bússola para o encontro do Ser.


O que é isto - deixar de lado, desconhecer os caminhos da roça, caminhos que todos trilham, seguir o próprio caminho. Abrem-se todas as palavras do ser: todo o ser quer tornar-se palavra, todo o devir quer que lhe ensine a falar. Na jornada que desferem, silentes e melancólicas, rumo da eternidade, eles apenas res-pondem (se acaso é res-ponder a mistérios, enigmas, segredos, somar-lhes um mistério mais alto: amar, depois de perder. Perdeu-se-me a integridade da ignorância, mister querer ser o que era, o amor pelos caminhos do campo iluminou as sendas e veredas. Amor é rir a um título de livro que brilha.


O que seduz para além da estesia é fonte de misticismo, os prazeres criam raízes, o que é obscuro no olhar encontra explicação, o espírito floresce na floração dos sonhos mais íntimos.


(**RIO DE JANEIRO**, 05 DE SETEMBRO DE 2017)


Comentários