#EU VAZIO?... ESTOU É CHEIO# GRAÇA FONTIS: PINTURA Manoel Ferreira Neto: POEMA PROSAICO ***


EPÍGRAFE:

"Assim é que se faz História!"(Manoel Ferreira Neto)

***

"Pretendente, vós, da Verdade?"

"Não! Apenas artífice da palavra."

***

A verdade tem fissura pela mentira

A verdade precisa mentir descaradamente,

Mente, sabe que mente, quer a mentira...

***

Não. Só louco! Só desvairado!

Só varrido de pedra!

Só despirocado,

Proferindo discursos indecentes, imorais,

Complementos espicaçados

De injúria e demência,

Acessórios esbugalhados

De surpresa e condescendências,

Declamando falácias pernósticas, viperinas,

Recitando verborréias anti-metafísicas, anti-linguísticas,

Entabulando verbiagens de antinomias

De blasfêmias e blefes

De contra-sensos e nonsenses,

Dando gritos escalafobéticos, psicodélicos,

Por inter-médio de minha máscara de louco, alienado,

Bruto, ignorante, sem educação, agressivo, cavalo selvagem, bicho do mato,

Galgando falsas travessias de palavras

Palmilhando enganoso chão de metáforas poeiréticas,

Vagueando, devaneando, pairando sem destino

Entre uma falsa terra de gênios e doutos

E um falso céu de nuvens azuis e negras -

Só louco! Só artífice da palavra!

Sinto as metáforas invisíveis da solidão

No regaço da alma grávida de sonhos indizíveis

Perpassando de po-esias os espaços e universos

De carismas sensitivos de esplendores invisíveis,

Velejo introspectivo e circunspecto na amplidão

Perscrutando no longínquo as águas do soneto-imerso.

***

Abismos inconscientes das dialécticas genitivas,

Sublimados às trevas de grutas e cavernas do vale desconhecido,

Loucura, consumada no desvario da psique animada de volúpias, seduzida de luxúrias,

Incendiada de ambições, embruxada de ciúmes,

Embuxada de venenosas invejas, despeitos,

Alinhavados às concupiscências  e maledicências,

Salpicadas de pontos coloridos,

Medo da cor-agem, "finitivada" nas intempéries do ser e não-ser,

Cor-agem, sentida medo da alma engolfando-se em si mesma,

Sono de dormitar as defectivas inspirações do pleno

Onde residem as misericórdias trágicas do limite.

Vazio, desalmado nas facticidades do éter etéreo,

Angústia, destilada nos recônditos das in-verdades,

Tristezas, perpassadas de verborréias do eterno

Às vésperas de ser romanticamente moldado

De pectivas de pensamentos.

****

A mentira é a muleta da verdade!...

***

Oh, não!

Como a verdade andaria pelo mundo a fora

Se não se apoiasse na muleta da mentira?

Na bengala do mesmo andando a esmo,

Já que normal é sair andando normal?

A tais efígies, emblemas, ícones

Da verdade hostil,

Mais familiar com bosques de vegetação íngreme

Que com templos de climas espirituais e divinos,

Incensos para fartura e prosperidade,

Alegria, prazer, riqueza,

Contra olho grande,

Perfumando o Paráclito solitário

Na sua performance de Espírito Santo,

E de toda janela  saltando às pressas suas asas

Com felina irreverência, insolência,

Para todos os ocasos, acasos, crepúsculos,

Para todas as brumas, escuridões,

Farejando por todos os terrenos,

Correndo nas matas virgens, selvas defloradas, estupradas,

Por entre as serpentes e feras de pelos eriçados,

Rastejando, roubando, trafulhando,

Mentindo divinamente....

***

Tu que olhas o homem

Como Deus e como cordeiro,

És poeta ou alienista?

Escrevinhador de causos ou teísta?

Esquartejar o Deus no homem

Como o cordeirinho no homem

E gargalhar a bandeiras soltas,

Ao esquartejá-los.

***

Náuseas, elevadas aos auspícios da liturgia de cânticos hereges,

Mentiras, niilizadas na ampulheta do tempo impregnado de incertezas,

Tremores e temores, emergidos nos vulcões do subconsciente,

Moléstias, deificadas de glórias e louvores,

Modéstias, espiritualizadas de hipocrisias e falsidades,

Pôquer de trafulhas, divinizado de naipes da vitória e perda à luz de amplidão,

Equívocos, concebidos no inferno do "eu" a esmo de demoníacos prazeres,

Reminiscência do átimo de desolação, soada fora do tom tênue das árias,

Limite insípido, extremado no âmago das palavras,

É isto que te faz alegre, feliz, contente

Felicidade de águia e de onça,

Alegria de coruja e de corvo,

Contentamento de lobo e de cobra,

Prazer de coelho e de ovelha,

Felicidade de poeta e de varrido de vassoura,

E aquele sentimento de rejeição próprio a Gregor Samsa...

***

Assim, caí, eu próprio, outrora,

A memória inda não havia se revelado,

Da loucura da verdade,

Das minhas aspirações diurnas,

Entendiado do dia, enfastiado das horas,

Doente dos raios de luz,

Caí no rumo da noite, da madrugada sem neblina,

Sem estrelas, sem lua,

Da sombra escura...

***

Que eu seja banido, expulso, exilado

De toda verdade...

A minha bengala pelo mundo a fora

Seja apenas o vazio de utopias do nada...

***

Não querias a verdade?

Ei-la nua e crua....

Assim é que se faz História!

Rio de Janeiro(RJ), 30 de abril de 2021, 06:56 a.m.

 

 


Comentários