#AFORISMO 926/ “MU-GAM” AS REALIZAÇÕES E PRAZERES QUE LANÇAMOS AO FUTURO DE OUTRAS CONQUISTAS E OUTRAS ALEGRIAS# - GRAÇA FONTIS: PINTURA/Manoel Ferreira Neto: AFORISMO



"Se não houverem "senões", por que os sonhos do verbo amar, por que as utopias da liberdade, por que a entrega aos verbos do pensamento consciente?" Os sonhos do verbo amar existem porque existem os senões - não acredito que compreender e entender isto seja um nó na mente e o sentimento de ausência de in-teligência, sensibilidade. Tais conceitos varrem quaisquer sinais de capacidades mentais e as explicações são ventos que os sopram para bem distantes.


"Chamamos de “mu-ga”, o mundo somos nós e nós, o mundo. Ah, esta esperança balança aos ventos de muitos desejos e vontades; necessário renunciar à notoriedade, celebridade, personalidade, é buscar a esperança de dias e relações estarem conciliados, arte e história, cultura."


A única solidão que se pode crer nela, que realmente existe, deixando a língua inerte dentro da boca, a secura nos lábios, nos olhos, o silêncio da garganta, é quando a arte de traduzir os sonhos se torna por inteiro algo o mais insípido, o mais insosso, o mais frígido, o mais impossível de combinar imaginações e utopias, as lágrimas fáceis e as sinceridades silenciosas. A solidão do único em que nele se pode des-valorar as verdades de antanhos e outroras, deixando o pensamento ter-giversado, des-virtuado, des-conectado, separado da consciência, é quando o artista torna sua arte apenas questionamentos, fugas, indagações, hipocrisias e falsidades, não tem sensibilidade para con-templar as nuanças das in-verdades e verdades, o mais impossível de olhar as criações, in-venções, imaginários férteis, utopias e sonhos, como sendo, o significado deles, o que des-perta para a vontade de in-vestigar o mais abismático os interstícios do sublime das con-tingências, dores e sofrimentos, angústias e êxtases, tristezas e saudades...


Sem nenhuma intenção mais profunda, inicia-se nos mistérios da paixão uma alma ainda virgem, nova, inocente, ingênua, dando ao coração alguma coisa da volúpia da inveja e da voluptuosidade do egoísmo. Por que doar ao coração a volúpia da inveja e da voluptuosidade do egoísmo patenteia-se in-inteligível?


O espírito estará à espera da solidão gostosa, música no aparelho de som, encostado ao parapeito da janela de terceiro andar, olhando, sonhando, sentindo no espírito sensações que palavras não ousam pronunciar. Seria não desfrutar os prazeres de sonhos e utopias, aquando desejamos, no espírito, visão e transparência clara da relação unívoca e uníssona entre a História e os homens.


Chamamos isto a bússola de outroras. Não isto a que presenciamos, assistimos a todo instante: o passado de correntes e algemas, bússola da consciência. Tornando isso fonte de orgulho e poder, nada significará a continuidade ao longo do decurso e percurso histórico.


Ah, a música, a gaita toca esplendidamente, num volume razoável. Não faz muito relampejou fortemente. Não fora suficiente chover a noite inteira, o som das gotículas d´água forte deram origem às notas, precisaria continuar chovendo? As águas continuam a descer. Ah, que prazer sentimos no espírito: saber que não diríamos de outro modo, em quaisquer estilos a pré-serem-de-amanhã a luz do sol forte, noites frias, como convém aos habitantes de serras e montanhas, beira-mar – se cercar, é hospício, e já se encontram cercadas; se puser lona por cima, é circo, e já as relações são leitmotivs de gargalhadas e risos cínicos - senão este que iria dizer “As águas continuam a descer...”


Esperaríamos outro tempo em que as águas caíssem das nuvens, e só assim sendo autêntico; isto de lembranças e ações passadas estarem a significar os homens e suas relações, a determinar atitudes e gestos não nos satisfaz anseios de águas retornarem por vezes, em nosso espírito o desejo de novos e outros sentimentos que afaguem os desejos de, em quaisquer outroras, a imagem seja a de conciliação entre o espírito criador e o devir histórico.


