LEGÍTIMA ATIVIDADE INTELECTUAL Manoel Ferreira Neto: FOTO ANTÔNIO CARLOS FERNANDES: MINI-ENSAIO @@@@



Post-Scriptum:
Aos 22 de setembro de 2003, no Largo da Quitanda, centro histórico de Diamantina(Minas Gerais), Boutique Cyrillo, das amigas Cyrillo, Mércia, Mariinha, Maria Hermínia, aconteceu o lançamento de meu livro de Filosofia, Alteridade do Outro em Sartre, dissertação.
O saudoso Antônio Carlos Fernandes(falecido aos 12 de abril de 2010), vulgo Toninho Fernandes, professor de História na Faculdade de História de Diamantina, escrevera este mini-ensaio sobre mim e a minha obra para ser seu discurso de lançamento do livro. Como estava em uma reunião na Associação Comercial e Industrial de Diamantina, nesta época presidindo Juscelino Braziliano Roque, amigo nosso, entregou o discurso ao nosso amigo em comum Wander da Conceição para lê-lo.
Eterna gratidão a este saudoso amigo por palavras tão sinceras e honestas sobre a minha jornada literária filosófica. As saudades dele são imensas. Um grande amigo e companheiro da intelectualidade.
Manoel Ferreira Neto
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Ao imenso volume de produções, em torno de cinqüenta mil páginas, acrescente-se o fato de que Manoel Ferreira abraçou ao longo de sua carreira intelectual uma ativa posição crítica e historicamente responsável. Vou aqui reproduzir parte do texto do excepcional Filósofo J. Chasin, da Abertura do Tomo II – Música e Literatura, Revista de Filosofia, Ad Hominem I, da Faculdade de Filosofia e Letras da UFMG, na tentativa de expressar o que representa no momento o intelectual Manoel Ferreira e a sua obra.
Chasin afirma que:
Há de atentar para o contraste entre o trabalho intelectual como atividade vital de sociabilidade e como ofício; entre atividade movida por interesses particulares e imediatos (realizada como meio de subsistência), e atividade movida por interesse humano-societária de caráter universal. Em outros termos: a atividade enquanto parte da alienação e enquanto momento ideal da atividade “crítico-prática”. Contraste que não subentende excludência entre as duas formas de atividade, mas sua articulação hierárquica, criticamente reconhecida. A segunda, a legítima atividade intelectual deve reger e ser o critério de verdade do ofício.
(...).
O professor, sem dúvida, deve ganhar para poder existir, ensinar e pesquisar, mas de modo algum deve existir, ensinar e pesquisar para ganhar, para não falar de buscar notoriedade. A exortação é ingênua, nem por isso menos verdadeira. O intelectual decai de sua esfera, tão logo sua atividade se torne para ele um meio.
O trabalho intelectual não é em primeiro lugar um meio, é um fim em si. A primeira condição ou caráter do trabalho intelectual é não ser um ofício. O intelectual que a degrada a meio material merece, como punição dessa inautenticidade interior, a falta de condições exteriores, ou seja, sua própria existência é sua pena. Tanto mais quando é de esquerda, um pretendido revolucionário. (CHASIN: 1999, P. 22).
É esse intelectual, movido por interesse humano-societário, o nosso Manoel Ferreira. De olhar ligeiro e escrita robusta, o intelectual Manoel Ferreira faz do seu trabalho intelectual um fim em si mesmo. O homem confunde-se com o intelectual, vivendo ao mesmo tempo um paradoxo crítico e angustioso. Traz para si mesmo a dor do outro. Sofre silenciosamente e devolve na forma de palavras e peças teatrais. Retrata em seus textos a ignorância e a intolerância social. Não se intimida com os falsos intelectuais de plantão, aqueles que fazem de sua atividade seu ganho, sua busca contumaz de notoriedade. Manoel despojado de todos os interesses mesquinhos do reconhecimento intelectual busca incessantemente em sua obra a libertação plena do ser humano.
Cabe aqui, entretanto, um alerta: Manoel Ferreira como um bom vinho não pode ser bebido de uma só vez. Tem que ser em pequenas doses. Deve ser consumido vagarosamente para que o buquê e o paladar confundam-se com seu próprio apetite. Como um bom vinho, deve marcar nossa refeição.
Por último, meu caro Manoel, gostaria de deixar claro que você é daqueles poucos que desafiam a compreensão do ser e discute o nada que habita entre nós. Sua busca é a vida, seu ofício é viver e amar.
#RIO DE JANEIRO(RJ)#, 08 DE ABRIL DE 2021, 08:12 a.m.

 

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