DUPLA CONGRUÊNCIA DO ESPARSO REVISÃO GRAÇA FONTIS: PINTURA Manoel Ferreira Neto: TEXTO @@@@


           

Encontro-me a um passo de exceder os absurdos acumulados da carne, nonadas curtidas da língua à espera do milagre da amplitude, da desgraça da tagarelice insossa, de reduzir o caos impregnado nos ossos, travessias de antinomias de cinzas e sombras - uma sensação mista de culpa e profusão; há dúvidas neste concernente? Havendo, posso contribuir com muito pouco para algum esclarecimento - e nada é capaz de dominar os ímpetos de entrega, de amansar os instintos diante das luxúrias. Quero-me em nível da duplicidade carne/desejo, da ambigüidade corpo/vontade, do paradoxo desejo/fracasso, do nonsense orgulho/glória, da contradição medo/coragem, da dialética eterno/nada, e nada mais obstacularizando os ímpetos de um clímax eterno e efêmero, vutp-vapt...

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Sensações unívocas e equívocas de uma angústia, tomando as rédeas da claridade, evidência, emergem lúcidas do fosso dos desejos constantes de prazer e astúcia, da cisterna das intenções de felicidade e perspicácia. Sou um flash de sentimentos a transbordar-me, exceder-me, ultrapassar-me, e caminho consciente pelas veredas da vontade de inter-ação, vale isto sublinhar a critério, não ofereço o meu abraço a todas as gentes, uma questão de método.

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Desejo-me cúmplice de uma consciência embasada nos desejos da carne - a razão cumpriu sua elaboração na fantasia, o logos cumpriu sua organização na imaginação, o intelectus patenteou suas utopias no vazio... O edifício imaginário de espetos de pau reviu suas bases, desmoronando desejos seculares de uma vida sem raízes, simplesmente à-toa na terra, no mundo. Qualquer coisa distendeu-se nas sensações carnais, e agora sinto uma dispersão enorme de sentimentos e emoções a tomarem-me por inteiro, e sou sentido em medos e euforias.

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Inclino-me ao rés-do-chão, iniciando os passos por alamedas íngremes e viçosas das percepções de um seio viril. Os pênis duplos do desejo e da razão, desfacelados e insatisfeitos de realização, aglutinam-se e dispersam-se num diapasão sensível, e o corpo afigurar-se a dissolver-se, deixando as sensações abrirem-se.

Emoções espelhadas numa congruência fácil e espontânea de carícias e ternuras colocam-me livre e escravo de vontades nunca dantes nem mesmo fantasiadas, consciente e inconsciente de meros valores e virtudes.  O medo excêntrico dos absurdos da carne, vividos na cabeça do tempo, faz sobreviver um refúgio, faz viver uma fuga, e o homem mergulha na insatisfação ou tristeza mais que profunda, não lhe restando alternativa senão emergir-se delas com os rabos expostos e de fora. Surgida da insaciabilidade, a impetuosidade de uma lembrança de sangue a jorrar nas veias da razão, um confronto da esperança e a angústia do inominável.

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Mergulho-me fresco e volátil nas ondas do ímpeto de uma metamorfose viva, a engolfar-me, retirando-me fundo das obscuridades dos sentimentos ambíguos. Sou impetuoso, de modo a rasgar-me as vísceras dos sentimentos de ternura e carinho pelo viver o mundo. E não me resta mera coragem de vomitar as entranhas, talvez por não saber com que substituí-las a contento. Não creio que me seria suportável esta dor dilacerante do nada ter que fazer. Tanto cinismo para que é a pergunta que me faço, não sou adepto da vida exposta em bancas e prateleiras de livrarias.

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Sou uma dispersidade nos sentimentos de viver um ímpeto da carne e dos desejos, uma univocidade nos interstícios dos sentimentos volúteis de uma vida de sangue profusivo e disparatado da consciência. Até o instante presente, perambulando pelas alamedas do sensível, buscando a elucidação e entendimento, estive a envelar uma profusão enorme de tesão e desejo pelo clímax, fogo no rabo de explodir com a granada da solidão. Afigura-se-me este sentimento, úmido em seu interior, suave em suas bordas, ser uma ambigüidade amena e triste de um desejo não realizado e o viver girando assiduamente sem qualquer ponto de segurança é o único antídoto.

