IMPORTÂNCIA HUMANA-EXISTENCIAL II PARTE GRAÇA FONTIS: FOTO(ARQUIVO) Manoel Ferreira Neto: TESE @@@@



POST- SCCRIPTUM:
Feliz Páscoa, minha caríssima amiga e crítica literária,
Ana Júlia Machado
, que você patenteei a sua jornada, sua vida com alegrias, satisfações, seja muito feliz, e nos traga muitas obras de sua autoria como escritora e crítica, obra inestimável, valores transbordam às pencas na leitura minuciosa, sentimentos e emoções transformam-se com a leitura de sonhos, esperanças, ideais, idéias e pensamentos da Espiritualidade.
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Querida, estive cá pensando como iria lhe dar o meu abraço de Páscoa, entraria em sua Linha do Tempo, escolheria um poema, teceria a língua de minha visão ou publicaria uma de suas obras críticas de que gostei mais? Respondi: nada disso. Vou-lhe dedicar a Introdução de minha tese em Dostoiévski, Espírito do Subterrâneo, com aquele pensamento de que ficaria feliz em lê-la, você que gosta tanto de Dostoiévski, aliás, já observei a presença dele nalguns poemas seus. Você refaz o “sentimento de solidão”, vivenciado pelo personagem de O Homem do Subterrâneo, a tradução tradicional aqui no Brasil, mas em verdade o título original da obra é O ESPÍRITO DO SUBTERRÂNEO, sem perder as características dostoiévskianas, mostrando-lhe nos tempos hodiernos o que é este sentimento, não dói na alma, dói na alma e no espírito.
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Feliz Páscoa, nossa amiga mais que querida e amada, amiga do coração, da alma, do espírito, seja muito feliz na sua vida e na sua Arte das Palavras, junto à nossa amada netinha Aninha Ricardo, à nossa Família. Beijos nossos a todos aí, especiais à nossa Aninha Ricardo.
Manoel Ferreira Neto
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Sério erro ler livros da Literatura Russa, Francesa, Alemã, e de outros países, com o espírito leve de quem busca apenas distrair o pensamento das preocupações e trabalhos de todo o dia, dores e sofrimentos da alma – livros que se encontram neste ângulo de “distração” para os leitores estão intimamente ligados aos interesses e ideologias do mercado editorial e imprensa, não é literatura.
Numa época em que os valores éticos e morais sofreram transformações, vivemos num vazio ininteligível, indecisos e frágeis diante da realidade, precisamos ainda mais das palavras, de escritores sensíveis às dores e sofrimentos, medos e angústias, com as suas palavras elevar-nos, mostrar-nos haver esperança, ela se solidifica ao longo de nossas atitudes e ações. Ainda é tempo de modificar a nossa vida, tornarmos seres humanos e homens, vivermos a nossa verdadeira vocação, a felicidade .
Os romances de Dostoïévski são verdadeiros depoimentos do estado de espírito de uma nação que, por muitos séculos, vive tiranizada por toda sorte de fatores: políticos, sociais, econômicos, morais, religiosos, etc. Por isso mesmo, há alguma coisa de simbólico na vida das grandes personagens com que o imortal romancista russo entretém o enredo e maneja os cenários.
Dostoievski se vê por toda parte. Os dramas, traumas, conflitos, dores, sofrimentos, distúrbios psíquicos retornam-lhe a imagem; mesmo como outros, se distingue e, ao mesmo tempo, revela seu mais profundo segredo. O tema inquietante do duplo, da imagem, do sósia, do assassino, do canalha, dos marginalizados, idiotas e imbecis, assassinos e suicidas, seres angelicais e demoníacos, tudo isso é encontrado em suas obras. Cada uma delas tem a estranha propriedade de ser e refletir a si mesma. Dostoievski faz surgir uma multidão fervilhante e volumosa que nos intriga, nos transporta, e se modifica em Dostoievski sob o olhar de Dostoievski.
A partir de O Espírito Subterrâneo, Dostoiévski já não se contenta em “repetir suas experiências” e em justificar-se ou explicar-se a seus próprios olhos, voltando sempre ao mesmo ponto de vista sobre os homens e sobre si mesmo. Ele exorciza, um a um, seus demônios, encarnando-os em sua obra romanesca. Todo o livro marca então nova conversão, e esta impõe nova perspectiva sobre os problemas de sempre.
