#ENTREVISTA# - PROJECTO #INTERCÂMBIO CULTURAL E INTELECTUAL#




MANOEL FERREIRA NETO ESCRITOR E CRÍTICO LITERÁRIO ENTREVISTA A ESCRITORA POETISA E CRÍTICA LITERÁRIA Maria Isabel Cunha


Caríssima Escritora, Poetisa e Crítica Literária Maria Isabel Cunha para nós é um enorme prazer recebermos você na Redação de VEREDAS E VERTENTES para uma Entrevista sobre Crítica Literária, este objeto de tremeliques e tremores de escritores e poetas.
O nosso cordial agradecimento por sua disponibilidade em conceder-nos a entrevista. Sinta-se à vontade.


Manoel Ferreira Neto: De que a crítica literária mais carece para a sua realização: a sensibilidade ou a razão? Por quê?


Maria Isabel Cunha: A crítica literária segundo o meu ponto de vista carece da sensibilidade do crítico, pois está a analisar um texto de um autor que o escreveu também movido pela própria sensibilidade de momento ou segundo um objetivo que lhe era sensível e que o desmonta segundo as suas próprias perspetivas, sensações e estados de espírito do momento ou ocasião. Ao mesmo tempo e em plano de igualdade carece da razão. Sem ponderação, sem reflexão, sem conhecimento de causa, o crítico pecaria por falta de lógica e de isenção, iria deixar-se influenciar pela sua própria visão dos factos e pela sua sensibilidade renegando o mais importante, a imparcialidade perante o que se lhe apresenta, a obra em questão, saber-lhe buscar o eidos sem obsessão de ideias ou ideais subjetivos.


Manoel Ferreira Neto: A crítica literária é fundamental para o escritor se projectar ou para se revelar com transparência?


Maria Isabel Cunha: A crítica literária é muito importante para o escritor, não para projetar-se, isso não tem qualquer importância, mas sim para revelar-se com transparência aos leitores. Só através de uma crítica literária consciente e sapiente o leitor conseguirá ver com clareza o fulcro da obra e se for realizada por crítico com maestria, servirá de guia suporte e até trampolim para o próprio escritor que, ao rever-se na crítica apresentada, ficará regozijado porque apreenderam o que pretendeu comunicar e também até para correção de um aspeto ou outro do seu discurso literário e até encadeamento lógico das ideias.


Manoel Ferreira Neto: O que é mais complexo numa crítica literária: estabelecer a mensagem da obra ou tecer a linguagem e o estilo do escritor em consonância com o eu-poético? Você mesma, após escrita uma obra, tece crítica sobre ela.


Maria Isabel Cunha: Esta pergunta traz a resposta no bojo. Tanto a linguagem, o estilo com a mensagem da obra devem ser referidas na crítica. Muitas são imperfeitas porque incompletas, apenas referem um dos aspetos acima apontados. Uma verdadeira crítica literária terá de apontar os três aspetos fundamentais para que se possa considerar crítica literária. Se a linguagem é importante porque revela a erudição do escritor, o estilo revela a sua arte, a sua maestria em lidar com a Língua, será o estilo que o irá identificar e diferenciar de outro escritor. Basta ler um excerto de certo escritor para o designar, porque estão lá todas as suas características de linguagem. Este é o verdadeiro escritor, aquele que mantém o seu estilo e o enriquece, não podendo ser imitado por mais ninguém. É também muito relevante identificar a mensagem da obra, pois é o eidos da mesma, aquela que norteou o escritor aquando a percecionou e realizou. Todas estas três regras devem ser respeitadas por um verdadeiro crítico literário que irá conjuga-las com o autor ou o eu-poético.


Eu, nem sempre teço crítica sobre o que escrevo, não me considero escritora de profissão, mas algumas vezes sim, leio e faço a minha autocrítica e quantas vezes, reparo em falhas ou até lhe encontro beleza que não tinha reparado no ato da escrita.


Na minha crítica sigo muito o grande crítico Hippolyte Taine que “procurava entender o Homem a partir de raça, meio social e momento histórico. Este pilar é fundamental para uma crítica profunda e ajuizada. O Homem é um todo inserido no meio social, político e económico, logo revela em todas as suas tarefas, condutas e arte, aqui arte literária, os aspetos da sociedade que o rodeia. Logo não podemos criticar uma obra apenas no plano subjetivo, mas aliar todas as outras condicionantes referidas acima.


Criticar é uma arte muito difícil e são necessários muitos requisitos para o poder fazer: Cultura, sensibilidade, razão, discernimento e muita abstenção do subjetivismo.


(#RIODEJANEIRO#, 07 DE JULHO DE 2018)


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