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Se, interiorizado e hermético nas associações á busca do entendimento dos enigmas da carne, segredos do sangue, mistérios do corpo, sinto estar esgarçando e ampliando as emoções, há um engano incorruptível e irreversível presente na sombra de uma manifestação. Se, imerso em ondas de calor e volúpia, sou trazido em nível deste desejo da carne e do corpo, as associações livres empreendem sentimentos espontâneos e suaves.

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Um vento ameno e suave surge nas antípodas de minhalma, percorrendo os labirintos das vísceras e veias. Se faz aparecer uma sensação de prazer e júbilo pelo inusitado desejo?... Se expectativa há de sentimento gélido percorrer a medula, o estremecer do corpo inteiro, refutando-lhe? Não tenho a menor noção – não é tanto melhor para mim?

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Se vivido de modo lúcido na intimidade um amor dilacerante, logo sou envolvido por um êxtase latente de dores e prazer, e sinto logo um amofinamento do corpo. Suave e contínua são a linguagem desta alegria ora surgida nos interstícios de desejos por desfrutar e estar desfrutando de mim. Há dúvidas de, se me encontro em nível de uma compreensão do minuto presente de sentimentos ou do entendimento carnal de emoções.

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Veredas lúcidas de uma consciência a habitarem-me o íntimo - surjo-me à luz do sol e o rosto inicia a ejacular um suor quente. A língua do tempo, a ofuscar-me a visão, traz-me este obnubilamento dos desejos e sou inteiro recolhido no medo. Tempestuosas carícias e ternuras vêm residir-me o peito em busca de encobrirem uma angústia de entender o medo do amor, uma agonia de compreender a resistência de amar. Nada há que lhe elucide os enigmas. Nada há que esclareça os preceitos, dogmas adelgaçados às mazelas.

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A solidão habita-me os recônditos do espírito e só encontro a sua superação no desejo de liberdade de entregar-me inteiro. Fecho-me sensível às posturas da abstração de ser indivíduo, conservando um profundo amor pela constituição das ternuras. Abro-me consciente às colocações da contingência de ser sujeito/verbo, elaborando os sentimentos ávidos de afetividade/carinho no seio de conteúdo humano.

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Impetuosa paixão pelo sentimento de viver os resultados contingentes do prazer vem surgindo saltitante pelos interstícios de olhar, buscando as sensações alegres do peito. Impulsivo amor pelas emoções de agir a alma feliz do desejo inicia-se aproximando alegre nas veredas da consciência, procurando os desejos reais do espírito. Profusivo carinho pelas ternuras de sentir o espírito alegre da árdua tarefa de instituir os caminhos do amor e da liberdade começa aflorando-se contente nos labirintos da capacidade, manifestando a calma real da linguagem.

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Ávidas carícias desta postura de ir pensando e organizando as ações em conformidade e harmonia com a esperança. O corpo, ambíguo em suas sensações de desejo, postula-me a percepção do olhar as situações antes da intuição de decidir as ações. Tempestuosos sentimentos de doação dalma e intercâmbio de carícias habitam-me fundo o seio, e sou quase uma alegria pura e prática, noves fora Kant...

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Invade-me enorme volúpia e desejo de ir residir inocente e puro nas alamedas de um amor efusivo e real. Surge-me angústia a perambular e deslizar no sangue vivo: serei apto a realizar este amor? Quisera-me lúcido e louco a tergiversar pelos labirintos nítidos e nulos de desejos. Sou felicidade translúcida a transbordar a garganta da linguagem, sons rouquenhos, intencionando inda mais a completude do corpo e sentimentos. Sou uma iminência de clímax no pênis real de prazeres, sem naipes escusos nas cartas do jogo, intencionando o gozo na vagina de desejos evidentes. Sou um gozo no pênis simbólico da consciência, reivindicando a germinação do ser homem.

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Quisera-me uma alegria da linguagem de desejos, ejaculando a completude dos prazeres, e tudo o que é elaborado são repetições de adjetivos e advérbios, quando acontece, vale sobressaltar. Sinto a nitidez de instituições, aspirando encontrar-me com a lucidez de viver. Pudera-me o retorno lúcido às perdas, re-elaborando o sujeito, fazendo a completude clara do verbo de viver a singularidade.

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Efemeriza-se a sombra tênue dos sentimentos efusivos da imensidão de viver, deixando-me perplexo e contente com as forças resolutas da completude. Evola-se o ensimesmamento frágil do sentimento de inferioridade frente às conquistas do mundo, às glórias do deserto, revelando-me um sujeito perspicaz e atento às intenções prioritárias. Seria isto de suma importância no andamento dos contra-sensos e percepções?

