CEGUEIRA DA VISÃO ENTRE O ERUDITO E O VULGAR GRAÇA FONTIS: PINTURA Manoel Ferreira Neto: PROSA @@@@


Para perene labéu e desdém dos malévolos lingüistas e gramáticos do Brasil quem recomenda a Língua Vulgar – aliás, empreendem até transformações na Gramática, tornando-as leis – e desprezam a Língua Erudita, tenho orgulho em verbalizar que a decisão deles provém de não saber distinguir com veemência se é a Vulgar ou a Erudita que estabelece a comunicação eterna.

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Vejamos!... A dimensão sensitiva da alma possui olhos, com os quais percebe e capta a diferença das coisas pelo fato indiscutível de que são exteriormente coloridas, assim a dimensão racional também tem seus olhos, com os quais capta a diferença das coisas enquanto são organizadas para um certo objetivo. Aquele que é cego dos olhos sensíveis, tenha nascido cego ou tenha perdido a visão, segue sempre aquele que o guia nos seus itinerários, bem ou mal, assim também aquele que é cego da luz do discernimento segue sempre em seu juízo a opinião corrente – a verdadeira Língua é a vulgar, pois que institui a comunicação do povão, seja correta ou eminentemente falsa. E se por acaso o guia é cego? Se o guia é cego, o guiado também o é, é evidente que terminem mal. O cego que guia outro cego inevitavelmente cairão no abismo. Este vozerio sem fronteiras se ergueu por tempos imemoriais contra a Língua Erudita. Os cegos a que me refiro, que são em número quase infinito, com a mão nos ombros desses farsantes, caíram no abismo do falso ponto de vista, de onde não conseguem se mover, estão encalacrados. A Língua é conquistada pelo hábito, experiência de falá-la, escrevê-la. Seguindo os passos de Boécio que afirma ser vã a glória popular por não ter discernimento, assim a Língua Vulgar é vã por não ter discernimento. O povão, os lingüistas, os gramáticos devem ser chamados de ovelhas e não homens, devido ao fato de que se uma ovelha se atira de um penhasco de quinhentos metros de altura, todas as outras a seguirão e se uma ovelha por algum motivo ao atravessar uma estrada ou uma rodovia salta, todas as outras saltam, mesmo não vendo nada para saltar. Já vi muitas ovelhas pularem num abismo por causa de uma que pulou dentro dele, acreditando, quiçá, que estivessem saltando uma cerca de arame ou um muro. Já vi professores de Língua Portuguesa cometerem erros crassos de gramática dentro de sala de aula, os alunos por conseguinte seguirem os seus passos na fala do dia a dia. Ainda dizem explicitamente aos alunos: “A escrita deve seguir as normas gramaticais, na fala nada disso importa, podem cometer todos os erros possíveis e impossíveis.” Então, para que estão ensinando a Gramática erudita, clássica? 

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O mau ferreiro culpa o ferro que lhe foi apresentado por a faca, ferradura não haverem ficado perfeitas e o mau guitarrista culpa a guitarra por não realizar o som desejado, acreditando atribuir a culpa da faca ruim, imperfeita e do toque errado ao ferro e à guitarra e eximir-se dela. O gramático culpa a Língua Erudita pela falta de comunicação, com a erudição não há compreensão e entendimento entre as pessoas, a Língua Vulgar é que une os homens. Para se desculpar diante da Língua Erudita acusam a matéria, isto é, o próprio idioma erudito, e recomendam a vulgaridade, criam leis e regras para ela. Quem quiser verificar essa disparidade é só dispor alguém que fale a Língua Vulgar e outro que fale a Erudita numa conversa. A vulgar morre no decurso do diálogo, a erudita adquire mais rigor e vida porque transcende o momento e o tempo, a inteligibilidade desta rompe as épocas, eras. Lembremos Cícero que criticava o latim romano e recomendava a gramática grega por razões semelhantes como essas de hoje que classificam de vil a Língua Erudita e preciosa a Língua Vulgar.   

RIO DE JANEIRO(RJ), 21 DE ABRIL DE 2021, 09:33 

 

 


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