Chamamos de “mu-ga”, o mundo somos nós e nós, o mundo. Ah, esta esperança balança aos ventos de muitos desejos e vontades; necessário renunciar à notoriedade, é buscar a esperança de dias e relações estarem conciliados, arte e história, cultura.


As águas continuam descendo dos céus, as ladeiras. Nós, aqui, encostado ao parapeito da janela, olhando-as. Outro trago damos no cigarro, preciso e exato.


Lembrou-nos aquando andava pelas ruas, alegre e saltitante, e com o tempo, esta alegria e saltitância tornaram-se lentas e serenas, o suficiente para descer e subir as ruas.


No peito, hoje, resta-nos dizer que as utopias continuam acesas. Algum dia iremos re-sentir esta alegria e saltitância, vendo chuvas que irão cair severamente. O corpo tranqüilo e sereno, saindo da semente das ilusões, utopias, sonhos que nos traspassam a existência amorfa por inteiro, lançando-nos de novo às ruas e alamedas, à busca, enfim, do “beco dos burgalhaus”, e descalço, saltitando na areia e no cascalho, sentir o instante da iluminação-consagração do dom gratuito de, com palavras e utopias, conciliadas a sonhos e luzes, esfalfar as quimeras e fantasias do passado, entre as tensões de correntes-algemas que começam a doer nas pernas, as algemas, nas mãos, isto identifica que a terra da liberdade está por ser construída!...


Ah, que é isto a revelação dos sonhos em palavras, chega a deixar-nos refestelar à visão da chuva e da música que, de por trás de nós, continua sendo executada no aparelho de som. Ao invés disso, acentuamos um trago no cigarro, quase no seu término, restando apenas as “bitucas” que amassamos ou deixamos apagar sozinhas no cinzeiro.


Lembrou-nos fumaça no quarto de luz apagada, o tempo de chuva, as águas caindo, e na alma a trajetória de dificuldades e lutas, vãs esperanças, vendo a rampa alagada, e somente a visão disto. Ah, não!...


O estrangeiro e solitário necessitou perfilhar as pedras de serras e montanhas à busca de utopias e sonhos, e, no tempo, realizações e prazeres, e nada espera senão que, ao longo da caminhada, as sementes nasçam espontaneamente, como tivéramos, certa vez, a oportunidade de sonhar, o importante é que tínhamos sementes nas mãos que jogávamos no chão, e, de imediato, nascia uma espécie de pé de alface, que tivemos ousadia de comer uma folha, gosto delicioso.


As que semeamos deram frutos, deliciosos, saudáveis – se, para alguns, significaram desejos de polêmicas, insultos, é que algo não estava em seu lugar devido. Outras vamos semeando, e nas mesmas circunstâncias, questionaremos de outro modo, noutro estilo e linguagem.


Águas precedem sonhos, utopias, e são elas que nos identificam, dizem-nos que o mundo somos nós e nós, o mundo; “mu-gam” as realizações e prazeres que lançamos ao futuro de outras conquistas e outras alegrias.


É verdade, há ocasiões em que lhe parece que uma enorme tristeza irá tomar-lhe por inteiro, e nestes momentos a preocupação fundamental é prestar atenção a todas as suas revelações e manifestações de aparição, cuidando de saber e conhecer o sentido misterioso e esquisito que irá estabelecer no íntimo, e, daí, a quase nada, pensa justamente o contrário, o inverso; pensa que vai receber uma notícia das mais prazerosas e que ela irá tornar-lhe o homem mais feliz do mundo, e fica alegre como um pintassilgo, quando, logo pela manhã, não importando ser inverno, primavera ou outono, entoa o seu canto maravilhoso.


Coisas de um homem que, em primeva instância, está conhecendo a sua primeira paixão. AS PALAVRAS.


(#RIODEJANEIRO#, 04 DE JULHO DE 2018)


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