#DA ARTE À MORTE✴️# GRAÇA FONTIS: PINTURA Manoel Ferreira Neto: AFORISMO ***


Permaneço olhando para o vazio com olhos semicerrados, e apenas de quando em vez beberico em uma pequena taça um gole de vinho suave para umedecer os lábios, neste final de madrugada em que a solidão e o silêncio se engastanharam para se aquecerem visto o frio estar ininteligível.

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Há um equilíbrio difícil a estabelecer entre a extensão de nós para quando já não há “nós”, "eu" e "outro", nem solipsismos, e desse “quando”, síntese do tempo e das sorrelfas do "ser", do vento e dos sibilos dos abismos da "verdade", cavernas das “certezas”, para o instante em que nos pro-jectamos. É nessa corda tensa, batida de luz cega, surrada de sombra luminosa, que uma vida perfe-{c}-ta se pode equilibrar.

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Inabitável esse meu lugar de origem, essa rarefação de mim, ar condicionado de nada e vazio do "me", ar ventilado de ausência e lapso do “eu”, é aí que se anuncia ou se gera quanto interminável problema que infindavelmente resolvo, quanta verdade última deles, face primeira, brilhante preâmbulo de epígrafes preliminares, fulgor primordial. Eis pois que, nessa dimensão absoluta, me é possível aflorar a eternidade para lá do tempo, a pura memória para lá da recordação e até da evocação, a liberdade inteira para lá do que me determina, o sagrado para lá da religião, o divino para lá dos dogmas e ideologias, puro para além da ciência, a necessidade de estar vivo para lá da Arte à Morte onde a eternidade e o póstero se engastanham para sentir o ar do espaço vazio de imagens sem cores e brilhos.

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Só então, pois, entenderei que a imortalidade se me levante como exigência inexorável e que o Mundo se erga enfim como a final justificação de tudo isso, nestas cinco horas e treze minutos da manhã de 24 de abril.

RIO DE JANEIRO**, 24 DE ABRIL DE 2021, 04:51 a.m.

 

 


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