#SENTIR COM A VIDA A COMPLEXIDADE DO SER# Manoel Ferreira Neto: CRÍTICA LITERÁRIA Sonia Gonçalves: POEMA CARD @@@@



POST-SCRIPTUM:
Crítica realizada há dois anos. As Letras não envelhecem, sempre atuais; então desejo lhe cumprimentar, Soninha Son,
Sonia Gonçalves
, pela Páscoa. Feliz Páscoa, querida, e que você logo, logo se restabeleça. Tudo do melhor para você! Beijos nossos!
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Aceitar, ad-mitir, con-sentir - "sentir com a vida", mergulhado nos interstícios da alma, sentir o que lhe habita, conscientizar-se de contingências, dores, sofrimentos, incertezas, dúvidas, medos, instantes de alegria e felicidade, a árdua labuta por realizar desejos, a efemeridade de todas as coisas, as moléstias psíquicas. Eis a coisa mais complicada de realizar: o con-sentimento de nós próprios, de quem somos no mundo, eivado de condições tão contraditórias. Freud diz que para vivermos bem a vida temos de aceitar a vida. Então, con-sentir o nosso estar-no-mundo com todos os problemas, carências, falhas, faltas, é que nos proporciona sonhos, esperanças, utopias, desejos, pois que somos côncios de nós.
Mas até o con-sentimento há um longo caminho de perquirições, indagações, perguntas, arrancar de nossa inconsciência o que lhe reside, mesmo deixando-lhe dilacerada, dores e sofrimentos pujantes, é o caminho de libertação, sendas e veredas de delineamentos de outras dimensões do sonho e das utopias, do encontro do Ser. Caminho de percurso longo, um estar sempre atento para o que se anuncia e revela, eivado de contradições, nonsenses, medos, artificiar, tecer a rede do Ser na continuidade do tempo.
Nesta obra poética, a escritora e poetisa Sonia Gonçalves
tece o tema da "aceitação/consentimento" da vida elencando em cada verso as dimensões do que é isto a vida, por exemplo "caminhos refulgentes, pazes e luzes", metáforas de "instantes de alegrias", "momentos de felicidade", ciência dos sonhos e utopias manifestos, mas, em contrapartida, "trilhas obscuras, ilhas de serpentes, vias cruzes", significando incertezas, dúvidas, medos, angústias, tristes, jogos da inconsciência, relutâncias, insatisfações, desesperos, problemas psíquicos sérios, doenças, dificuldades. Isto construído, elaborado, delineado em cada verso através de métaforas, metalinguagens, semânticas, linguísticas, metafísica, perfeitamente sincronizado e comungado à dimensão da poesia, da arte poética. Isto é a Vida, a dimensão da existência no mundo, no meio das coisas, dos objetos, dos homens, um complexo hermético e enigmático - "sentinela sentida", a contemplação, a observação, a in-vestigação sentida no íntimo, nos recônditos da alma, e através deste sentimento consciente advindo a consciência. A poetisa e escritora convida os homens à aceitação, ao consentimento destas realidades para a vida, é com o consentimento que outros horizontes se a-nunciam, revelam-se, enunciam-se, tornam a quotidianeidade, na continuidade do tempo mais tranquila, mais sustentável, mais leve, mas havendo neste convite algo de suma importância, isto é, a consciência da complexidade que é o existir, ser-no-mundo, estar-no-mundo, é a consciência que transforma o decurso para o encontro do Ser.
Se con-templamos com o lince do olhar as metáforas, metafísica, linguagem, estilo, a estética do poema, percebemos com clareza que a poetisa e escritora nos interstícios eidéticos do poema mostra todos os seus questionamentos e perquirições acerca de seu "fazer poético": a poesia, a literatura são re-presentações da vida e do mundo, representações do Ser e do Tempo, e toda a sua angústia se identifica com o desejo incólume e lídimo de superar e suprassumir a "representação" da Arte Poética, tornando-lhe o "dito", o "expresso" da realidade, do real, a "gnose poética". Mas as Artes são assim: pura re-presentação, puro sonho e utopia. Há dores e sofrimentos manifestos nas linhas poéticas da obra, onde a poetisa se abre in totum à busca da liberdade de realizar a Vida através da Arte Literária, Poética, quando ela se rasga interiormente para esta de-monstração.
E, se prestarmos sobremodo atenção nas suas feituras, produções poéticas encontramos diferenças de linguagem, estilo, as suas próprias inovações e renovações, neologismos, delitos de construções poéticas e poemáticas isto identifica. A dor é imensa, a dor do poeta que intenciona superar-se e suprassumir à busca da compreensão e entendimento de toda a complexidade da Vida e da Arte. Então, em princípio, o que era nas linhas poéticas, metafísicas e metafóricas um convite aos homens para aceitar e con-sentir com a complexidade, mistérios e enigmas do existir, torna-se um convite a si mesma, à poetisa e escritora, para consentir com as representações do Ser através da Arte. Mas ela consente, é cônscia desta realidade com o verso final do poema "Ávida vida", isto é, a superação e suprassunção da re-presentação da arte se faz na continuidade do tempo, na avidez de todos os seus instantes, é uma árdua labuta, mas a ESPERANÇA se mostra presente, presentifica-se.
Na trajetória da poetisa e escritora Sonia Gonçalves
, na medida em que ela experimenta o tempo, as contingências da Vida e da Arte, prova a si mesma alterando-se na proporção de seu próprio tempo e espaço e auto-criando o seu próprio destino.
Este poema de-monstra o início da apreensão do tempo e da consciência de que há um fluir da vida e da arte, que, sendo movimento e calor, é o embate do Ser e da Arte e o presenciar da contínua perquirição e investigação que a existência oculta em sua aparência.
#RIODEJANEIRO#, 03 DE ABRIL DE 2019#

 

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