Manoel Ferreira Neto ESCRITOR E CRÍTICO LITERÁRIO RESPONDE À HOMENAGEM Nas Sendas da Criação de GRAÇA FONTIS @@@



EIS QUE NASCE UMA ESCRITORA#
GRAÇA FONTIS: PINTURA
Manoel Ferreira Neto: ENSAIO
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"Pro-jectar-se significa abrir outros horizontes, outras trilhas a serem palmilhadas."(Manoel Ferreira Neto)
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A pintora, escritora e poetisa
Graça Fontis
assume pro-jecto diferente à sua Arte da Pintura. Envereda-se pela Literatura, Prosa, Poesia.
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Se para o iniciante - quem começa a escrever, não pertencendo a outra dimensão da Arte, como ela -, escrever é angustiante, desesperador... imagine quem pertence à Pintura embrenhar-se pelos caminhos das Letras é ainda mais angustiante, desesperador, de arrancar tufos de cabelos, dar nós górdios na língua, encontrar a Linguagem, o Estilo, tornar o pensamento linguagem, a linguagem pensamento, tornar-lhes transparentes, nítidos são tarefas de Sísifo, leva-se a rocha até o cume da montanha, cujo objetivo é instalá-la no topo, mas ela rola para baixo, assim continuamente, a rocha jamais instalada no cume. Quis eu enveredar-me pelo DESENHO, cheguei a desenhar alguns croquis, que ela pintou com arte e categoria, uma aventura; conscientizei-me de que não tenho dons e talentos para a Arte Plástica, não mais retorno a esta aventura. Contudo, Graça Fontis instala a sua Arte Literária e Poética nos Auspícios da Colina, com honra e glória, escritora e poetisa incomparáveis.
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A artista não se intimida com esta travessia. Deseja realizá-la não apenas a contento, mas radicalmente. O seu objetivo sine qua non é comungar a Imagem e as Letras, arrancar da Imagem as Palavras, tornar as Palavras Imagem.
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É de ad-mirar-se a sua entrega. Nos seus textos prosaicos, quer mostrar a que vem, sua intenção fundamental. Outra vereda para esta realização não seria senão o mergulho profundo na sua sensibilidade, no seu "eu-poético", "eu-plástico". Numa con-versa nossa, após a produção de "NAS SENDAS DA CRIAÇÃO", dissera-me que, para criar um texto, ela traz tudo o que há dentro de si no momento da pintura, e isto é extremamente complexo, dá vontade de arrancar-se de dentro, é uma dor no peito sem limites, e esta passagem elucida com primor o instante da criação literária: "... à busca da razão concebível, não perecível no tempo e no devir...", talvez por este motivo ela faça uma anotação aqui, outra ali, outra acolá, no produto final ela reúne as anotações, a busca da racionalidade da prosa, não havendo alternativa senão "... deixo-me arrastar pelo indomável portento a abrigar-me nas matas brutas, caverna de prisco odor neste influxo intrépido sem que se me extravie das ondas indômitas irreverentes a emitirem uivos em desespero nas sendas da criação..."
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Diz ela que a Poesia é mais fácil de criar, é deixar os versos e estrofes nascerem à luz da sensibilidade, intuição, percepção, criatividade. Sente-se livre com a Poesia. Mas ela não quer esta liberdade, quer se sentir presa, amarrada, aguilhoada à razão, quer pensar o pensamento que pensa, quer espremer os miolos, quer a adesão do pensamento e do mundo.
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Quê metáfora esplendorosa cria para revelar como a prosa se lhe manifesta: "... São árvores, ninhos, raízes, montados no tempo, néctar dos desejos transcendendo passado, ventos e limites arquitetônicos na ressuscitação densa e casual destes instantes aflitos, impacientes..." Diz ela que não gosta de modo algum do passado, este não retorna para revisão, conserto dos equívocos e erros, não apenas curtir os prazeres, felicidade, alegria, através das lembranças, mas vivê-los presentemente. A prosa é isto mesmo e transcende a isto, vai muito além. Para mim, a prosa é uma verdadeira floresta fechada e hermética, em todas as suas sendas corre-se riscos, está-se ameaçado de todas as intempéries, o que salva de ser engolido por ela é a criatividade conciliada ao pensamento, às idéias, plagiando as suas palavras reveladoras: "... tropicália mental dos sonhos voadores".
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E para identificar com categoria esta "tropicália mental" inicia a sua jornada na Filosofia, lendo autores filósofos. Aliás, chegou a afirmar-me que desejava muito fazer faculdade de filosofia, embrenhar-se nas idéias, pensamentos. Quem lhe dera ser mais nova vinte anos, faria faculdade de Filosofia e especializar-se-ia em Nietzsche, o seu tão amado, idolatrado filósofo; ela é “mico de circo da filosofia nietzscheana...” O grande mestre é o livro, através do livro pode despontar-se mais ainda do que freqüentando faculdade, a faculdade solidifica sistemas, e filosofia não é um sistema, sim perquirições.
