**MIGALHAS VERDES E BRANCAS NAS ESTRADAS DE MEUS PASSOS** GRAÇA FONTIS: PINTURA Manoel Ferreira Neto: PROSA @@@@



Epígrafe:
A existência como a enxergamos, a vida quotidiana,
é um método de vir a ser.(Ana Júlia Machado)
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Há tanta leveza na palavra! Há tanta insustentabilidade no ser!
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No breve ato de sonolência, gesto pleno de calor e arte o humano desejo esculpe. Desfeita a fronteira do real, no sono dentro da pupila, no sonho que advirá dentro da retina, nos breves instantes de liberdade do in-consciente, visão noturna do inefável neste olhar feito de sonho, no con-templar feito de querências. Ainda que os passos sejam vacilantes nessa tentativa de entrelaçar linhas e entre-linhas, ideais e pensamentos, nesta trilha, escrevo rastro da história, passos da memória, sarrabisco marcas do ser à busca de outros uni-versos gerados no ventre do desafio, no seio de precursoras idéias e sentimentos, nos interstícios primevos dos desejos e querências dos valores eternos, das virtudes imortais, rabisco nuanças do tempo na travessia das circunstâncias contingências, experiências, mesmo entre-vejo dimensões trans-cendentes que me não são dadas des-crever, trans-cendem a razão e a sensibilidade.
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Quanta força existe no ideal de sonhar! Seria ou não seria que alguém pudesse estabelecer ou instituir esta força no dinâmico percurso de cada época, de cada geração?
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Seria que ou não seria que nessa brincadeira inconsequente com as linhas e entre-linhas das palavras, ditos e inter-ditos dos sentidos, obviamente nada dizendo, expressando, sem sentidos e significados quaisquer, não vou eu plantando migalhas verdes e brancas nas estradas dos meus passos. Se acaso houver quem queira, sejam suas mãos grandes para muito colherem.
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Quem tem fome, siga-me, dar-lhe-ei o pão da alma que em mim foi semeado na sedução da melodia, na música que se faz corpo, no orgasmo da magia, gozo da surpresa. Quem tem sede, siga-me, colherei na fonte água pura. No âmago do seria que ou não seria que temos que temer as res-postas que servem apenas ao instante presente, aos interesses, às fugas do aqui-e-agora, temos que amar a busca contínua da verdade, mesmo que não a conheçamos plenamente. Contornos dos sentidos voltam a fixar-se na consciência, cravam-se com a força brutal de raízes que tentam penetrar numa terra mole. Instintivamente desconfio da insistência das palavras e da precisão com que ressurge na memória o sorriso da esperança, o prazer da fé que febunda a coragem de investir na entrega de artificiar outros projectos de encontro da Liberdade de criar o Ser. “A intenção de ser é a intenção de vir a ser,
em graus divergentes de noção, em circunstâncias desiguais,
e nela existe repto, réplica, apelidar e cadastro.”
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Por devoção às dificuldades, esqueci-as. Minha necessária des-memorização - é o presente que me importa, que me fará dar outros passos com os meus pés descalços à busca de outros mundos e realidades, que me diz respeito, lutar por construir novos valores e virtudes, re-velar o novo homem que habita a semente que se encontra sendo regada nas profundezas da terra, lá onde sementes e raízes se entrelaçam e se confundem, engastanham-se e se alimentam de outras seivas do eterno, nos raios de luz das estrelas, lua e sol, o passado diz apenas de minhas fomes e sedes de sobrevivência, de minhas carências de amor e paz, de minha interesseira des-lembrança, re-versa re-cordação, diria mesmo, se entendo ser verdadeiro com o que me perpassa a razão e o intelecto, sentimentos e emoções, com o que me habita o mais profundo do íntimo, com meu ideológico esquecimento, melhor ainda, meu utópico olvidamento que se utiliza do sudário das questões abstratas para cobrir os limites e fronteiras dos olhares à con-templação das verdades in-verdadeiras, das verdadeiras in-verdades.
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As dificuldades são esquivas, tomando em consideração estarem fundadas e estabelecidas na obtusidade do nada, nadificidade do obtuso; equívocas: as dúvidas que se a-nunciam são unicamente uma fantasia para semente de outras tentativas e esforços. Diante de minha adoração possessiva poderia retrair-me e jamais voltar a cuidar delas, transformá-las em facilidades, fazê-las curvarem-se, mostrar-lhes que não é tão fácil vencer-me, sou osso duro de roer, sou cabeça dura. Se fizer o sacrifício de focar-me nisso de re-verter as entrelinhas em linhas, vice-versa, vivenciar com ímpetos, êxtases e volúpias as veredas por onde transitar, até mesmo do sertão por onde enveredar, seguirei os passos, ainda que encontre aclives e declives inúmeros, curvas fechadas – subir para descer, descer para subir, vice-versa; são os pêndulos da vida e da história -, tomando-me o fôlego, abismos indevassáveis, caminhos sinuosos, até o corpo adquirindo seus trejeitos, ficando gauche, na tentativa de vencer as dificuldades, de realizar os propósitos, de estabelecer os projetos.
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A minha vontade chega sempre como portadora de liberdade!
RIO DE JANEIRO(RJ), 17 DE ABRIL DE 2021, 12:27 p.m.

 

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