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Esvanece-se o clima denso de angústias instituídas no seio de um medo contundente de a vida haver sido perdida nos instantes absolutos da ociosidade, obtusos da preguiça deslavada.

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Esvaiu-se de mim a similitude das formas de abstração, buscando o instante pleno do espírito, o momento perene da alma. Habita-me a solidão implícita da esperança de uma universal formação da consciência, tornando-me os caminhos um simples modo de ir construindo os desejos de empreendimentos e lutas. A ternura excêntrica de desejos sensíveis e frágeis reside-me o peito efusivo de uma linguagem voltada para a realização de carências e a instituição da intersubjetividade.

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A meiguice diferente de conteúdos inocentes e ingênuos da alegria de ser sujeito, estilos simples e resistentes do contentamento de revelar o "sou" de mim, vem morar no íntimo, indicando-me as veredas da forma de constituição de viver. Institui-se o som nítido dos ventos suaves e frescos da felicidade de o homem inscrever a si no epitáfio dos desejos realizados. Não há quaisquer intenções de fazê-lo, manuscrever, prescrever, a pena não jorra mais tinta. Deixo-a sobre a escrivaninha, recosto-me à cadeira giratória, cruzo as pernas, trago a fumaça do cigarro, expilo-a em bolhas.

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A frescura da manhã solene de meu corpo tranqüilo nas arestas de suas sensações de gozo, mas uma inquietude solene no seio da carne. As ondas tênues de carinho e solitude por todos os estilos de amar e inteirar-me das formas de mergulhar-me no sangue efusivo da contingência humana. Simples ardências carnais nos desejos viris mergulham as satisfações plenas num mar de fluídas emoções de amar.

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Primeiros ardores da paz submergem-me num oceano frio e úmido de emanações paradoxas da felicidade. Os amores da fisionomia a resplandecerem suaves os contornos de características sempre susceptíveis de uma excêntrica metamorfose em busca do real.

Substituo as dúvidas latentes da emancipação, trilha emotiva das carícias de vontades eternas, pelos efusivos processos emancipados da latência do amor. Recupero as evidências do espírito em transbordar-me frágil e consciente no finito das emoções sentidas. Mostro a nitidez do olhar, perspicácia indubitável da formação sensível do real, identificando a profusão de eternas ternuras.

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Fósseis susceptibilidades conceituais do corpo a ejacularem sentidos e significados dalma - sou uma postulação das sensações. Veias de amores sentidos no real das reformas, abrindo o sangue quente e imanente dos "sonhos de Verbo Inteirar". Contingências testamentárias dos sentimentos insólitos surgem efêmeras da consciência, e sou manifestação ardorosa de insolências fundas. Tristes horizontes resplandecem imortais nas linhas sensíveis das posturas conscientes da elaboração emocional. Arregalam-me os olhos os universos nítidos do substantivo amor nas tábuas translúcidas da percepção e intuição. Flácidos olhares perscrutam os insolentes infernos da angústia, perpassando os liames loucos das inquietudes, soleiras impensadas das desolações, desconsolações, adelgaçando as vertentes insanas das perquirições, em perene busca do íntimo ingênuo da felicidade. Infernais concepções do belo e nítido estilo da esperança indagam-me as definições percucientes das postulações de consciência e ação nos interstícios de viver o "Amar".

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Nítido inferno resvala-me o íntimo, perpassando os recônditos sítios da intranqüilidade, trazendo-me a consciência de uma eterna necessidade de compreensão e diálogo das emoções vividas em confronto com as reveladas na fisionomia e olhar. Insolências frágeis e flácidas de uma indagação abstrata e real do sentido humano nas revelações de júbilo e prazer de enfrentar o mundo. Profundezas de mim, emergidas nas revelações fisionômicas e oculares, dizem-me a paradoxalidade perqüiridora dos sentimentos.

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Superfícies imersas nas elaborações do espírito, imergindo nos subterrâneos da ternura e insolência, dialogam lúcidas com as inscrições conscientes de um viver eterno.

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Sonos fáceis nas bordas do nada refestelam-se confortáveis, mergulhando nos interstícios absolutos da vigília. Loucuras indolentes escondem as lágrimas puras, os sorrisos inocentes, e instituem a seriedade no rosto do tempo inócuo e iníquo antes de quaisquer outros tempos inócuos e iníquos.

Manoel Ferreira Neto.

(Escrito em 1987)

RIO DE JANEIRO(RJ), 09 DE ABRIL DE 2021, 09:41 a.m.

 

 

 

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