Consideramos Dostoïévski o maior romancista de todos os tempos. Por quê? As razões do amor só o amor pode explicar, parodiando Pascal. Gostamos ou não gostamos de alguém, de algo. Desejamos mais ou desejamos menos. Esperamos mais ou esperamos menos. Tudo é mistério, e o mais excitante, esplendoroso, é a busca que dele, de sua vasta e profunda obra, se revela, e desejamos torná-la carne, a imagem e o símbolo das realizações que se manifestam no tempo.
Leitor algum será o mesmo, após ler qualquer um de seus romances, contos, novelas, mesmo o Diário de um escritor; apesar de conservar estilo e linguagem, renova-se a cada situação e circunstância, vivências e expressões, é onde o escritor se revela mais íntimo.
Tem Dostoievski o dom e o talento de mexer na alma humana, abri-la através de sua “pena de dois gumes”, eivada de sonhos e utopias espirituais; e o leitor, mesmo não sentindo conscientemente isso – tem ele o dom de fazer despertar a nossa sensibilidade, envelada pelos problemas, dores, conflitos, o encontro dela e isto torna-se conflituoso, é necessário aderi-las, comungá-las e isso só é possível a partir da fé, da esperança verdadeiras, o desejo da espiritualidade -, começa a sua longa jornada alma adentro, claro tomado de relutância, angústias e medos, sofrimentos e dores, pois nada sabe de si, não tem qualquer garantia do que irá encontrar pela frente.
Se nos debruçamos sobre as razões dessa inclinação, é-se possível explicá-las pela inteligência – acreditando que, sentindo pela inteligência e pelo espírito, a comunhão de ambos, aquela nos con-duz ao campo aonde serena e meditativamente vamos saciando, aos poucos, gole a gole, ao longo do tempo, situações e circunstâncias, a nossa sede de sermos quem somos, descobrindo outros horizontes e outros crepúsculos, o sonho nos habitando de modo lúcido e responsável, despertando outros e outros sonhos que nos habitam -, é-se possível revelar as preferências e os amores, os mistérios são pedras angulares do conhecimento. Para nós, os motivos claros dessa obscura e inexplicável preferência pessoal é que todo romance é vida revivida.
Quanto mais completa a vida e mais capaz um gênio humano de revivê-la, de recriá-la, e nestas revivências e recriações des-cobrir o que nos habita a alma e o espírito de desejo e vontade de liberdade e redenção, melhor será o fruto desse encontro providencial, mais delicioso será o gosto, o prazer milagroso, a satisfação divina. E quanto mais pudermos nós seguir as suas trilhas, mergulhando em nós mesmos, desejando o encontro da liberdade e redenção, melhor será a real-ização de nossa Vida.
Diz-nos Jean Genet, Diário de um ladrão, acerca da realização total:
É preciso continuar os atos até a sua realização total. Qualquer que seja o seu ponto de partida, o fim será belo. É pelo fato de não estar acabada que uma ação é infame .
O ato é belo se ele provoca, e em nossa garganta o faz descobrir, o canto. [...] Aplicada aos homens, a palavra beleza me indica a qualidade harmoniosa de um rosto e de um corpo a que se acrescenta às vezes a graça viril. A beleza então se acompanha de movimentos magníficos, dominadores, soberanos .
Quantas ações não terminamos em nossa vida por inúmeras razões, sentindo-nos infames, fracos, fracassados, causando-nos angústias e medos de não nos realizarmos, de nossa vida ter sido inútil – nada é mais deprimente e angustiante do que descobrir que a vida vivida fora em absoluto inútil, imprestável. Uma das razões primordiais dessas ações não terminadas são a falta de conhecimento e autoconhecimento, isto na modernidade, melhor dizendo, na atualidade, tornou-se urgente, visto a nossa alienação.
RIO DE JANEIRO(RJ), 03 DE ABRIL DE 2021, 15:56 p.m.

 

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