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Este texto é histórico, é um documento primoroso para se conhecer não só a artista-plástica, mas também a escritora, a crítica literária – vale ressaltar a sua obra-prima da crítica Literária AZ-VIANDO CAMINHOS ao meu poema ABECEDÁRIO METAFÍSICO DO VAZIO E DO NADA - uma viagem adentro a alma, a inconsciência, ao inconsciente artístico. Para se ler e entender
Graça Fontis
mister a leitura deste texto. Conheço, no real mesmo, alguns escritores e poetas de primeira viagem que não se dignaram a esta reflexão, deixando que o tempo cuidasse de mostrar-lhes o caminho a seguir. A escritora Graça Fontis não. Já se dignou a fazê-lo na criação prosaica, o que mostra o seu compromisso, responsabilidade com o pensamento, com as idéias. Jamais lhe dei qualquer dica para a sua obra, não interferi em idéia ou pensamento, deixo-lhe o caminho aberto para o encontro dela mesma, o que faço é apenas corrigir a Língua Portuguesa. Só leio o que escreve, aquando digita e envia-me para a revisão do Português. Nem chego perto dela, quando está escrevendo. Por onde passar nestas alamedas prosaicas haverá passos flexíveis, a in-ovação, a re-novação, isto é a Liberdade da Criação em questão, em jogo, à busca do Ser.
Manoel Ferreira Neto
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NAS SENDAS DA CRIAÇÃO#
GRAÇA FONTIS: FOTO/TEXTO
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Ao meu Esposo e Companheiro das Artes
Manoel Ferreira Neto
com muito amor e carinho.
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Busco-te onde és estranho, no trapézio de minhas idéias, com singular volubilidade o meu pensar, experienciando no subterrâneo do meu cérebro fascinação, persuasão, notificação, íntimas sensações, ímpetos misteriosos, páginas a virem à luz, verdades remotas no tempo a serem discernidas, exprimindo-as no presente, restaurando o passado tangível às instabilidades do momento na indelével edição da vida a cada estação, e com o caminhar prosaico na terra dos homens a sabedoria ficou prenhe nos relevos macios do coração predileto, nas lancinantes e derradeiras horas, portador da alegria a cravar as melhores imagens justificativas da minha absurda transitoriedade à busca da razão concebível, não perecível no tempo e no devir, nestes disciplinados instantes o luzir dos olhos na dourada noite voluptuosa, em frenesi insignificantes mãos intensificam traços intermitentes, castanholando figuras inéditas, desconhecidas no trânsito do além, outras lembranças de ruas quaisquer, esquinas, praças, alimentadas pelos céticos executores maléficos, dentes brilhantes e voz enternecentes no perder da noite. Já os dedos acompanham o ritmo acelerado atentos na compreensão antes que os personagens em fuga açoitem o chão dos sinuosos caminhos, terra batida com os seus cabelos volantes tornem-se aos lugares devidos, olhares astuciosos, incidindo frieza, escárnio, ora fascínio.
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Oh corpos fisionômicos estilhaçados em trânsito! Bebo-os em taças de cristal com abissais ares de reprovação e incredulidade, aquando atraída e enlaçada na velocidade dos ventos, face mordiscada por sutil sorriso, deixo-me arrastar pelo indomável portento a abrigar-me nas matas brutas, caverna de prisco odor neste influxo intrépido sem que se me extravie das ondas indômitas irreverentes a emitirem uivos em desespero nas sendas da criação à mercê do rubroso crepuscular arco-irisado; cenário incidental na formatação excedente sem domínio nesta dança no jardim oculto da vida, onde passo há passos flexíveis sobre a tropicália mental dos sonhos voadores.
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Só sonhos! Acordo, no sentido de gente dentro da gente... Não de hoje nem de ontem. São árvores, ninhos, raízes, montados no tempo, néctar dos desejos transcendendo passado, ventos e limites arquitetônicos na ressuscitação densa e casual destes instantes aflitos, impacientes, emergidos como coriscos eletrizantes a banharem o branco mundo submisso com a tecitura fantasmagórica a eternitude dos ternos amantes atingidos e tingidos pelas cores dos devaneios. Na expectativa da vida, a próxima ou a última edição! Aos vermes, não à exultação, não à consagração, no mundo que não tem dono.
(**RIO DE JANEIRO**, 16 DE ABRIL DE 2021, 19:30 p.m.#

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